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CVC reperfila dívida, diminui prejuízo e vende mais, mas margem fica menor no 1º trimestre

Percentual da receita líquida sobre as reservas, batizado de take rate, caiu 2,3%, mas CEO espera melhora gradual ao longo do ano

Leonel Andrade assumiu a CVC em 2020, enquanto companhia tentava superar momento de crise (Germano Lüders/Exame)

Leonel Andrade assumiu a CVC em 2020, enquanto companhia tentava superar momento de crise (Germano Lüders/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 10 de maio de 2023 às 21h29.

Última atualização em 10 de maio de 2023 às 22h28.

Poucas empresas entraram na pandemia da covid-19 como a CVC (CVCB3) entrou. Em 2019, a empresa vivia um dos seus piores momentos, com erros contábeis milionários e saída de gestores e acionistas. A companhia buscou arrumar a casa, renegociou dívidas e fez forte investimento em tecnologia para digitalizar a operação. Mas, embora tenha obtido importantes avanços, o caminho da maior operadora de turismo no Brasil parece ser longo e com direito a algumas escalas. Entre elas, a saída do CFO, Marcelo Kopel, e o reperfilamento das debêntures, que deve ser realizado até novembro no montante mínimo de R$ 125 milhões. 

"Entramos fragilizados, com patrimônio negativo e troca generalizada de gestores. Viemos melhorando a companhia, trimestre a trimestre. Estamos com uma série de desafios, mas o trabalho continua", disse a investidores nesta quarta-feira, 10, Leonel Andrade, CEO da companhia desde março de 2020 e atualmente acumulando interinamente o cargo de CFO.

No primeiro trimestre de 2023, o take rate (percentual da receita líquida sobre as reservas e que funciona como uma espécie de margem do negócio) caiu de 9,7% para 7,4%. "Alto impacto no take rate não é bom, mas a performance do trimestre foi positiva. O take rate [do trimestre] é fruto do passado, de viagens já consumidas", explicou Andrade em teleconferência sobre o balanço. O executivo admitiu a fraqueza do índice e assumiu para si a responsabilidade do que podem ter sido escolhas de impacto negativo.

Segundo ele, houve um desempenho abaixo do esperado nos produtos exclusivos negociados com take rate inferior ao projetado, e perdas com não ocupação no montante de R$ 4,8 milhões. "Fechamos contratos diferentes e eu como CEO assumo a responsabilidade. Eles podem ser muito bons para o mercado, mas não são para CVC, como Formula 1, Cirque du Soleil e Rock in Rio". Outro impacto negativo para o take rate foi a participação de viagens compradas durante a Black Friday e, portanto, com preços promocionais.

Por fim, outro impacto negativo para o take rate foi o aumento de participação de cruzeiros entre as vendas, mas isso é um fator que não preocupa o grupo. "Cruzeiros cresceram muito, mas, emboras tenham take rate baixo, têm zero consumo de capital, o que é importante no atual momento do país", explica Andrade.

A receita líquida do grupo cresceu 0,9% frente ao mesmo período do ano passado, por crescimento das reservas. As reservas confirmadas tiveram aumento de 43,8% em comparação ao primeiro trimestre, com a continua procura por destinos internacionais. Considerando ajustes de itens não recorrentes, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização) mais que dobrou somando R$ 25,5 milhões e o prejuízo da CVC caiu 23%, para R$ 128 milhões.

O executivo se diz confiante na retomada do take rate, conforme o passado vai saindo da base, mas reforça que não vai ser um salto de melhora nos trimestres. "Não vai ter milagre porque vai carregando carteiras". Mas a linha de despesas tabém virou um fator de atenção do grupo. "A gente tem sido cada vez mais efetivo na gestão do caixa, na tomada de decisão. Nossas despesas fixas são menores que as variáveis", disse. Um dos fatores positivos é que o fim do ciclo de investimentos de 2020 a 2022 exige aportes bem menores a partir de agora.

Setor tem que ser mais fiscalizado

Se as varejistas de moda e outros produtos têm brigado pela isonomia na disputa de mercado com as plataformas asiáticas, Andrade resolveu bater de frente com as plataformas digitais de vendas de pacotes. Para o executivo, é preciso que o setor tenha regulação, exigindo publicação de balanços de todas empresas a partir de um patamar mínimo de faturamento. "Defendo arduamente que não se pode fazer venda a descoberto, não se pode vender produto que não tem. Toda e qualquer empresa de turismo grande deveria ter balanço público e auditado. Ou vamos continuar tendo problemas", diz ele.

Segundo o CEO da CVC, algumas companhias praticam tarifas que não foram combinadas com fornecedores, como companhias aéreas e redes hoteleiras, o que tem gerado preocupação nesses elos da cadeia. "Acho que a regulação não está avançando, mas vai avançar. Os reguladores e os fornecedores começam a se preocupar cada vez mais em como algumas empresas gerenciam os negócios. Falta transparência com consumidores, mas também com parceiros."

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