Os esforços do governo para conter a valorização do real frente o dólar poderia limitar a demanda por ofertas em moeda local (David Siqueira/Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2011 às 11h37.
Nova York e Brasília - O Tesouro Nacional pode ter de abandonar sua preferência por captação externa em reais por causa do custo. Se fosse emitir dívida global indexada à moeda brasileira, o governo pagaria o juro mais alto em 3 meses.
A taxa dos títulos da dívida externa em reais com vencimento em 2022 dispararam 82 pontos-base na semana passada, maior alta desde o período encerrado em 24 de outubro de 2008, e chegaram a 8,89 por cento, nível mais alto desde 27 de junho, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento nos títulos em dólar de 2021 subiu 16 pontos-base, ou 0,16 ponto percentual, no mesmo período, chegando a 3,7 por cento.
A preferência brasileira por emissões externas em reais torna mais fácil para empresas do País emitir dívida em moeda local no exterior, disse uma pessoa com conhecimento do assunto. Ela pediu anonimato por não estar autorizada a falar publicamente. Os esforços do governo para conter a valorização do real frente o dólar e a crescente aversão a ativos de mercados emergentes em meio à piora da crise da dívida europeia poderiam limitar a demanda por ofertas em moeda local, disse Siobhan Morden, chefe de estratégia para a América Latina do RBS Securities Inc.
“É incrível pensar que eles realmente acreditam ter acesso aos mercados com o real”, disse Siobhan em entrevista por telefone de Stamford, no estado americano de Connecticut. “A combinação de incertezas globais com o que parece ser um consistente risco político significa que eles têm de optar por financiamento em dólar.”
O Ministério da Fazenda disse que não comenta o assunto, segundo um comunicado enviado por e-mail.
‘Testando o mercado’
Sergio Trigo Paz, que administra US$ 6,5 bilhões em dívida de mercados emergentes no BNP Paribas SA em Londres, disse que o Brasil estava “testando o mercado” na semana passada para a colocação de um título de 10 anos, sem especificar se a oferta seria denominada em reais ou dólares. Enquanto que a demanda dos investidores por bônus em dólares seria forte, o Brasil teria dificuldade para vender papéis em reais, ele disse.
“O apetite por risco está encolhendo mesmo para bônus em moeda local”, Trigo Paz, que tem títulos brasileiros em carteira, afirmou em entrevista por telefone. “Eles teriam de pagar um prêmio decente se quiserem voltar ao mercado.”
Uma emissão denominada em reais também se encaixaria na meta do governo de alongar o vencimento da dívida em moeda local, segundo aquela pessoa com conhecimento do assunto. O governo não tomou uma decisão final sobre o tipo de bônus que vai emitir, ele disse.
O real recuou 8,3 por cento este mês, o pior desempenho entre as principais moedas, após o Banco Central cortar a taxa Selic inesperadamente em 31 de agosto. A redução de juros veio após o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras e restrições a negócios com câmbio, com o objetivo de segurar o salto de 34 por cento do real desde o fim de 2008 que vinha prejudicando o lucro dos exportadores.
‘Confusa’
A Brasil Telecom SA, que pertence ao grupo Oi, fez uma oferta recorde de R$ 1,1 bilhão em papéis com vencimento em 2016 a um rendimento de 9,875 por cento em 8 de setembro. Alex Zornig, diretor financeiro da Brasil Telecom, disse que a Ata do Copom, que explicou o corte da Selic, foi “confusa” para os investidores, levando a empresa a reduzir o prazo da colocação de sete para cinco anos.
A Petróleo Brasileiro SA pode vender títulos atrelados ao real no exterior pela primeira vez, o presidente José Sergio Gabrielli disse a repórteres no Rio de Janeiro em 15 de setembro.
“O real está forte e o dólar fraco”, o que torna a emissão em moeda local mais atraente, Gabrielli disse.
A desvalorização do real em relação ao dólar este mês limitou o avanço nos últimos três anos para 24,1 por cento, o segundo melhor desempenho entre as principais moedas depois do peso colombiano. O real caiu 3,4 por cento na semana passada, cotado a R$ 1,7331 por dólar.