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Repórter Exame IN
Publicado em 3 de julho de 2023 às 16h18.
Última atualização em 3 de julho de 2023 às 17h35.
Depois de um trabalho intenso de reestruturação e negociação com credores, parceiros e fornecedores, a companhia aérea Azul está mais perto das condições ideais de pleno voo, conta o CFO da empresa, Alexandre Malfitani, em entrevista exclusiva à EXAME Invest. Até o fim deste mês pretende emitir US$ 500 milhões a US$ 850 milhões de dívida para ter um colchão de liquidez e respirar tranquila depois de ter sobrevivido a um dos momentos mais difíceis para o setor, que combinou o impacto do isolamento da pandemia com os efeitos colaterais da guerra na Ucrânia. "Com a nova emissão, conto com um colchão de liquidez e mesmo se as coisas piorarem e se tiver outra crise, ninguém precisa ficar preocupado."
O trabalho da companhia, agora, é para concluir as negociações com os bondholders a tempo de conseguir aproveitar a janela que está se abrindo para emissão de dívida no exterior. Na semana passada, por exemplo, a estatal Petrobras testou o apetite do mercado e teve bom retorno. Em questão de horas levantou US$ 1,25 bilhão com um custo abaixo de 7%, estimado antes de colocar a oferta na mesa. De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, a emissão de dívida no exterior já está sendo estudada por mais companhias para os próximos meses, como o conglomerado industrial Cosan.
E as indicações, afirma Malfitani, são de que também não vai faltar apetite para a emissão da Azul. "Nas negociações para rolagem da dívida, vários holders já sinalizaram que tão dispostos a participar da nova emissão", conta. Na última quarta-feira, 28, a empresa reportou que já contava com 86% dos bondholders favoráveis ao prolongamento do vencimento dos títulos de dívida, na casa de US$ 1 bilhão - os vencimentos, antes para 2024 e 2026, ficaram para 2029 e 2030.
Pouco depois de a empresa anunciar, no começo de junho, que, até então, 65% dos bondholders tinham aceitado prolongar o pagamento, a agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou os ratings de inadimplência da Azul para 'C(bra)', mas destacou que o fluxo de caixa operacional da companhia deve melhorar em 2023.
"Apesar do operacional estar bem novamente, muito do nosso dinheiro estava indo para pagar dívida da covid-19. Se a gente continuasse como estava, ia faltar dinheiro este ano." Além da negociação com os bondholders, a empresa já tinha negociado com 95% dos arrendadores de aeronaves, que correspondem a uma das principais linhas de despesas das companhias aéreas.
Basicamente ela usa a mesma estrutura de colateral usada na oferta de troca de títulos da dívida. A Azul está segregando os fluxos de caixa de suas operações do seu programa de fidelidade TudoAzul e da agência de pacotes de turismo Azul Viagens e dando esses fluxos como garantia para a oferta. A empresa chegou a estudar a emissão de uma dívida conversível em ações, mas diante da baixa demanda dos credores por uma emissão do tipo, a opção foi por seguir por uma dívida com garantia.
Neste caso, quem entrar na nova emissão, fica como "first lien", tendo prioridade para receber os recursos das garantias. Na sequência, a prioridade é dos bondholders que aceitaram trocar a dívida de 2024 por dívida de 2029 e dívida de 2026 por dívida de 2030.
"A princípio, queremos fazer essa nova emissão na segunda metade de julho, mas a gente vai olhar como está acontecendo de mercado. Já tem bastante gente, holder ou não, que já levantou a mão e falou que estava interessado. Os fatores estão confluindo de uma maneira muito boa, né? A gente já estava com essa visão de que seria um bom momento para fazer missão no final da nossa reestruturação e o fato de o mercado estar melhorando nos faz pensar que acertamos bem o 'timing'."
Azul está confiante no avanço da operação em 2023, que deve alcançar Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) R$ 5,5 bilhões, conforme a oferta de assentos cresce 14%. Com essa geração de caixa, a perspectiva é de que a alavancagem hoje em 5,2 vezes chegue a 3,5 vezes ao fim deste ano e a 3 vezes no fim de 2024.
Com 160 destinos voados, a empresa vê potencial para 200 destinos no Brasil. Os mais recentes lançamentos, no entanto, foram voos internacionais, para Paris e Curaçao. Nova York, que estava nos planos antes da pandemia, ficou para depois - possivelmente em 2025. "A maior parte do crescimento vemos no Brasil. São destinos mais São Gabriel da Cachoeira do que Milão. O que conseguimos explorar bem é o regional", explica o diretor financeiro. A recente queda do dólar e a possibilidade de recuos no preço do combustível devem ajudar a companhia a aumentar a oferta de voos à noite e nos fins de semana, o que permite tarifas mais baixas para as passagens.
As estimativas de Ebitda também podem melhorar. Isso porque foi aprovada a MP que zera as alíquotas do PIS e da Cofins sobre as receitas obtidas pelas empresas de transporte aéreo regular de passageiros no período de 1º de janeiro de 2023 a 31 de dezembro de 2026. Azul diz que conseguiu economizar cerca de R$ 250 milhões desde janeiro até maio.