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Desvalorização do iuane é faca de dois gumes para China

A tensão comercial com os Estados Unidos e a queda do iuane favorece as exportações chinesas, mas é nocivo para a estabilidade financeira do país

Trump criticou a queda livre do iuane e acusa a China de manipular sua moeda para atacar a competitividade nos EUA (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

Trump criticou a queda livre do iuane e acusa a China de manipular sua moeda para atacar a competitividade nos EUA (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

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AFP

Publicado em 9 de agosto de 2018 às 11h27.

A desvalorização do iuane dá uma ajuda bem-vinda aos exportadores chineses em plena guerra comercial com os Estados Unidos. Mas é um quebra-cabeças para Pequim, temerosa de uma desestabilização financeira, que tenta conter o enfraquecimento da moeda.

Entre meados de junho e começo de agosto, a moeda chinesa caiu 7%. Na segunda-feira, um dólar valia 6,85 iuanes, seu nível mais baixo desde maio de 2017.

O presidente americano, Donald Trump, criticou a "queda livre" do iuane e acusa a China de "manipular sua moeda" para "atacar a competitividade" nos Estados Unidos, o que o regime comunista nega.

A queda do iuane tem um efeito positivo para os exportadores, pois torna seus produtos mais baratos no exterior - em um contexto difícil com as tarifas dos Estados Unidos sobre bens chineses.

Além do barateamento, o iuane fraco "favorece a concorrência", explica Julian Evans-Pritchard, da consultoria Capital Economics.

É uma incógnita se Pequim voluntariamente manipula sua moeda, como acusa Trump.

O iuane não tem conversão livre e pode flutuar apenas até 2% frente ao dólar, em relação a um curso fixado diariamente pelo Banco do Povo da China (PBOC, Banco Central). A instituição garante, contudo, levar em conta as tendências do mercado.

Segundo os analistas, a queda atual da moeda chinesa é explicada pela pressão dos investidores e é um reflexo da preocupação do mercado frente à guerra comercial e à expectativa dos investidores com uma "flexibilização monetária" do PBOC para estimular a economia, confirma Dariusz Kowalczyk, da Crédit Agricole.

Em julho, porém, as autoridades decidiram "claramente não impedir a queda do iuane", garante o especialista.

A posição do Banco Central é ambivalente, mas, de acordo com Oliver Jones, da Capital Economic, "seria falso pensar que não está preocupado" com a queda da moeda.

Dilema

Na sexta-feira, o PBOC aumentou drasticamente seu nível de reservas para apoiar o iuane.

Sua queda representa um dilema para o governo chinês: por um lado, favorece as exportações; por outro, é nocivo para a estabilidade financeira do país.

O iuane fraco provoca, automaticamente, o aumento de preços de produtos importados, agravando o impacto das tarifas em resposta às medidas dos Estados Unidos. Isso ainda amplia a dívida em dólares das empresas chinesas.

"Se houvesse taxas de juros mais altas nos Estados Unidos, com a valorização do dólar, isso levaria os investidores chineses a aumentar seus investimentos em dólares, mais lucrativos", explica David Qu, analista da ANZ.

"E, caso se perca a confiança, as pessoas venderão seus ativos em iuanes, ações, bens imobiliários, e alguns setores vão sofrer", exemplifica à AFP a economista de Xangai Ye Tan.

Para evitar esta situação, o governo chinês poderia optar por "fechar a porta" para as movimentações de capital, indica a economista, embora lembre que ainda "não há pânico".

A queda prolongada da moeda chinesa pode "descarrilar as ambições econômicas de Pequim, suas reformas financeiras e a internacionalização do iuane", segundo Christy Tan, analista do National Australia Bank citado pela Bloomberg.

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