Mercados

Derivativos de empresas atingem recorde com volatilidade do real

O valor da exposição das empresas em derivativos é 41% maior do em novembro de 2010 e que ultrapassa inclusive o recorde anterior de US$ 215 bilhões de setembro de 2008

As companhias brasileiras estão aumentando o hedge contra as oscilações do dólar em meio a uma queda de 11 por cento no real neste ano (Germano Lüders/EXAME)

As companhias brasileiras estão aumentando o hedge contra as oscilações do dólar em meio a uma queda de 11 por cento no real neste ano (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2011 às 07h22.

São Paulo - As empresas brasileiras estão usando um volume recorde de derivativos cambiais em busca de proteção contra as maiores oscilações do real em dois anos.

O valor da exposição das empresas em derivativos de moedas envolvendo o dólar e o real, como opções e contratos a termo, no mercado de balcão brasileiro chegou a US$ 230 bilhões no fim de novembro, de acordo com cálculos feito pela Bloomberg usando como base os dados da Cetip SA, a maior câmara de registro de títulos no país. É um total 41 por cento maior do em novembro de 2010 e que ultrapassa inclusive o recorde anterior de US$ 215 bilhões de setembro de 2008.

As companhias brasileiras estão aumentando o hedge contra as oscilações do dólar em meio a uma queda de 11 por cento no real neste ano, a terceira maior entre as mais negociadas moedas no mundo.

A demanda pelo real foi reduzida à medida que a crise de dívida dos governos da Europa se aprofundou e o Banco Central cortou os juros básicos Selic em agosto pela primeira vez desde 2009. A volatilidade média do real em três meses dobrou desde o final de julho último.

“Quando a volatilidade cresce, as empresas procuram por mais hedge”, disse Eric Andre Altafim, chefe de venda de derivativos no Banco Itaú BBA, o braço de atacado do maior banco da América Latina em valor de mercado.


As oscilações mais fortes nos mercados de moedas estão afetando os resultados de empresas em todo o mundo. A Sony Corp., a maior exportadora de produtos eletrônicos de consumo do Japão, anunciou no mês passado a estimativa de um prejuízo anual de 90 bilhões de ienes (US$ 1,2 bilhão) depois que a moeda japonesa chegou ao maior nível desde a segunda guerra mundial dificultando exportações.

Valorização do dólar

No Brasil, a Vale SA, a maior produtora de minério de ferro, disse que teve uma queda de 18% nos lucros do terceiro trimestre em relação ao ano anterior à medida que um real mais fraco inflou sua dívida em dólar. A BR Malls Participações SA, a maior proprietária de shopping-centers do Brasil, disse em 28 de outubro que os seus lucros caíram 90 por cento no terceiro trimestre por causa de um dólar mais forte.

A moeda brasileira despencou para um nível recorde de baixa de R$ 1,9549 por dólar em 22 de setembro, depois de atingir sua valorização máxima em um ano de R$ 1,5982 dois meses antes. O banco central tomou medidas para reduzir a volatilidade do real em setembro, revertendo uma estratégia de 28 meses adotada para tentar controlar sua valorização.

A volatilidade de três meses implícita nas opções de real versus dólar, que reflete as expectativas dos investidores nas oscilações da moeda, atingiu um recorde de alta em dois anos de 28 por cento em 22 de setembro, comparado a 12 por cento no fim de julho. Estava em 19 por cento ontem.

Demanda aumentou

A demanda por derivativos subiu com os exportadores vendendo mais dólares no mercado futuros para garantir taxas de câmbio favoráveis na coversão das receitas obtidas no exterior, disse Nuno Correia, co-chefe de mercados globais no Brasil para o Deutsche Bank AG, o maior negociador do mercado de câmbio mundial.


“A maior demanda por derivativos vem principalmente dos exportadores tirando vantagem do mercado e não de um quadro de medo ou pânico”, Correia disse em entrevista por telefone de São Paulo.

A Cosan SA, que divide o controle da maior processadora mundial de cana-de-açúcar com a Royal Dutch Shell Plc, normalmente faz hedge das exportações de açúcar de 12 meses para se proteger de flutuações no preço da commodity e na taxa de câmbio, disse o diretor financeiro, Marcelo Martins, em entrevista em São Paulo.

Petroquímica

A Braskem SA, maior petroquímica da América Latina, não aumenta sua demanda por hedge quando a volatilidade do câmbio cresce, de acordo com a vice-presidente financeira e de relações com os investidores, Marcela Drehmer.

“Se o real se desvaloriza, vendemos dólares no mercado à vista para obter um preço melhor para nossa receita de exportação”, disse Alexandre Perazzo de Almeida, diretor de finanças da Braskem, em entrevista por telefone.

A companhia não precisa fazer hedge da dívida em dólares, que representa 70 por cento da dívida líquida de R$ 10,7 bilhões, já que toda a receita da Braskem é atrelada à moeda americana, disse Drehmer.

“No médio e longo prazo, a receita atrelada ao dólar é como um hedge natural para nossa dívida em dólar”, ela disse. “O risco está no curto prazo.”

A Braskem só faz hedge da exposição líquida de curto prazo ao dólar, ou seja, da dívida com vencimento em 12 meses menos os recebíveis em dólar e o caixa, disse Drehmer.

Mercado de balcão

Aproximadamente 90 por cento dos derivativos de taxa de câmbio dólar/real contratados por empresas não-financeiras no Brasil estão registrados na Cetip no mercado de balcão, que não exige depósitos de garantia ou de margem e permite mais flexibilidade na fixação do tamanho e prazo dos contratos do em bolsa de valores, de acordo com Altafim, do Itaú BBA. O resto é registrado na BM&FBovespa SA, operadora da maior bolsa de valores da América Latina.


O aumento da demanda por derivativos no mercado de balcão contrasta com a diminuição dos negócios nas bolsas de valores, que são dominadas por bancos e fundos de investimento. Instituições financeiras reduziram os contratos em aberto na BM&FBovespa após a Presidente Dilma Rousseff ter aplicado alíquota de 1 por cento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre derivativos de câmbio em julho, como parte dos esforços para enfraquecer o real.

Risco total

O total de contratos de câmbio em aberto na bolsa brasileira caiu 44 por cento no terceiro trimestre, enquanto o total de contratos em aberto em real listados na Bolsa Mercantil de Chicago recuou 16 por cento, de acordo com relatório de 11 de dezembro divulgado pelo Banco de Compensações Internacionais, sediado na Basileia, na Suíça.

As empresas não financeiras continuam a aumentar o uso de derivativos, pois os bancos nem sempre cobram o IOF de 1 por cento dessas companhias e exportadores podem compensar o impacto na hora de pagar outros impostos, de acordo com Altafim.

Os bancos não podem ter certeza sobre a exposição total de cada empresa no mercado de balcão, pois eles ainda não estão usando a Central de Exposição a Derivativos (CED), uma iniciativa de auto-regulação criada após a crise de 2008 para aumentar a transparência nos contratos de derivativos entre bancos e empresas, segundo três pessoas familiarizadas com o assunto.

‘Lembrem-se de 2008’

A CED, que reúne em um único sistema todos os riscos de derivativos registrados na Cetip e na BM&Fbovespa, só pode mostrar ao bancos a posição de uma companhia se o banco tiver uma autorização por escrito dessa companhia por causa do sigilo bancário. A maior parte dos bancos, temendo perder clientes, não está pedindo essa autorização para as companhias antes de fechar um contrato de derivativos, disseram as pessoas, que pediram para não ser identificadas por que as discussões são privadas.

Maria Helena Santana, a presidente da Comissão de Valores Mobiliários, disse em agosto que os bancos deveriam começar o quanto antes a usar a CED.


“Lembrem-se de 2008”, ela afirmou durante o congresso em Campos do Jordão da BM&Fbovespa em 27 de agosto.

Em 2008, companhias incluindo a Aracruz celulose S.A. e a Sadia S.A. usaram derivativos alavancados, como por exemplo o “target forward”, para se aproveitar da alta do real de 62 por cento em quatro anos até 2007. Mas perderam dinheiro após o real cair 32 por cento nos seis meses que terminaram em fevereiro de 2009 quando o colapso da Lehman Brothers agravou a crise financeira.

A Aracruz perdeu US$ 2,1 bilhões e acabou adquirida pela Votorantim Celulose e Papel SA, formando a Fibria Celulose SA. A Sadia contabilizou mais de R$ 3 bilhões de perdas e foi adquirida pela Perdigão SA, hoje a BRF - Brasil Foods SA.

O mercado é hoje diferente do que era em 2008, pois as companhias fazem apenas o hedge “plain-vanilla”, sem alavancagem, de acordo com Altafim.

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