Mercados

Custo da dívida sobe para Dilma com barreiras a estrangeiros

Brasil é o que paga mais juros nos títulos domésticos, além de ser o país com menor participação estrangeira na dívida interna

Dificilmente a presidente eleita acabará com taxas do governo Lula a investidores externos (Marcello Casal Jr./AGÊNCIA BRASIL)

Dificilmente a presidente eleita acabará com taxas do governo Lula a investidores externos (Marcello Casal Jr./AGÊNCIA BRASIL)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de novembro de 2010 às 07h24.

Nova York - As barreiras impostas pelo governo à entrada de investidores estrangeiros no mercado local de títulos estão gerando custos cada vez maiores para o Tesouro Nacional.

Entre os maiores países da América Latina, o Brasil é o que tem a menor participação de estrangeiros na dívida mobiliária interna. É também o que paga o maior juro nos títulos domésticos na comparação com a taxa dos bônus internacionais, de acordo com dados compilados pelo ING Groep NV e pela Bloomberg. Os títulos do Tesouro de 2017 vendidos no País pagam 331 pontos-base mais que as notas em reais colocadas no exterior com prazo similar. É quase o dobro dos 127 pontos registrados pela Colômbia.

A diferença pode aumentar ainda mais e ampliar a conta do País com juros. A presidente eleita Dilma Rousseff dificilmente vai desmantelar os obstáculos aos investidores estrangeiros criados pelo seu mentor e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com David Beker, estrategista-chefe para América Latina do Bank of America Corp. em Nova York.

“Dilma é vista como continuidade”, disse Beker, em entrevista por telefone. A diferença de taxas “só vai mudar quando o governo parar de taxar fluxos de capital e não parece que eles estão dispostos a isso”.

Alta do IOF

Lula triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras para as aplicações estrangeiras em renda fixa no mês passado para conter a valorização cambial e deter o déficit recorde em conta corrente.

A equipe de Dilma não respondeu a um e-mail solicitando comentário para esta reportagem. Dilma, que foi chefe da Casa Civil e ministra das Minas e Energia no governo Lula, assume o cargo em janeiro após vencer a eleição de 31 de outubro com 56 por cento dos votos válidos.

Lula elevou a alíquota do IOF para estrangeiros de 2 por cento para 6 por cento nas aplicações em renda-fixa. A medida aumentou as barreiras já existentes para a participação de não- residentes no mercado, entre elas a exigência de que estrangeiros abram contas locais para comprar títulos.

O governo subiu o IOF após a taxa de câmbio atingir o menor patamar em dois anos de 1,6442 por dólar em 14 de outubro. A moeda brasileira avançou 28 por cento nos últimos dois anos, limitando as exportações e ajudando a elevar o déficit em conta corrente para US$ 47 bilhões em 12 meses.


Juro zero

Investidores internacionais em busca de alternativas aos juros próximos de zero nos Estados Unidos, Europa e Japão estão levando dinheiro para o Brasil para tirar proveito da taxa básica de 10,75 por cento. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse a repórteres em Brasília em 25 de outubro que o aumento do IOF estava funcionando para conter investimentos no mercado de dívida e a apreciação do real.

A moeda brasileira caiu 0,8 por cento no mês passado, a maior baixa desde a desvalorização de 4,3 por cento no mês até 2 de junho.

O IOF, ressuscitado a 2 por cento em 2009 por Lula após ter sido eliminado um ano antes, está fazendo com que os investidores estrangeiros comprem mais títulos internacionais brasileiros atrelados ao real.

‘Mau negócio'

O rendimento do título externo em reais de cupom de 12,5 por cento e vencimento em 2016 subiu 25 pontos-base, ou 0,25 ponto percentual, para 8,45 por cento no mês passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. A taxa da Nota do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2017 subiu 9 pontos-base para 11,77 por cento no período, aumentando a diferença entre os dois papeis para 331 pontos-base. A diferença atingiu 389, a maior em cinco meses, em 19 de outubro, um dia depois do segundo aumento do IOF.

Os R$ 10,7 bilhões em títulos externos em reais equivalem a apenas 0,7 por cento dos R$ 1,5 trilhão em dívida mobiliária local, de acordo com o Tesouro.

“É um mau negócio”, disse Tony Volpon, um estrategista para América Latina em Nova York da Nomura Securities International Inc., numa entrevista por telefone. “Eles preferem ter o imposto e diminuir a pressão sobre a moeda, mas têm de pagar uma taxa mais alta”.

A assessoria de imprensa do ministério da Fazenda não respondeu ao pedido de comentário para esta matéria.

Colômbia e Chile

Para a Colômbia, a diferença entre as taxas de títulos locais e internacionais é de 127 pontos-base. No Chile, são 138 pontos e nas Filipinas, 171.

Os investidores estrangeiros detêm 14 por cento dos títulos no Brasil, menos da metade dos 29 por cento no México e da média de 33 por cento na região, de acordo com o ING Groep NV.

O percentual em relação ao Brasil deve dobrar na próxima década porque as medidas do governo não vão manter os investidores à distância no longo prazo, disse David Spegel, estrategista-chefe para dívida da América Latina do ING Groep NV em Nova York.

“A existência de controles de capital é um obstáculo, mas é um mercado muito atraente”, disse Spegel.

Acompanhe tudo sobre:GovernoMercado financeiroTesouro NacionalTítulos públicos

Mais de Mercados

Banco do Brasil promove trocas nas lideranças de cinco empresas do conglomerado

Bolsas globais superam desempenho dos EUA nos primeiros seis meses do governo Trump

Ibovespa fecha em queda de 1,61% pressionado por tensões políticas

Dólar fecha em alta de 0,73% após Bolsonaro ser alvo de operação da PF