Mercados

Decisão do BC por juros não deve alterar comportamento do câmbio

De acordo com economistas, a alta do dólar ante o real deve continuar, influenciada por pressões externas como a elevação de juros nos Estados Unidos

Dólar x real: moeda americana ficou 12,15% mais cara em 2018, atingindo R$ 3,70 nesta quinta (17) (Bruno Domingos/Reuters)

Dólar x real: moeda americana ficou 12,15% mais cara em 2018, atingindo R$ 3,70 nesta quinta (17) (Bruno Domingos/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 17 de maio de 2018 às 20h28.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2020 às 12h28.

São Paulo - A decisão do Banco Central de manter a Selic inalterada na véspera poderia causar um efeito positivo sobre o câmbio, mas a dinâmica recente da moeda extremamente atrelada ao cenário externo acabou por esvaziar essa percepção e reforçar a leitura de que a alta do dólar ante o real ainda não chegou ao fim.

"O BC sendo mais conservador do que era esperado é positivo para o mercado... mas enquanto lá fora não estabilizar, aqui também não vai, independentemente do que fizer o BC", avaliou o economista-chefe do banco Santander, Maurício Molon.

Em 2018, até agora, o dólar engatou uma trajetória firme de alta ante o real, que se acentuou desde abril. A moeda já ficou 12,15 por cento mais cara, tendo atingido nesta quinta-feira o patamar de 3,70 reais, registrado pela última vez em março de 2016.

A maior parte dessa valorização se deu justamente por causa da perspectiva de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, possa subir os juros quatro vezes este ano, em vez de três inicialmente esperadas, diante de dados recentes mais robustos que o esperado para a economia norte-americana.

Ao mesmo tempo, o BC brasileiro vinha reduzindo a taxa Selic, e consequentemente diminuindo o diferencial de juros e também a atratividade do mercado doméstico a investidores estrangeiros. Ao interromper o ciclo de afrouxamento na véspera, desta forma, ao menos do lado doméstico houve o estancamento desse diferencial, segundo economistas ouvidos pela Reuters.

O ajuste global na moeda norte-americana ocorre após o mais longo ciclo de cortes da taxa básica de juros do país, iniciado em outubro de 2016 e finalizado ontem após uma redução de 7,75 pontos percentuais.

"Nosso diferencial de juros caiu para as mínimas históricas, a despeito de ele não ter cortado a Selic ontem. Uma redução de 0,25 ponto percentual não faria diferença no câmbio", explicou a economista do Itaú Unibanco Julia Gottlieb.

Segundo a economista, a manutenção da Selic agora teria pouco efeito para o carry-trade, negociações em que operadores se endividam em títulos de países com juros baixos e investem em papéis que pagam taxas mais altas.

Dessa forma, mesmo vista como uma decisão acertada, a manutenção da Selic pelo BC tem efeito apenas marginalmente positivo.

Pelo lado do carry trade, o que poderia favorecer o ingresso de recursos no Brasil é a melhora das perspectivas econômicas do país, o que só deve vir a ocorrer no novo governo, sobretudo se for eleito um presidente comprometido com o ajuste das contas públicas.

"Quando começar a arrumar e o fiscal não for mais um risco, se a macroeconomia indicar que as coisas vão ficar bem, o carry trade já vai ser bom por si só", avaliou o gerente de Tesouraria do Bank of China, Jayro Rezende.

Pressão de incertezas

Por ora, as incertezas eleitorais à frente, sem que algum candidato mais reformista ganhe tração, acabam se somando ao cenário externo e pressionam a alta da moeda norte-americana, o que não alivia o horizonte de curto e médio prazo.

"Os principais impulsionadores da moeda continuarão a ser a incerteza externa e política", trouxe a Nomura em relatório ao acrescentar que espera que o real "retorne à sua trajetória de baixo desempenho no curto prazo, a menos que haja uma mudança clara no cenário das eleições presidenciais, com sinais de que um candidato pró-mercado provavelmente vencerá".

Nos Estados Unidos, a curva de juros precifica apostas amplamente majoritárias de que os juros deverão subir no encontro de política monetária de junho. O encontro será seguido de entrevista do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que poderá calibrar as apostas e acalmar um pouco o mercado.

"Difícil saber para que patamar vai o dólar", concluiu o economista do banco UBS Fábio Ramos, ao ponderar, no entanto, que "não tem por que a moeda seguir subindo aqui se lá tranquilizar".

Acompanhe tudo sobre:CâmbioCarry tradeDólarJurosReal

Mais de Mercados

Banco do Brasil promove trocas nas lideranças de cinco empresas do conglomerado

Bolsas globais superam desempenho dos EUA nos primeiros seis meses do governo Trump

Ibovespa fecha em queda de 1,61% pressionado por tensões políticas

Dólar fecha em alta de 0,73% após Bolsonaro ser alvo de operação da PF