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Disney investe US$ 30 bilhões em novos parques para manter a magia — e os lucros

Mercado aposta mais nos parques do que no streaming como motor de rentabilidade da companhia; desde a mínima de US$ 85,82 registrada em 2022, ações da Disney subiram cerca de 37%

Disney: parques viram motor de lucro e recebem maior investimento da história, com US$ 30 bilhões até 2033 (Handout / Handout/Getty Images)

Disney: parques viram motor de lucro e recebem maior investimento da história, com US$ 30 bilhões até 2033 (Handout / Handout/Getty Images)

Publicado em 21 de junho de 2025 às 13h52.

Última atualização em 21 de junho de 2025 às 13h52.

Os parques da Disney continuam a ser o motor de sucesso da companhia — e os analistas de Wall Street não têm dúvidas disso. Em meio à recuperação da empresa após anos de pandemia, eles vêem o setor de experiências como o principal impulsionador de lucros, crescimento e estabilidade.

Segundo o JPMorgan, os parques deverão continuar sendo “a maior fonte de receita e lucro operacional da Disney por muitos anos”. A análise é reforçada por projeções do Goldman Sachs, que destaca o “poder de precificação único” da empresa no setor de entretenimento físico.

A tese é simples: a Disney conseguiu transformar seus parques em ativos de alto valor agregado, mesmo diante de desafios econômicos e mudanças no consumo digital. E os números do último trimestre mostram que a aposta continua dando retorno.

Entre janeiro e abril de 2025, a divisão de parques, experiências e produtos faturou US$ 8,9 bilhões, uma alta de 6% na comparação anual, com lucro operacional de US$ 2,5 bilhões — avanço de 9%

A maior parte desse resultado vem dos parques americanos: US$ 6,5 bilhões em receita (+9%) e US$ 1,8 bilhão de lucro operacional (+13%) apenas nos EUA. Já os parques internacionais — que incluem os complexos em Paris, Tóquio, Xangai e Hong Kong — enfrentaram uma queda de 5% em receita (US$ 1,4 bilhão) e de 23% em lucro, impactados por menor demanda na Ásia.

Investimento histórico: US$ 30 bilhões só nos EUA

Para manter o crescimento, a Disney anunciou que vai investir US$ 30 bilhões até 2033 em seus parques domésticos, incluindo expansões no Magic Kingdom, Animal Kingdom, Hollywood Studios e Disneyland Resort. O plano prevê a criação de novas áreas temáticas, atualizações de infraestrutura e mais atrações ancoradas em propriedades intelectuais da empresa, como Frozen, Zootopia e Encanto.

Segundo o site oficial da companhia, esse é o maior plano de investimento em parques temáticos da história da Disney. O anúncio foi feito em setembro de 2023, durante uma conferência com investidores em Orlando. A estratégia faz parte do chamado “Parks Growth Initiative”, criado para transformar os parques em motores estruturais de receita no longo prazo.

Parte desse investimento já está em execução. A expansão da Avengers Campus no Disney California Adventure, por exemplo, deve dobrar de tamanho até 2026 e incluir uma nova atração inspirada em um multiverso de vilões da Marvel. No Magic Kingdom, está em desenvolvimento a maior ampliação do parque desde sua inauguração em 1971, em uma área nos fundos do Big Thunder Mountain Railroad.

A expectativa do mercado é alta. Segundo relatório da Goldman Sachs publicado em março de 2025, os parques norte-americanos representam “um ativo físico sem paralelo no setor de entretenimento global”, com forte poder de precificação e fidelização. A estimativa é que os investimentos gerem um crescimento anual composto (CAGR) de até 5% na receita da divisão de experiências nos próximos oito anos.

“O pipeline de atrações é estratégico e sustentado por franquias globalmente reconhecidas”, escreveu a Goldman. Já o JPMorgan afirmou em junho que os novos projetos podem aumentar o lucro operacional da divisão em até US$ 3 bilhões por ano até o fim da década, especialmente com o reforço da linha de cruzeiros e da expansão internacional.

Além das atrações em solo americano, a Disney também confirmou a construção de um novo parque em Abu Dhabi, previsto para 2028, e a ampliação de cruzeiros temáticos com a chegada do Disney Treasure ainda em 2025.

Streaming e cruzeiros: outras apostas que deram certo

A divisão de streaming, que em anos anteriores causou dor de cabeça aos acionistas, finalmente entrou no azul. No segundo trimestre fiscal de 2025, o Disney+ adicionou 1,4 milhão de novos assinantes, alcançando um total de 126 milhões globalmente. Pela primeira vez desde o lançamento da plataforma, a operação foi lucrativa, gerando US$ 336 milhões em lucro operacional, de acordo com o Hollywood Reporter.

O resultado positivo é atribuído a uma combinação de fatores: aumento no valor das assinaturas, maior engajamento com conteúdos de franquias como Star Wars e Marvel, e cortes de custos implementados ao longo de 2024. A companhia também implementou uma estratégia de monetização mais agressiva com publicidade no plano básico, o que contribuiu para o avanço nas margens.

Segundo o Wall Street Journal, o desempenho do Disney+ foi um dos principais fatores para a revisão positiva na projeção de lucro por ação da companhia, que passou de US$ 5,45 para US$ 5,75 no acumulado de 2025. “A virada no streaming mostra que a empresa conseguiu equilibrar crescimento e rentabilidade — algo que o mercado esperava há anos”, escreveu o analista Mark Mahaney, da Evercore ISI.

Outro destaque da divisão de experiências foi a Disney Cruise Line, que dobrou sua capacidade de passageiros com o lançamento de novos navios, incluindo o Disney Treasure, previsto para estrear ainda em 2025. Embora a companhia não divulgue receitas segmentadas da operação de cruzeiros, analistas apontam que essa frente será responsável por uma parcela crescente do lucro da divisão Parks, Experiences and Products até o final da década.

A nova frota permitirá que a empresa amplie rotas para o Caribe, Mediterrâneo e Ásia, com expectativa de crescimento contínuo até 2030. Segundo o CNBC, o Disney Treasure e outros navios planejados devem elevar o número de passageiros em mais de 75% nos próximos cinco anos, consolidando a linha como um braço estratégico na diversificação da oferta de experiências.

“O modelo da Disney nos cruzeiros é especialmente resiliente por combinar entretenimento, IPs de alto valor e fidelização familiar”, afirmou o banco UBS em relatório publicado em abril. A instituição projeta que a Disney Cruise Line deve representar até 10% da receita da divisão de experiências em 2030, à medida que novos navios entrem em operação e a ocupação média continue alta.

O que Wall Street espera do Mickey

O desempenho sólido da Disney em 2025 levou analistas a revisarem para cima suas projeções para as ações da companhia. Internamente, a própria Disney ajustou sua previsão de lucro por ação (EPS) para o ano, de US$ 5,45 para US$ 5,75, sinalizando confiança nos resultados e no ritmo de crescimento até o fim do exercício fiscal. A revisão ocorreu após a divulgação do balanço do segundo trimestre, encerrado em abril, que superou as expectativas do mercado.

No ambiente externo, casas de análise mantêm otimismo sobre o papel. Segundo dados compilados pelas plataformas MarketBeat e Nasdaq, o consenso entre os analistas é amplamente positivo: a Rosenblatt manteve recomendação “Buy” e elevou o preço-alvo para US$ 140; o JPMorgan reiterou seu rating “Overweight”, com meta de US$ 130; e a Loop Capital também fixou a projeção em US$ 130, com viés construtivo sobre o desempenho da empresa no segundo semestre. A média de preço-alvo entre 25 analistas acompanhados pelas plataformas é de US$ 124,04.

Entre os argumentos centrais dos especialistas está a força da divisão de experiências. Em relatório divulgado em junho, o JPMorgan destacou que os parques devem continuar sendo o maior gerador de receita e lucro da empresa "pelos próximos anos", mesmo diante da expansão da unidade de streaming. A análise reforça que, diferentemente de outras empresas do setor de entretenimento, a Disney possui maior controle operacional sobre seus ativos físicos — o que lhe confere vantagem competitiva em um cenário macroeconômico incerto.

Além disso, a projeção de continuidade nos investimentos em experiências imersivas e expansão geográfica (como o novo parque nos Emirados Árabes) amplia o horizonte de crescimento e diversificação. Para os analistas, esse conjunto de fatores justifica as metas elevadas para as ações — e consolida os parques como a âncora da performance financeira da Disney no curto e médio prazo.

Valor de mercado cresce US$ 14 bilhões em 6 meses

Entre janeiro e junho de 2025, as ações da Disney acumularam alta de 5,64%, segundo dados da plataforma Stock Analysis. O preço do papel passou de US$ 111,35 no início do ano para US$ 117,63 em 20 de junho, com pico de US$ 119,52 nas semanas anteriores. A valorização adicionou cerca de US$ 14 bilhões ao valor de mercado da companhia, que passou de US$ 198 bilhões para aproximadamente US$ 212 bilhões.

Apesar da recuperação recente, o papel ainda negocia cerca de 34% abaixo do pico histórico registrado no fim de 2020, quando a ação fechou o ano a US$ 178,97. A queda acumulada reflete os efeitos prolongados da pandemia sobre os negócios da companhia, sobretudo no segmento de parques, além dos altos custos de transição digital e investimentos iniciais no streaming.

No entanto, o movimento de recuperação é claro: desde a mínima de US$ 85,82 registrada em 2022, as ações subiram cerca de 37%, sustentadas por melhorias operacionais nos parques, retorno da lucratividade no Disney+ e uma política agressiva de expansão e inovação.

Segundo o Morningstar e a Yahoo Finance, o papel tem oscilado em uma faixa estável em 2025, com viés de alta, impulsionado por resultados consistentes, revisões positivas de guidance e otimismo do mercado quanto à execução da estratégia corporativa no segmento de experiências — hoje o mais lucrativo da empresa. Para analistas, o cenário atual é de reconstrução de valor, com forte potencial de upside se os planos de expansão forem entregues dentro dos prazos e orçamentos previstos.

AnoPreço finalVariação anual
2020US$ 178,97+25,27%
2021US$ 153,00–14,51%
2022US$ 85,82–43,91%
2023US$ 89,48+4,26%
2024US$ 111,35+24,44%
2025 (jun)US$ 117,63+5,64% (YTD)

O futuro é físico — e digital

O CEO Bob Iger tem reforçado que, apesar da relevância crescente do digital, o futuro da Disney também depende — e muito — do mundo físico. Parques temáticos, cruzeiros, eventos ao vivo e experiências imersivas conectadas às propriedades intelectuais da empresa formam o que ele chama de “moat emocional” da Disney: um diferencial competitivo quase impossível de ser replicado por empresas exclusivamente digitais.

“Estamos construindo as bases para os próximos 100 anos da Disney”, afirmou Iger em entrevista coletiva em maio, durante o anúncio de novos projetos. Segundo ele, o foco agora está em combinar a magia das histórias com experiências reais — e monetizáveis — que fortaleçam o vínculo entre marca e consumidor por gerações.

O plano de investir US$ 30 bilhões em parques domésticos até 2033 é a maior aposta da história da empresa em experiências físicas. Ele se soma à expansão da Disney Cruise Line, à construção do parque em Abu Dhabi e a outras iniciativas globais que devem manter a Disney relevante — e lucrativa — mesmo diante de um setor de mídia em transformação.

Se depender do orçamento bilionário, da demanda consistente dos visitantes e da confiança de Wall Street, esse futuro continuará sendo (muito) lucrativo.

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