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Disparada do dólar coloca mercado em alerta para intervenção do BC

Por mais um dia, o real é a moeda que mais perde valor no mundo

Dólar: nesta semana, o dólar acumula apreciação de 3,77% (Adrienne Bresnahan/Getty Images)

Dólar: nesta semana, o dólar acumula apreciação de 3,77% (Adrienne Bresnahan/Getty Images)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 17 de maio de 2019 às 16h20.

Última atualização em 17 de maio de 2019 às 16h21.

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - A rápida e intensa valorização do dólar contra o real nesta semana tem deixado operadores de mercado em alerta para uma intervenção do Banco Central no mercado de câmbio, embora até o momento a autoridade monetária tenha se mantido em silêncio.

"O BC pode mostrar suas mãos caso o dólar à vista salte para 4,10 reais, 4,20 reais", disse o Citi em nota a clientes. O banco aponta, contudo, que nem sempre as atuações do BC puseram fim à espiral de alta do dólar.

Procurado, o BC disse que não comentaria.

Por mais um dia, o real é a moeda que mais perde valor no mundo. Por volta de 12h50, o dólar saltava 1,38%, a 4,0931 reais na venda. Na máxima, foi a 4,1003 reais.

Na véspera, a cotação já havia subido 1,01%, terminando acima dos 4 reais pela primeira vez desde outubro de 2018.

Nesta semana, o dólar acumula apreciação de 3,77%, a mais forte desde o ganho de 4,85% da semana finda em 24 de agosto do ano passado.

Segundo um profissional da mesa de câmbio de um banco dealer, o BC ainda não fez pesquisa de demanda para swaps cambiais ou leilões de linha nessa instituição.

Profissionais relatam que a corrida por dólares é uma resposta à deterioração do sentimento sobre a perspectiva para a agenda de reformas, em meio à falta de articulação do governo com o Congresso Nacional.

O exterior mais conturbado, com o acirramento das disputas comerciais entre Estados Unidos e China, corrobora a força dodólar no Brasil. Mas profissionais do mercado chamam atenção para o desempenho mais fraco do real ante seus rivais, o que sugere fatores idiossincráticos como os principais a ditar a disparada do dólar.

"A probabilidade de o BC dar suporte ao câmbio parece estar aumentando", disse Robert Habib, do J.P. Morgan, em nota recente. Na avaliação dele, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem destacado a continuidade da política e, dessa forma, pode agir com swaps cambiais caso o real estenda sua fraqueza ante os pares.

Desde setembro do ano passado, o Banco Central tem apenas rolado contratos de swap cambial de vencimento mais próximo. A última oferta líquida desse derivativo ocorreu no fim de agosto, com venda somada entre os leilões de 1,5 bilhão de dólares.

Na ocasião, o BC explicou que as decisões visavam prover liquidez e "garantir o bom funcionamento do mercado cambial e, portanto, do regime de câmbio flutuante".

No fim do último mês de março, quando o dólar havia tocado também os 4 reais, o BC anunciou oferta líquida de linhas dedólares com compromisso de recompra, buscando colocar dinheiro novo no mercado e amenizar a pressão no dólar.

Segundo Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, o mercado tem "testado" a disposição do Banco Central para atuar. Mas ele considera a atual postura de observação da autoridade monetária como a mais acertada.

"Não adianta gastar recursos para baixar o dólar de 4,2, 4,05 para 3,98. Atuar no momento errado poderia ser um tiro no pé e puxar o dólar mais para cima", afirmou.

Por ora, o nível de volatilidade no câmbio ainda está abaixo do verificado nos picos de março, o que justificaria por ora uma postura de não intervenção da parte do BC. Nesta sexta, a volatilidade implícita nas opções de dólar/real para três meses estava em 13,9%, ante cerca de 14,2% de março.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe para o Mizuho do Brasil, diz que o "movimento de uma semana" ainda não dá argumentos para o Banco Central intervir, mas pondera que a persistência do descolamento do câmbio ante seus pares vai justificar uma investida do BC.

Segundo ele, o mercado ainda não começou a trabalhar com hipóteses de não reforma, cenário que, para o estrategista, levaria odólar a 5 reais.

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