(Facebook/ Petz/Reprodução)
Repórter Exame IN
Publicado em 6 de maio de 2023 às 15h31.
Última atualização em 6 de maio de 2023 às 23h44.
Depois de trimestres com números pressionados, o resultado da Petz (PETZ3) no primeiro trimestre agradou. Na sexta-feira, 05, pregão seguinte à divulgação do balanço, as ações saltaram 17%, para R$ 6,95. "É uma inversão de momento. Estamos trabalhando bastante para conseguir amortecer em despesas, porque a conjuntura macro não mudou muito", diz a diretora financeira da varejista do setor pet, Aline Penna, em entrevista exclusiva à EXAME Invest.
No primeiro trimestre, o lucro líquido da Petz caiu 9,1%, para R$ 19,19 milhões, enquanto a receita avançou 22,3%, somando R$ 913 milhões. As despesas também cresceram, mas em ritmo menos acelerado do que as vendas, ficando 18,4% maiores, a R$ 298,5 milhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou 25% maior, a R$ 64,98 milhões, com a margem ficando estável para o consolidado e 0,5% para as operações originais da Petz. Os números fizeram alguns analistas, como os do banco Itaú BBA classificarem o resultado como um dos melhores do varejo.
Mas, para os números melhorarem, a Petz precisou rever a rota. Recuou em alguns pontos, desativando, por exemplo, clínicas e operações de banho e tosa em algumas lojas. "Falar em equilíbrio de crescimento e rentabilidade não é clichê. Se de alguma maneira vemos ameaça a market share ou margem, recuamos. Semana a semana mexemos e ajustamos os ponteiros, estamos bem frenéticos nisso", afirma Penna.
Mas resta ainda um ponto de dúvida do mercado, explicitado no relatório do Goldman Sachs: quando as aquisições, como Petix e Zee.Dog começarão a trazer lucratividade? Grande parte da melhoria veio da operação original da Petz. "Já vai ter breakeven no ano? Difícil dizer. A integração está a todo vapor, masai ter uma hora que vai ser difícil dizer o que é Petz ou Zee.Dog, por exemplo, porque as sinergias estão acontecendo e fica difícil medir o que é o que", argumenta a CFO.
Leia a entrevista abaixo.
O resultado do primeiro trimestre foi elogiado por parte relevante dos analistas e bem recebido pelo mercado, já que a ação subiu bastante no pregão. Qual a avaliação de vocês dos primeiros meses do ano?
Aline Penna: É uma inversão de momento. Estamos trabalhando bastante para conseguir amortecer em despesas, porque a conjuntura macro não mudou muito. Uma coisa que estamos tentando trabalhar muito é na margem do digital. Em 2019 tinha quase 10 pontos percentuais de diferença do digital para o varejo. Já fechamos metade desse gap. Tem coisas em que tivemos que recuar. Falar em equilíbrio de crescimento e rentabilidade não é clichê. Se de alguma maneira vemos ameaça a market share ou margem, recuamos. Semana a semana mexemos e ajustamos os ponteiros, estamos bem frenéticos nisso. SG&A [despesa de vendas, geral e administrativa] cresceu menos que a venda, mesmo com mais digital. Estamos animados porque conseguimos segurar as despesas, abrimos menos lojas. Foi um trimestre bom. Falávamos que existia a possibilidade de pressão, já que estamos consolidando Petix, que tem uma margem menor que a da Petz.
Pode dar alguns exemplos de como está sendo essa questão de ajustes?
Penna: A geração de caixa saiu de R$ 65 milhões negativos no primeiro trimestre do ano passado para R$ 35 milhões positivos agora. Foi um salto muito grande. Isso porque temos feito melhor gestão de estoques e importados, melhorado prazos com fornecedores e sido mais cautelosos. Nosso ciclo financeiro melhorou 7 dias, o que não é pouco. Mas também melhoramos nossa posição de caixa. Captamos uma dívida de 200 milhões a um custo muito atrativo. Ajustamos um pouco a estrutura de capital e estamos com uma dívida CDI +0,96% ao ano.
Vocês viram um crescimento de receita de 22% para o grupo e 21% se considerada só a operação original da Petz. As vendas em mesmas lojas cresceram 8,1%. Os números são positivos, mas o momento não é dos mais fáceis para todo o setor de varejo. Qual a avaliação de vocês sobre a demanda e o setor em que estão?
Penna: Nos últimos tempos muitos têm sido os assuntos que estão atrapalhando o varejo. Janeiro teve o risco sacado, o que não fazemos. Fevereiro e março, risco fiscal. A gente também não tem praticamente nada de risco de impacto, não chega a 1% do Ebitda, que tem a ver com o nosso centro de distribuição de Goiás, cuja motivação não foi o benefício fiscal e, sim, suportar nossa expansão e crescimento para outras regiões. Também não estamos sofrendo a questão da alavancagem. Apesar de ter pego R$ 200 milhões agora, estamos com caixa líquido. E, apesar de tudo, estamos em momento de capex alto [a companhia manteve a projeção de abertura de 30 a 40 lojas em 2023]. O mercado pet é um que continua crescendo muito: duplo dígito. Então dizemos que demonstramos dupla resiliência, porque ganhamos muito share em um mercado que cresce muito. E isso mesmo no momento mais difícil, de 25% de inflação do setor. Mas os tutores seguraram e não fizeram tradedown de ração, que responde por 30% das nossas vendas. O segmento discricionário, como o de acessórios, estava vindo muito mais devagar, mas nesse último trimestre já cresceu mais em linha com o restante. As nossas marcas próprias também têm ajudado. Temos opção para todos os preços coleiras, por exemplo. Mas o mercado também está em um momento mais racional, especialmente no digital. Concorrentes ajustaram fretes, outros ajustaram descontos.
E como estão as operações de serviços de saúde? Essa era uma aposta importante de vocês, inclusive com o desenvolvimento de um plano de saúde, não?
Penna: Fizemos uma série de ajustes no tamanho da rede. Havia muitas unidades deficitárias ou que não traziam tanto resultado. Algumas unidades estavam com bastante ociosidade. Isso era menos nos hospitais e mais nas clínicas e banho e tosa. Então enxugamos. Não é em um volume representativo, mas dizemos que desativamos temporariamente. Estamos ajustando os 'economics', como precificação e capacidade. A ideia é retomar isso. Nem descartamos ter parceiros em algumas cidades. Mas o que vai ocupar essa ociosidade é o plano de saúde, que queremos lançar ainda esse ano. Estamos estudando. Não é um segmento regulado. Não queremos fazer um plano que é mais do mesmo, queremos usar nossas redes, ter a figura do veterinário da família. O potencial é enorme. Nosso número de clientes omnichannel cresceu 17%, para 2.6 milhões de clientes. Se convertermos 10%, já teremos o dobro do principal concorrente. Então, não precisamos nem investir tanto com CAC (custo de aquisição de clientes).
Um questionamento que alguns agentes de mercado fazem é sobre a lucratividade das aquisições. Quando Zee.Dog e Petix vão começar a ficar positivos no balanço?
Penna: Bom, a Zee tem estrutura de custo enxuta. Toda vez que a venda não vem, já é suficientemente para não ter alavancagem operacional. Não tem o que cortar, tem que vender muito mais. Mas, também, alguns projetos ainda são mais de investimento nesse momento. A Zee.Kitchen, por exemplo, o Zimerman [Sergio Zimerman, CEO da Petz] costuma dizer que é um poço de petróleo: pode dar muito dinheiro, mas depende de muito investimento no começo. Fizemos um tempo atrás uma conversa com a Pet.Co, que é a "Petz dos Estados Unidos". Eles veem um mercado de US$ 100 bilhões para comida natural. Então estamos animados, fazendo muitos testes aproveitando esse momento, vendo onde tem possibilidade de mais preço ou menos, por exemplo. Já Petix tem um caminho muito bom. Temos privilegiado muito nossos canais próprios. Alguns marketplaces vendiam a menos do que nós. Fizemos alguns ajustes e daí tem impacto de curto prazo. Me perguntam já vai ter breakeven esse ano? É difícil dizer. Vai ter uma hora que vai ser difícil dizer o que é Petz ou Zee, por exemplo. As sinergias estão acontecendo. Mas mais de R$ 10 milhões negativos registrados ano passado deveriam se aproximar mais do breakeven nas adquiridas. Ano passado tiveram Ebitda negativo de R$12 milhões a R$ 13 milhões. Vamos trabalhar para zerar isso, mas com integração acontecendo a todo vapor vai ficar mais difícil de medir o que é o que.
O mercado de ações está em momento mais difícil. Muitas ações estão negociadas a múltiplos bem mais baixos do que o histórico. A ação da Petz registra queda de quase 50% em 12 meses. Como vocês veem isso?
Penna: A gente foca muito aqui no que podemos controlar. Não necessariamente o papel vai acompanhar a performance da empresa na mesma velocidade. Nossa ação acaba sofrendo com cenário de juros porque abrimos muitas lojas, a 'duration' do nosso papel acaba sendo um pouco mais longa, mesmo sendo caixa líquido. Vamos trabalhar a performance da empresa para melhorar a performance da ação. A gente tem programa de recompra aberto, a gente monitora, mas tem a questão do custo de capital. Então estamos sempre olhando e fazendo essa decisão. Mas o que buscamos é o que podemos controlar, que é o desempenho da empresa.