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Desinteresse estrangeiro põe em risco estímulo a debêntures

As emissões de debêntures caíram para R$ 2,5 bilhões no mês passado, contra R$ 6,9 bilhões em abril

O avanço da crise da dívida na Europa e as medidas do governo para enfraquecer o real deixaram os investidores mais cautelosos com as aplicações em debêntures agora (Stock Exchange)

O avanço da crise da dívida na Europa e as medidas do governo para enfraquecer o real deixaram os investidores mais cautelosos com as aplicações em debêntures agora (Stock Exchange)

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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2012 às 08h24.

São Paulo - A primeira oferta de dívida corporativa brasileira direcionada a investidores estrangeiros não está conseguindo atrair aplicações de fora. O fracasso na operação ameaça a tentativa de expandir o crédito de longo prazo no país e financiar R$ 955 bilhões em infraestrutura.

A Concessionária Rodovias do Tietê SA suspendeu uma emissão de R$ 650 milhões em debêntures de 12 anos que faria no mês passado, com a isenção de Imposto sobre Operações Financeiras de 6 por cento para estrangeiros.

As emissões de debêntures caíram para R$ 2,5 bilhões no mês passado, contra R$ 6,9 bilhões em abril, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. No México, as empresas captaram 16 bilhões de pesos (US$ 1,1 bilhão) no mercado local em maio, em comparação com 400 milhões de pesos em abril.

O avanço da crise da dívida na Europa e as medidas do governo para enfraquecer o real deixaram os investidores mais cautelosos com as aplicações em debêntures agora, disse Henrique Catarino, chefe da área de distribuição e vendas internacionais de renda fixa do Banco Votorantim SA.

“Tem que ter um mercado global com menos tensão”, disse Catarino em entrevista por telefone de São Paulo. Investidores “têm que ter um pouco menos de preocupação em relação ao que está acontecendo lá fora, para olhar com mais tranquilidade para essa novidade que a gente tem no mercado local.”

A Rodovias do Tietê, sediada no estado de São Paulo, tinha planos de vender as debêntures a uma taxa de 8,75 pontos percentuais acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, de acordo com reportagem do Valor Econômico que não citava a fonte da informação. As Notas do Tesouro Nacional série B -- que são atreladas ao IPCA -- com vencimento em 2024 rendem 4,58 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Remoção do IOF

A assessoria de imprensa da Rodovias do Tietê não quis fazer comentários para esta reportagem.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, retirou o IOF sobre os lucros de estrangeiros em debêntures ligadas a projetos de infraestrutura. A medida foi parte do esforço do governo para diminuir a dependência das empresas em relação aos empréstimos subsidiados dos bancos estatais e para desenvolver um mercado privado para obtenção de financiamentos de longo prazo.

O governo agora pretende estender o benefício fiscal a títulos de longo prazo voltados para o pagamento de dívidas ou para projetos de infraestrutura, disse o secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda Dyogo Oliveira em entrevista em 28 de maio. As novas regras devem ser lançadas em cerca de dois meses, disse ele.


"Desvalorização acentuada"

O governo não vê problemas em ampliar medidas para estimular investimentos, disse o Ministério da Fazenda em resposta a perguntas da reportagem. Incentivos fiscais para estimular o financiamento de longo prazo geraram grande interesse de investidores, disse o Ministério.

Com o aumento dos esforços do governo para proteger a indústria local, o real se desvalorizou 9,6 por cento este ano para R$ 2,0645 por dólar, marcando o pior desempenho entre as 25 moedas de mercados emergentes acompanhadas pela Bloomberg.

“Os investidores reconhecem que as autoridades brasileiras estão entre a cruz e a espada”, disse Robert Abad, que ajuda a supervisionar US$ 41 bilhões em ativos de mercados emergentes na Western Asset Management na cidade de Pasadena, na Califórnia, em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. “Investidores estrangeiros de olho na dívida corporativa em moeda local após a desvalorização acentuada do real em relação às máximas do início do ano ainda correm o risco de comprar papéis que são potencialmente desinteressantes em termos de retorno ajustado a risco.”

"Emissores dignos"

Para George Strickland, que ajuda a supervisionar US$ 14 bilhões em ativos de renda fixa como diretor-gerente da Thornburg Management Inc., os investidores estrangeiros estão interessados em comprar debêntures brasileiras, especialmente como alternativa aos títulos denominados em reais vendidos no exterior.

“A situação europeia é péssima, mas acho que ainda existem emissores dignos de crédito no Brasil”, disse Strickland em entrevista por telefone de Santa Fé, no Estado americano do Novo México. “Se der para comprar ativos locais sem o IOF, é bem melhor para investidores como nós.”

Para Catarino, do Votorantim, as empresas devem esperar que o governo conclua as mudanças nas regras de isenção antes de trazer novas operações para o mercado e então vão emitir os títulos em ofertas públicas para aumentar a transparência e expandir a base de investidores.

“Tem um monte de coisas que precisam ser melhor organizadas, definidas, para garantir sucesso da primeira operação”, disse ele. “Eu acho que é um mercado que vai acontecer, no entanto, não é uma coisa de uma velocidade muito grande, mas acho que é uma coisa constante.”

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