JBS apresentou o melhor resultado de sua história em 2021 (JBS/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 22 de março de 2022 às 13h29.
Última atualização em 22 de março de 2022 às 15h07.
A JBS (JBSS3) espera que a margem das operações nos Estados Unidos permaneça em níveis historicamente altos nos próximos trimestres.
"A demanda pelas três proteínas [de boi, porco e frango] continua muito positiva. O mercado americano é diretamente impactado pelo preço mundial e a demanda mundial está bastante forte, principalmente na Ásia. Não há nada no cenário que indique que isso vai mudar", disse nesta terça-feira, dia 22, André Nogueira, CEO da JBS USA, em conferência com investidores após a divulgação do resultado do quarto trimestre.
A JBS Beef USA, principal divisão do grupo, teve receita de 41,87 bilhões de reais no quarto trimestre, 38,3% acima do registrado no mesmo período de 2020.
Do ponto de vista operacional, driblar a inflação -- no maior patamar em quatro décadas nos EUA -- está entre os principais desafios da companhia. "A pressão inflacionária é brutal em diversas partes do negócio. O custo de produção nos Estados Unidos foi de 30% a 40% maior do que no quarto trimestre de 2019 [antes da covid-19]", disse Nogueira.
O CEO da JBS USA, porém, afirmou espera que a demanda do consumidor americano sustente o repasse de preços nas diferentes linhas de negócio. "As margens continuam bastante favoráveis."
Aprenda com Mestres e Doutores da USP a precificar sua empresa e sair à frente do mercado.
Nogueira ainda indicou que as vendas no mercado americano de carne, boi e frango no primeiro trimestre de 2022 devem crescer na comparação anual.
A divisão JBS Beef USA encerrou 2021 com margem Ebtida de 17,7%, com alta de 6,2 ponto percentual frente a 2021. As margens, segundo Nogueira, foram "excepcionais" e devem ser mais baixas em 2022, ainda que acima do nível histórico.
A situação é diferente nas operações brasileiras, nas quais a empresa tem sentido dificuldade em repassar a alta de custos em razão do cenário macroeconômico. Em 2021, a margem Ebitda da Seara caiu 5,2 ponto percentual, ficando em 10,6%. A perspectiva é que os efeitos da guerra sobre o preço de de grãos aumentem os desafios da empresa.
"Sem dúvida nenhuma, a guerra na Ucrânia traz pressão para todo tipo de grão, já que é uma região importante para o milho, o trigo e o girassol", afirmou Wesley Batista Filho, presidente da JBS para América Latina, Oceania e para negócios de plant-based (à base de plantas).
A expectativa de Batista Filho é que a pressão de custos se concentre principalmente até o segundo trimestre, quando espera que a chamada "safrinha" arrefeça os preços dos grãos no Brasil.
"Vemos o cenário global pressionado no ano como um todo, especialmente até a 'safrinha'. Haverá um impacto importante na inflação de custos da Seara."
Para tentar reverter parte do efeito esperado do aumento de custos sobre a rentabilidade, a Seara tem investido na diversificação de produtos. Linha de cortes a base de proteína vegetal, o Levíssimo Seara e o Frango de Padaria estiveram entre as últimas novidades da marca. A Seara também criou uma nova linha no segmento de peixes e frutos do mar, que, por sinal, tem sido um dos principais focos da JBS global.
"[A participação] ainda é pequena no portfólio da empresa, mas representa uma decisão estratégica muito importante", disse Guilherme Cavalcanti, CFO global e diretor de relações com investidores da JBS. Na metade de 2021, a JBS comprou a australiana Huon Aquaculture por 315 milhões de dólares, dando início à produção própria de pescados.
"É a proteína mais consumida do mundo e com a maior taxa de crescimento entre as animais. Com a pesca 'selvagem' diminuindo, todo o crescimento será dado pela aquicultura. Há uma oportunidade de crescimento muito grande", disse Cavalcanti. "Queremos fazer com esse negócio o que fizemos com suínos e frangos. A importância [da aquicultura] dentro da companhia é dessa dimensão."