Mercados

Dilma ganha Moody’s com economia de R$ 47 bi em juros da dívida

Para cada ponto percentual que a juro cai, o custo da dívida atrelado à Selic cai R$ 10,4 bilhões para o ano seguinte

Corte na Selic está ajudando a presidente Dilma Rousseff a ganhar a confiança das agências de risco Standard & Poor’s e Moody’s (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

Corte na Selic está ajudando a presidente Dilma Rousseff a ganhar a confiança das agências de risco Standard & Poor’s e Moody’s (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de maio de 2012 às 10h31.

Brasília - A estimativa de que a redução na taxa básica de juros pode ajudar o governo a economizar cerca de R$ 46,8 bilhões em serviço da dívida está ajudando a presidente Dilma Rousseff a ganhar a confiança das agências de risco Standard & Poor’s e Moody’s Investors Service Inc.

A dívida atrelada à taxa básica de juros, Selic, responde por 27 por cento dos R$ 1,78 trilhão da dívida pública local, segundo dados do Tesouro Nacional. Para cada ponto percentual que a Selic cai, o custo da dívida atrelado à Selic cai R$ 10,4 bilhões para o ano seguinte, disse o Banco Central em abril. Operadores estão apostando que o Comitê de Política Monetária vá reduzir a taxa básica de juros para uma mínima histórica de 8 por cento este ano, depois que cortá-la em 3,5 pontos percentuais desde agosto para os atuais 9 por cento ao ano.

Moody’s e S&P dizem que as reduções dos juros devem fortalecer as finanças do Brasil num momento em que os investidores estão desprezando o real e comprando títulos atrelados à inflação, reflexo do receio de que a estratégia de Dilma para reaquecer a economia eleve a inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, acumulado em 12 meses caiu para 5,1 por cento, menor nível em 19 meses. Ainda assim, o índice está desde setembro de 2010 acima do centro da meta do Banco Central.

“Parece provável que a taxa se mantenha abaixo de 10 por cento, como se uma nova referência estivesse sendo definida”, disse Mauro Leos, analista-chefe para o Brasil na Moody’s, em entrevista por telefone de Nova York. “Um menor nível de juros é positivo para o governo, assumindo que possa ser mantido e não provoque inflação. É positivo para a avaliação de crédito do país.”

Juro "inaceitável"

A classificação de risco Baa2 do Brasil na escala da Moody’s e a nota equivalente BBB na escala da S&P representam o segundo menor grau de investimento. A Moody’s tem perspectiva positiva para o Brasil e planeja revisar essa posição no segundo semestre, Leos disse.

Investidores ampliaram suas estimativas para a permanência do juro básico abaixo de 10 por cento após Dilma ter reduzido a remuneração obrigatória das novas cadernetas de poupança em 3 de maio. A medida dá ao BC espaço para baixar mais os juros sem que o rendimento dos títulos de renda fixa fique inferior ao da poupança, o que desviaria recursos da dívida pública e corporativa para as cadernetas.

Em 3,9 por cento, o juro ajustado pela inflação do Brasil é o segundo maior do Grupo dos 20, depois do da Rússia, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Dilma afirmou em 1º de maio ser “inaceitável” que o Brasil tenha os juros mais altos do mundo.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou em comunicado em 9 de maio que a instituição tem “total autonomia” sobre as decisões de juros.


Representantes do Ministério da Fazenda e do BC se negaram a fazer comentários para esta reportagem.

Perspectiva de inflação

Os cortes de juros, que diminuíram a atratividade dos ativos de renda fixa no mercado doméstico, e os esforços do governo para proteger a indústria local deflagraram a queda de 13 por cento do real em relação ao dólar nos últimos três meses, a maior desvalorização entre moedas de mercados emergentes.

A inflação implícita medida pela diferença de rendimentos entre os títulos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo com vencimento em 2015 e os títulos prefixados de prazo similar subiu 31 pontos-base, ou 0,31 ponto percentual, na semana passada para 5,82 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A lentidão do crescimento global vai ajudar a conter a inflação no Brasil, disse Sebastian Briozzo, um diretor da S&P.

“Forças externas vão contribuir mais para desacelerar a inflação do que para acelerar”, disse Briozzo em entrevista por telefone de Buenos Aires. “O juro alto era uma tarefa pendente para o Brasil. Se isso mudar, deve ter impacto na classificação de risco no longo prazo.”

"Bruxaria"

Para Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, a aposta do governo para impulsionar o crescimento econômico vai alimentar a inflação, levando o BC a elevar os juros no ano que vem.

A economia brasileira se expandiu 2,7 por cento no ano passado, o segundo pior desempenho desde 2003 e menos do que a Alemanha, que cresceu 3 por cento, e a Suécia, que cresceu 4 por cento. O crescimento brasileiro vai se acelerar para 3,23 por cento este ano, de acordo com a estimativa mediana numa sondagem do BC com cerca de 100 economistas publicada em 7 de maio.

“Se essa bruxaria que o governo está praticando funcionar, o Brasil vai ter déficit orçamentário zero enquanto o mundo tem déficits de dois dígitos”, disse Rosa em entrevista por telefone de São Paulo. “Para mim, vai terminar em inflação mais alta.”

O IPCA vai subir 5,56 por cento no ano que vem, acima do centro da meta de 4,5 por cento, de acordo com a pesquisa do BC. A meta varia de 2,5 por cento a 6,5 por cento.

Acompanhe tudo sobre:Agências de ratingCopomDilma RousseffEstatísticasGoverno DilmaIndicadores econômicosJurosMercado financeiroMoody'sPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos TrabalhadoresSelicStandard & Poor'sTítulos públicos

Mais de Mercados

Por que a China não deveria estimular a economia, segundo Gavekal

Petrobras ganha R$ 24,2 bilhões em valor de mercado e lidera alta na B3

Raízen conversa com Petrobras sobre JV de etanol, diz Reuters; ação sobe 6%

Petrobras anuncia volta ao setor de etanol