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De volta aos 101 mil: Bolsa recupera vigor com aposta em Selic a 4,5%

Papéis ligados ao varejo interno e a commodities lideraram os ganhos do índice

Ações ligadas ao varejo interno ajudaram a sustentar o avanço do Ibovespa. (Amanda Perobelli/Reuters)

Ações ligadas ao varejo interno ajudaram a sustentar o avanço do Ibovespa. (Amanda Perobelli/Reuters)

TL

Tais Laporta

Publicado em 9 de outubro de 2019 às 17h27.

Última atualização em 9 de outubro de 2019 às 17h53.

São Paulo - Quando parte dos analistas já considerava a bolsa brasileira de volta à casa dos 90 mil pontos, o principal índice da B3 surpreendeu ao recuperar o vigor perdido nas duas últimas sessões. O impulso veio das ações ligadas ao consumo doméstico e bancos. As apostas crescentes em uma queda maior da taxa Selic, agora em 4,5%, catalisaram as maiores altas do dia, lideradas por Ultrapar, Magazine Luiza, e Bradesco.

O Ibovespa fechou em alta de 1,27% nesta quarta-feira (9), aos 101.248 pontos. A sessão foi marcada por uma valorização generalizada nos papéis de varejo doméstico, construtoras, aviação, shoppings e setor financeiro. Já o alívio na tensão entre China e EUA beneficiou empresas ligadas a commodities, como a Vale e siderúrgicas.

A exceção ficou por conta da produtora de carnes JBS, que liderou a ponta negativa. A ação caiu mais de 4%, após senadores dos Estados Unidos pedirem na véspera a abertura de uma investigação sobre aquisições feitas pela companhia no país. O caso refere-se à ligação da JBS com denúncias de corrupção no Brasil e na Venezuela.

Em nota, a empresa afirmou que "cooperou totalmente com as autoridades americanas, sempre de maneira transparente em relação aos eventos passados no Brasil".

Deflação reforça aposta em Selic a 4,5%

A maior surpresa do dia ficou por conta da deflação de 0,04% do IPCA. Foi a primeira em 10 meses e o resultado mais fraco para o indicador no mês em 21 anos, levando a inflação acumulada em 12 meses abaixo de 3%, perto do piso da meta estabelecida pelo governo. Os números reforçaram as apostas de que o Banco Central deve intensificar o ritmo de corte dos juros, hoje em 5,5%.

"Este valor [do IPCA] reafirma a perspectiva que o BCB deve levar a taxa básica para 4,5% [no final de 2019] como projetado por nós e por parte ainda diminuta do mercado", escreveu em nota o economista-chefe da Necton, André Perfeito. "Vale notar que nos EUA a perspectiva continua de baixa de juros e isto força a curva como um todo para baixo por aqui", acrescentou.

O banco UBS revisou sua projeção para 4,5% após a divulgação dos dados. A equipe da XP Investimentos foi mais longe em sua projeção ao informar que a deflação de hoje "aumenta significativamente as chances de 4%" na Selic para o final do ano.

A deflação contribuiu para o dólar mudar de direção contra o real. Pela manhã, a moeda perdia força, mas passou a subir após a divulgação, visto que uma queda mais intensa dos juros do Brasil reduz o diferencial das taxas com os Estados Unidos (carry trade), o que tende a dispersar recursos do exterior.

Segundo o Estadão Conteúdo, o baixo interesse de investidores estrangeiros no IPO da rede de joalherias Vivara também pesou para fortalecer a moeda. O dólar subiu 0,29% nesta quarta, a 4,1037 reais na venda. A empresa vai estrear na bolsa brasileira amanhã.

Também pesou de forma positiva o acordo fechado na véspera por parlamentares em torno do projeto que define os critérios de distribuição dos recursos da cessão onerosa pela exploração do pré-sal entre Estados e municípios. "Com isso, destrava-se o andamento da reforma da Previdência no Senado, que deve ser concluída no dia 22 desse mês", afirmou a Ativa Investimentos em relatório.

A ação da Petrobras avançou acima de 2%, diante do acordo envolvendo o leilão. A estatal também foi favorecida pela alta dos preços do petróleo no mercado externo. Uma projeção do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP) apontou que ela deverá receber cerca de 120 bilhões de reais por investimentos em áreas de exploração e produção de petróleo que irão a leilão neste ano, segundo o "Estado de S. Paulo".

Disposição da China em negociar levantou os ânimos

No exterior, trouxe um certo alívio uma notícia da "Bloomberg" de que China ainda está aberta a fechar um acordo comercial parcial com os Estados Unidos. A agência citou uma autoridade com conhecimento direto das negociações. Em Wall Street, o S&P 500 teve um dia positivo.

"Relatos de que a China ainda está disposta a firmar um acordo parcial contribuiu para uma melhora dos ânimos", destacou a Guide Investimentos, em relatório a clientes. Mas a equipe da corretora ponderou que o clima ainda é de muita incerteza, uma vez que o presidente Donald Trump disse mais de uma vez que não aceitaria qualquer forma de acordo parcial.

A alta cúpula dos governos dos EUA e China deve se reunir amanhã para novas conversas sobre o embate comercial que tem adicionado volatilidade nos mercados e afetado as perspectivas de crescimento global.

Outros destaques do dia

A companhia aérea Gol subiu mais de 3%, após divulgar na véspera algumas previsões de desempenho operacionais e financeiros relativos ao terceiro trimestre, inclusive a de que sua margem Ebitda deve ter ficado entre 29% e 31% no período. A Gol também previu que vai divulgar uma alta de cerca de 20% da receita unitária de passageiro (Prask) de julho a setembro, na comparação com 2018.

O setor bancário apresentou um forte avanço nesta sessão, liderado por Bradesco, que saltou cerca de 4% nas preferenciais (PN). O Santander subiu ao redor de 2,6%, com a repercussão positiva após o banco estimar uma rentabilidade média sobre o patrimônio (ROE) de cerca de 21% até 2022. Banco do Brasil subiu quase 3%, enquanto Itaú ganou 1,5% na sessão.

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