BR Malls Participações SA é uma das empresas que estão vendendo dívida atrelada ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 25 de janeiro de 2012 às 10h15.
As emissões de dívidas corrigidas pela inflação estão tendo um repique no mercado brasileiro desde que atingiram o menor nível em três anos, com especulações de que os cortes da taxa básica de juros vão manter a inflação ao consumidor acima da meta do governo.
Empresas desde a administradora de shoppings BR Malls Participações SA à segunda maior geradora e distribuidora de energia do País, a Cia. Energética de Minas Gerais, estão vendendo dívida atrelada ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
Dívidas corporativas atreladas à inflação respondiam por 9,8 por cento das séries em dívida local no ano passado, o nível mais baixo desde 2008, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.
Economistas estão prevendo que a inflação brasileira medida pelo IPCA vai se manter acima do centro da meta, de 4,5 por cento, até 2015, depois que o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziu a Selic quatro vezes desde agosto para sustentar o crescimento em meio à crise da dívida europeia.
O rendimento médio dos papéis de dívida brasileiros corrigidos pela inflação com vencimento em 2017 caiu 1,15 ponto percentual desde 31 de agosto, para 5,39 por cento, elevando o preço de mercado dos títulos. Dívidas mexicanas atreladas à inflação ao consumidor com vencimento semelhante saíram no mesmo período, com os rendimentos subindo 0,04 ponto percentual.
“Nós temos percebido um interesse grande em emitir dívida atrelada ao IPCA, porque os juros reais estão baixos”, disse Daniel Vaz, chefe de mercados de capitais de dívida do Banco BTG Pactual SA, em entrevista por telefone de São Paulo. “Nós gostaríamos de vê-los caírem mais, mas historicamente eles já estão em níveis muito baixos.”
A inflação anual, que atingiu 6,5 por cento em 2011, vai cair para 5,29 por cento até o fim do ano, para 5 por cento até 2013 e para 4,64 por cento até 2015, segundo pesquisa do BC com economistas de 20 de janeiro. A inflação ao consumidor em 12 meses atingiu o maior patamar em seis anos em setembro, quando foi de 7,3 por cento. A meta do governo é de inflação de 4,5 por cento, com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo.
Mais cortes
O presidente do BC, Alexandre Tombini, baixou a Selic em 200 pontos-base desde agosto para 10,5 por cento. Segundo as negociações com contratos de juros futuros, a autoridade monetária vai reduzir a taxa básica para 9,75 por cento até maio.
O rendimento das Notas do Tesouro Nacional da série B, que são atreladas ao IPCA, vai permanecer baixo porque os investidores enxergam risco de maior inflação nos próximos anos, disse Marco Freire, diretor de investimentos em renda fixa da Franklin Templeton Investimentos, que administra R$ 1,5 bilhão em ativos no Brasil.
“A inflação será um pouco menor no curto prazo, mas maior no médio prazo”, Freire afirmou em entrevista por telefone. “Isso vai continuar por um tempo.” A BR Malls, sediada no Rio de Janeiro, planeja vender R$ 300 milhões em debêntures atreladas às variações do IPCA e do Certificado de Depósito Interbancário, segundo comunicado ao mercado de 5 de janeiro.
Procurada, a companhia não fez comentários para esta reportagem.
Oferta da Cemig
A Cemig, sediada em Belo Horizonte, planeja vender R$ 1 bilhão em títulos no mês que vem com vencimento em 2017, 2019 e 2022, de acordo com comunicado da empresa de 9 de janeiro. Os papéis com prazo de sete e dez anos serão indexados ao IPCA.
Um representante da Cemig, que pediu para não ser identificado em obediência à política interna, recusou-se a fazer comentários.
A demanda por dívida atrelada à inflação também se acelera à medida que fundos de pensão buscam alternativas de maior rendimento para elevar o retorno e honrar pagamentos, disse Everaldo Franca, consultor de fundos de aposentadoria na PPS Portfolio Performance em São Paulo.
“A cada dia fica mais difícil atingir as metas usando o juro básico da economia, eles precisam procurar outras coisas”, Franca disse em entrevista por telefone. “Ao comprar debêntures atreladas à inflação, eles aumentam o risco de crédito, mas por outro lado reduzem o risco por ter um encaixe melhor com suas obrigações.”
Perspectiva de crescimento
Julio Callegari, que supervisiona R$ 4,5 bilhões como chefe de renda fixa do JPMorgan Asset Management no Brasil, afirma que a valorização das NTN-B pode ser interrompida se uma recuperação do crescimento global levar a autoridade monetária a desistir de novos cortes de juros.
“Estou presumindo que não haverá grande pressão em termos de uma retomada da atividade econômica global”, Callegari disse em entrevista por telefone. “Aí, claro que teremos rendimentos maiores no mundo todo.”