Aumento de ataques cibernéticos pode ser oportunidade de investimento em empresas de segurança digital | Foto: EThamPhoto/ Getty Images (EThamPhoto/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 25 de junho de 2021 às 09h00.
Última atualização em 25 de junho de 2021 às 22h53.
Parte dos sistemas do Grupo Fleury (FLRY3) estão fora do ar desde terça-feira, 22, por causa de um ataque cibernético que ainda está sendo investigado. Um problema semelhante aconteceu com a JBS (JBSS3) no início de junho, quando a companhia pagou 11 milhões de dólares em resgate aos hackers que invadiram seus servidores.
Estes não são eventos isolados. Um estudo da empresa de dados americana Audit Analytics mostrou que o número de ataques cibernéticos cresceu 400% entre 2011 e 2019 entre empresas listadas em bolsa nos Estados Unidos. E, com o mundo cada vez mais dependente da tecnologia, a tendência é que crimes de extorsão digital se tornem ainda mais comuns.
Para o investidor, essa é uma ótima oportunidade para ficar de olho em empresas com foco na prevenção de violações de segurança. É o que defende a Avenue Securities, corretora nos Estados Unidos para brasileiros.
“É um setor que tem muito potencial de crescimento e que ainda está em consolidação. Isso significa que algumas ações podem se valorizar ainda mais com movimentos de consolidação no futuro”, explica Guilherme Zanin, analista da Avenue.
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Embora as ações de tecnologia já tenham caído no gosto dos brasileiros, opções como cibersegurança ainda estão fora do radar por serem mais disruptivas e menos acessíveis no mercado nacional. Isso porque as empresas brasileiras do setor não estão listadas em bolsa, e a oferta de companhias estrangeiras via BDRs também é escassa.
Entre as oito empresas levantadas pela Avenue como boas oportunidades, apenas três possuem BDRs. São elas: Cisco Systems (CSCO34), Atlassian (T1AM34) e Fortinet (F1TN34). Para as demais – CrowdStrike, Ping Identity, CyberArk Software, Proofpoint e Zscaler – o caminho é investir diretamente no exterior.
Existem ainda outros caminhos, como investir via fundos que aplicam seus recursos no exterior e investem nessas companhias. É a proposta da Santander Asset, que lançou este mês um conjunto de fundos da família “future wealth”, que promete investir em tendências estruturais de longo prazo que acompanhem três frentes: sociedade, tecnologia e planeta. Entre elas, estão a própria cibersegurança, além de setores como internet das coisas, inovação em saúde, consumidores asiáticos, transição energética e economia circular.
O produto é um fundo de fundos, lançado com o mesmo desenho em diversas bases de atuação do Santander, como Luxemburgo, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Portugal, Chile, Estados Unidos e Suíça. Por aqui, a opção já está disponível para clientes da Asset, e deve chegar a outras plataformas em meados de julho. São quatro fundos, dois deles de previdência – e apenas um está acessível ao investidor comum, o Santander Prev Future Wealth Reais 20, que tem 20% de exposição à estratégia no exterior e conta com proteção cambial.
Por regulamentação, é preciso que o fundo tenha uma exposição de até 20% no exterior para ser oferecido ao investidor de varejo. A proteção, no entanto, está sendo revista pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reguladora do mercado de capitais, que já estuda permitir que fundos dedicados ao investidor comum possam realizar a aplicação de 100% do patrimônio no exterior.
Enquanto a mudança não vem, Gilberto Abreu, CEO da Santander Asset, defende o produto da casa como uma boa opção de investimento – mesmo que sujeito a restrições. “O investidor brasileiro precisa dolarizar parte de seu patrimônio para ter diversificação geográfica [apostando em vários mercados]. Esse fundo dá essa oportunidade de fazer essa alocação em estratégias que devem ser as grandes criadoras de valor para os próximos anos”, afirmou em conversa com jornalistas.
Mauricio Lima, especialista de investimentos da Western Asset, lembra ainda que a busca por diversificação deve continuar pela própria característica da bolsa nacional. “A bolsa brasileira ainda é muito atrelada a commodities e bancos. Quem quer exposição a outros setores fica limitado”, argumenta.
Para o especialista, o alerta vale inclusive para opções de investimento ESG, sigla em inglês para aquelas que seguem critérios ambientais, sociais e de governança. As três letras têm ganhado grande destaque no mercado financeiro, com estudos apontando que a rentabilidade desses produtos é maior que a de seus pares.
“A quantidade de iniciativas que realmente seguem os critérios ESG são limitadas no Brasil. No exterior, o conceito está maduro a ponto de, por vezes, não ser nem considerado um diferencial. É algo que já é incluído nas estratégias”, diz Lima.
Para acessar as opções ESG fora do País, é possível escolher BDRs de empresas estrangeiras que sigam os critérios, como a Microsoft (MSFT34), que é neutra em carbono desde 2012 e tem mostrado progresso em sua promessa de dobrar o número de gerentes e executivos negros e latinos até 2025.
Existem também fundos que selecionam ações globais que seguem os critérios. É o caso do Franklin W-ESG, que aplica apenas em empresas que contam com ao menos três mulheres no conselho de administração.
Mas, diferente de outros setores de vanguarda que ainda são difíceis de acessar no Brasil, o ESG experimentou um forte crescimento local nos últimos dois anos e já apresenta alguns produtos acessíveis ao investidor de varejo.
Uma das opções é o ETF ESGB11, do banco BTG Pactual (que faz parte do grupo que controla a Exame). Lançado em dezembro, o ESGB11 replica a carteira do índice S&P/B3 Brasil ESG e é o primeiro fundo de índice (ETFs) do mercado brasileiro a seguir os princípios de investimento responsável.
Gestoras também têm se mobilizado para oferecer produtos ESG aos investidores de varejo. A Fama, referência na adoção dos critérios, reduziu o valor da aplicação mínima em seu fundo ESG, o FAMA FIC FIA, de 5 mil reais para 1 mil reais. Enquanto a Plural, especializada em crédito, lançou em dezembro de 2020 seu primeiro produto ESG, o Plural ESG Crédito Privado 45, com aporte mínimo de 10 reais.
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