ESG

Desmatamento piora nota de crédito das empresas brasileiras, diz estudo

Segundo pesquisadores da London School of Economics, exportações de matérias-primas do País estão ameaçadas por causa de política ambiental frouxa

Desmatamento; Queimadas; Incêndio florestal; Amazônia (Ricardo Funari/Getty Images)

Desmatamento; Queimadas; Incêndio florestal; Amazônia (Ricardo Funari/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 15 de julho de 2020 às 13h59.

Última atualização em 15 de julho de 2020 às 14h20.

Em meio à pressão de fundos estrangeiros sobre falhas na política ambiental do governo brasileiro que permitiram, entre outras coisas, um aumento no ritmo de desmatamento da Amazônia em 2020, uma das universidades mais respeitadas por capitalistas mundo afora, a inglesa London School of Economics (LSE), alerta: derrubar a floresta pode trazer riscos financeiros ao Brasil.

Num estudo realizado pela LSE e o Planet Tracker, centro de estudos voltado para questões climáticas. Mais de um terço (34%) dos títulos soberanos brasileiros estão expostos a uma intensificação das políticas climática e anti-desmatamento.

De acordo com o estudo, “as agências de classificação de crédito estão aprofundando seu foco no vínculo entre o desempenho dos títulos soberanos e os critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês)”. Por serem os países mais dependentes de capital natural para suas exportações, Brasil e Argentina são os que mais têm a perder com essa mudança na avaliação dos títulos. 

“O valor dos títulos soberanos depende, em parte, da gestão do capital natural pelos países em questão. No entanto, essa dependência ainda é amplamente ignorada ou mal avaliada nos mercados de títulos soberanos”, afirma a pesquisa. 

Diante deste cenário, os emissores de títulos soberanos estão diante de duas escolhas. A primeira é seguir o caminho “high road”, ou seja, do alinhamento com os novos padrões ambientais. Nesse caso, os países “protegem e aprimoram ativamente os benefícios do capital natural, e reforçam os fundamentos ambientais de títulos soberanos”. 

A segunda opção é seguir a direção do “low road”, no qual os modelos tradicionais prejudicam os fluxos de serviços ecossistêmicos, aumentam a vulnerabilidade a desastres naturais e intensificam os riscos de mercado. Este cenário, potencialmente, trará prejuízos ao País. 

Os títulos soberanos são uma das maiores classes de ativos, com um valor global de 66 trilhões de dólares. O estudo alerta que eles também são uma das classes mais sistêmicas, pois “capturam uma variedade de fatores macroeconômicos, influenciam a precificação do mercado de capitais e a estabilidade do sistema, e são ativos essenciais para instituições financeiras”.

Ex-ministros: meio ambiente definirá PIB do Brasil nos próximos 20 anos

Ontem, um grupo de ex-ministros e ex-presidentes do Banco Central divulgou uma carta alertando para os riscos de o Brasil ficar fora da economia de baixo carbono. Entre eles estão os ex-ministros da Fazenda Henrique Meirelles, Joaquim Levy, Maílson da Nóbrega, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Zélia Cardoso de Melo; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; e os ex-presidentes do BC Alexandre Tombini, Armínio Fraga, Gustavo Loyola e Ilan Goldfajn. 

“Convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as atividades econômicas e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil. Dependendo do cenário climático que iremos encontrar, os custos de descuidar de eventos climáticos com repercussões sistêmicas poderão ser bem maiores do que os da atual pandemia”, escreveram.

Eles listaram quatro pontos essenciais para que o país insira o meio ambiente na sua política econômica: alcançar a economia de baixo carbono, zerar o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, aumentar a resiliência climática, Impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias (veja a carta na íntegra no fim do texto).

Os potenciais efeitos calamitosos que a mudança do clima pode causar à estabilidade financeira, ressaltam, já têm levado bancos centrais e mercados financeiros a internalizar os riscos climáticos em suas análises macroeconômicas. A tendência está cada vez mais enraizada no funcionamento dos mercados de capitais.

Pressão internacional

O apelo se soma ao de empresários e investidores que pediram recentemente ações para barrar o desmatamento na Amazônia.

Há duas semanas, 29 instituições financeiras que gerenciam mais de 3,7 trilhões de dólares em ativos enviaram uma carta a nove embaixadas brasileiras dizendo que o Brasil precisa frear as queimadas, sob risco de alimentar “uma incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil.”

“Nós precisamos desse capital estrangeiro e ele tem ido embora”, afirma Gustavo Pimentel, diretor da Sitawi, especializada em investimentos de impacto. “No momento em que o governo fala sobre um plano de investimentos em infraestrutura em parceria com a iniciativa privada, não pode enviar mensagens trocadas.”

Em reação aos apelos, nesta segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse durante evento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que o Brasil deve avançar em iniciativas para preservar o meio ambiente, mas voltou a criticar “falsas narrativas”

“Se há excessos e há erros, corrigiremos. Não aceitaremos o desmatamento ilegal, a exploração ilegal de recursos”. Até então, Guedes vinha evitando admitir que há melhorias a serem feitas na área ambiental, culpando críticas internas e interesses protecionistas.

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