IA: Para analistas, mercado precifica riscos adicionais (Getty Images/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 06h10.
A euforia com ações de tecnologia nos Estados Unidos parece estar perdendo força nas últimas semanas com temores sobre uma possível bolha, impulsionada por investimentos em inteligência artificial (IA). Esse receio também chegou ao mercado de crédito, com investidores vendendo títulos de dívida das grandes empresas de tecnologia, mostrando preocupação com os altos gastos no Vale do Silício e o ritmo acelerado de expansão em infraestrutura de IA, segundo reportagem do Financial Times.
Uma cesta de bonds (títulos estrangeiros) emitidos por big techs como Alphabet, Meta, Microsoft e Oracle sofreu impacto nas últimas semanas. Conforme dados do Bank of America (BofA), o spread, prêmio de rendimento exigido para comprar dívida corporativa em relação aos títulos do Tesouro norte-americano, subiu para 0,78 ponto percentual, o maior desde abril, quando planos tarifários do presidente dos EUA, Donald Trump, abalaram os mercados. O aumento evidencia a preocupação com a forma como essas empresas financiam seu crescimento em infraestrutura e inteligência artificial.
Brij Khurana, gerente de portfólio de renda fixa da Wellington Management, disse ao Financial Times que há entre os agentes a percepção de que o mercado terá de financiar o boom da IA. O JPMorgan estima que os investimentos em infraestrutura de inteligência artificial podem ultrapassar US$ 5 trilhões e exigirão participação de mercados públicos de capitais, crédito privado e até envolvimento governamental.
Mesmo com grandes reservas de caixa, as empresas ligadas à IA estão emitindo dívida em ritmo acelerado. Coletivamente, as hyperscalers, como são chamadas as empresas de infraestrutura computacional em larga escala, detêm cerca de US$ 350 bilhões em caixa e investimentos líquidos e devem gerar aproximadamente US$ 750 bilhões de dólares em fluxo de caixa operacional em 2026, segundo o JP Morgan.
Ainda assim, uma quantidade expressiva de dívida nova chega ao mercado, incluindo títulos com vencimento de até 40 anos lançados recentemente por Meta, Alphabet e Oracle.
Alguns analistas ouvidos pelo Financial Times classificam como saudável a queda dos títulos após emissões tão grandes, pois o mercado está precificando riscos adicionais.
A Oracle, por exemplo, teve seus títulos impactados mais fortemente nas últimas semanas. Um índice do Financial Times que acompanha os papéis de dívida da companhia caiu 6% desde meados de setembro, tendo um desempenho significativamente pior que o de seus pares.
A empresa aumentou rapidamente seu endividamento para fornecer capacidade de computação à OpenAI, criadora do ChatGPT, operação que deve gerar US$ 300 bilhões em receitas entre 2027 e 2032.
O Barclay's revisou para baixo a avaliação sobre a dívida da Oracle, por entender que os gastos massivos com infraestrutura de IA estão indo além do fluxo de caixa livre da companhia
A Moody’s também alertou sobre riscos significativos no fato da Oracle se apoiar em um pequeno número de empresas de IA.