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Diminui otimismo com real após corte de juros minar confiança

Investidores estrangeiros estão ficando mais pessimistas e revertendo suas apostas no mercado de dólar futuro

O corte inesperado da Selic levou o real a uma queda de 4,1% neste mês, a maior entre moedas de mercados emergentes  (SXC.hu)

O corte inesperado da Selic levou o real a uma queda de 4,1% neste mês, a maior entre moedas de mercados emergentes (SXC.hu)

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Da Redação

Publicado em 8 de setembro de 2011 às 10h58.

Nova York e São Paulo - Investidores estrangeiros estão ficando mais pessimistas em relação ao real pela primeira vez em oito meses e revertendo suas apostas no mercado de dólar futuro. A mudança de humor é reflexo da redução inesperada da taxa básica de juros, após outros esforços do governo para enfraquecer a moeda.

As posições compradas em dólar na BM&FBovespa SA superaram as posições vendidas em 114 em 5 de setembro, segundo dados da bolsa. O total subiu para 9.776 no dia 6 de setembro, o maior número de apostas em desvalorização do real desde junho de 2010.

O Brasil se uniu à Turquia em 31 de agosto, tornando-se o único entre os países do Grupo dos 20 a baixar os juros nos últimos dois meses, depois de adotar impostos sobre derivativos para conter a alta de 40 por cento do real desde o final de 2008 e estimular o crescimento. O corte levou o real a uma queda de 4,1 por cento neste mês, a maior entre moedas de mercados emergentes, ao diminuir o prêmio dos rendimentos da dívida local sobre os dos títulos do Tesouro americano para o menor nível desde outubro de 2009.

“Quando você corta juros, você torna a moeda menos atraente”, disse Tulio Vera, estrategista chefe da Bladex Asset Management, em entrevista por telefone de Nova York. “É um efeito colateral com o qual o governo brasileiro provavelmente está muito feliz. O objetivo aqui é promover o crescimento em detrimento da inflação.”

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reduziu a taxa Selic em meio ponto percentual, para 12 por cento, apesar de a inflação acumulada em 12 meses ter se acelerado para o maior patamar em seis anos, de 7,23 por cento, em agosto, superando a meta do governo pelo quinto mês seguido.

Vantagem de rendimento

Todos os 62 economistas consultados pela Bloomberg esperavam que o BC manteria os juros inalterados, enquanto operadores previam uma redução de 0,25 ponto percentual. No comunicado que anunciou a decisão do Copom, o BC disse que uma “substancial deterioração” na economia mundial pode prejudicar o crescimento do País.


As Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2013 rendem 10,79 por cento, ou 10,6 pontos percentuais acima do que pagam os títulos do Tesouro dos EUA com prazo semelhante, segundo dados da Bloomberg. A diferença nos rendimentos diminuiu em relação aos 12,5 pontos percentuais em que estava no final de julho.

O dólar atingiu R$ 1,6668 em 6 de setembro, o maior valor desde março. A moeda atingiu a menor cotação em 12 anos, de R$ 1,5290, em 26 de julho.

‘Bom antídoto’

Desde outubro, o governo triplicou para 6 por cento o Imposto sobre Operações Financeiras sobre compras de dívida por estrangeiros, elevou o custo de empréstimos externos por empresas locais e restringiu as apostas dos bancos contra o dólar para conter a alta. Em 27 de julho, o governo impôs uma alíquota de 1 por cento de IOF sobre os derivativos de câmbio, provocando uma queda de 1,1 por cento do real, a maior em dois meses.

O Ministro da Fazenda Guido Mantega, que no ano passado acusou os EUA, o Japão e a Europa de provocarem uma “guerra cambial” ao manterem juros perto de zero, disse em 2 de setembro que a queda da taxa básica é um “bom antídoto” contra os ganhos do real.

A Turquia reduziu sua taxa de juros referencial em meio ponto percentual para 5,75 por cento em 4 de agosto, seu terceiro corte desde dezembro, apesar de a inflação ter superado a meta do banco central. A lira turca desvalorizou-se 13 por cento em relação ao dólar desde a redução dos juros em 16 de dezembro, o maior declínio entre as moedas dos países em desenvolvimento. O custo para se proteger a dívida turca contra o default por cinco anos subiu para 232 pontos-base, contra 134 em 16 de dezembro, o maior avanço entre mercados emergentes, mostram os preços de CMA.

“Eu diria pro Mantega: cuidado com o que você deseja, porque isso aconteceu na Turquia”, disse Win Thin, chefe global de estratégia de câmbio para mercados emergentes na Brown Brothers Harriman & Co., em entrevista por telefone de Nova York. “Eles estavam tentando enfraquecer a moeda e de repente as pessoas perderam a confiança. Não estou dizendo que o Brasil já está nessa situação, mas está seguindo o mesmo rumo.”

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