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Da favela à Bolsa: jovens da periferia de SP ensinam a investir

Três jovens criaram o canal Favelado Investidor para mostrar que qualquer pessoa, de qualquer classe social, pode melhorar suas finanças -- e sonhar alto

Vinícius Silva e Murilo Duarte: os jovens criadores do canal Favelado Investidor, no Youtube (Fabio Teixeira/EXAME/Exame)

Vinícius Silva e Murilo Duarte: os jovens criadores do canal Favelado Investidor, no Youtube (Fabio Teixeira/EXAME/Exame)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 25 de junho de 2019 às 11h27.

Última atualização em 25 de junho de 2019 às 12h37.

São Paulo - Investimento não é só para rico. Foi com este pensamento que três jovens do bairro Jardim João XXIII, localizado na periferia da zona oeste de São Paulo (SP), criaram o canal Favelado Investidor no Youtube.

Com uma linguagem simples e vídeos produzidos e editados em casa, Murilo Duarte (24 anos), Vinicius Silva (22) e Jhonatan Silva (25) explicam desde como abrir uma conta em uma corretora até como investir em debêntures, LCI e LCA.

A ideia de criar o canal surgiu ainda na faculdade, quando eles cursavam contabilidade na Faculdade São Judas – os três concluíram o curso.

Durante uma apresentação sobre renda fixa feita aos colegas, notaram que a maioria da sala não tinha conhecimento sobre o assunto. “Foi um baque. Se o pessoal da faculdade não tinha noção, imagina quem mora na favela?”, afirma Duarte.

Assista a entrevista dos jovens à EXAME:

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Questionados sobre como uma pessoa com poucos recursos financeiros pode investir sem que o dinheiro lhe faça falta no final do mês, os jovens têm a resposta na ponta da língua. “Por meio da educação financeira. ”

Um dos primeiros vídeos postados no canal, há dois meses, denominado de “Organize seu Cash”, ensina sobre despesas e receitas, sobre como cortar gastos desnecessários e até mesmo buscar uma renda extra. “A gente passa 11 anos numa escola sem aprender nada de finanças pessoais”, diz Murilo no vídeo. “Eu vou ensinar vocês a sair desta situação desconfortável com essa planilha.”

Num dos últimos vídeos, entrevistaram Thiago Salomão, analista de ações da Rico Investimentos. Salomão passa conceitos básicos, como por que investir em ações. “O mercado de ações embute um potencial grande de valorização pelo fato de que a economia brasileira passou por anos muito ruins e juros e inflação altos. Os juros já caíram, a inflação está controlada, e a economia deve começar um ciclo de retomada", afirma Salomão.

O canal Favelado Investidor foi criado no início do ano, num contexto propício. A a queda recente nos juros fez o índice Ibovespa bater recordes e tem atraído cada vez mais brasileiros para a renda variável. O número de pessoas físicas que investem na bolsa passou de 660 mil em abril de 2018 para 1 milhão em abril deste ano. Ainda assim, é uma parcela muito pequena dos 208 milhões de brasileiros. Nos Estados Unidos, com 330 milhões de habitantes, metade das famílias investe em ações.

Menos balada

Os ensinamentos do canal foram colocados em prática pelos familiares e amigos dos jovens. Até a avó de Murilo investe uma parcela pequena da aposentadoria mensalmente no Tesouro Direto. Isso porque o neto conseguiu provar, por meio de contas, que investir no Tesouro, por exemplo, é mais rentável do que na Poupança.

Os amigos perceberam uma mudança no comportamento de Murilo, Vinícius e Jhonatan. Roupas de marcas, saídas constantes à noite para baladas e bares, troca de aparelhos celulares – hábitos comuns entre os jovens da periferia – foram deixados de lado.

“É só fazer a conta de quanto se gasta quando você vai para uma baladinha toda semana. Quanto você gasta em bebida”, diz Murilo. Ele conta que alguns amigos se inspiraram neles neste processo de reeducação financeira, enquanto outros se afastaram. A vida de um investidor não é feita só de flores.

Meu futuro é ser milionário

Outro hábito que os jovens adotaram foi de poupar um valor mensal para investir. Atualmente, os três trabalham como auditores contábeis em uma renomada consultoria internacional. E é com o dinheiro do salário que eles investem.

A estratégia é separar 20% da remuneração para realizar aplicações financeiras, sendo 10% em renda fixa (Tesouro Direto) e 10% para renda variável (ações). Como os jovens ainda estão em início de carreira, o salário, e os investimentos, ainda são modestos.

Se o valor que é investido mensalmente ainda é baixo, o objetivo financeiro é enorme. Os jovens sonham alto e planejam alcançar R$ 10 milhões em 10 anos. “É a nossa independência financeira. O dinheiro abre portas. Dinheiro faz dinheiro”, diz Murilo.

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