O custo médio de produção da Petrobras foi de US$ 10,03 por barril no ano passado, o dobro do custo da Pemex, a maior petrolífera da América Latina em produção (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2011 às 08h50.
Rio de Janeiro - A Petróleo Brasileiro SA está perdendo da Petróleos Mexicanos no mercado de renda fixa. Com custos de produção mais altos e planos mais ambiciosos de investimento, a estatal brasileira está mais vulnerável à queda dos mercados globais.
A taxa dos títulos da Petrobras em dólar com vencimento em 2021 subiu 77 pontos-base, ou 0,77 ponto percentual, no mês passado para 5,33 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O rendimento dos papéis de mesmo prazo da estatal mexicana Pemex aumentou 44 pontos-base no mesmo período para 4,85 por cento. Os investidores estão pedindo 48 pontos-base a mais dos papéis da Petrobras em relação aos da Pemex. Em 9 de setembro, essa diferença era de três pontos-base.
A Petrobras tem plano de investimento de US$ 224,7 bilhões em cinco anos. É o maior programa desse tipo do setor de petróleo. A exploração do petróleo que está na camada de pré-sal pode custar cinco vezes mais do que os principais campos do México. A companhia sediada no Rio de Janeiro pode ter dificuldade para financiar projetos com a crise da dívida europeia contendo a demanda por ativos de mercados emergentes e o crescimento econômico global e levando à queda dos preços de petróleo.
“A Petrobras é uma produtora de alto custo”, disse Alfredo Viegas, diretor de estratégia de mercados emergentes na corretora de renda fixa Knight Libertas, em entrevista por telefone de Greenwich, no estado americano de Connecticut. “A queda dos preços de petróleo abaixo de US$ 100 o barril vai fazer muita gente olhar para esses projetos.”
‘Aumento dramático’
A taxa dos títulos da Petrobras é 131 pontos-base mais alta que a de papéis do governo com vencimento em 2021. Há um mês, essa diferença estava em 101 pontos base, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento dos papéis para 2021 da Exxon Mobil Corp., de Irving, no estado americano do Texas, permaneceu estável no mês passado. O custo médio de captação para empresas de petróleo de mercados emergentes saltou 82 pontos-base em setembro, segundo o JPMorgan Chase & Co.
Os papéis da Pemex caíram menos que os da Petrobras porque o ritmo mais lento de investimentos e o custo de produção mais baixo ajudam a proteger a empresa da Cidade do México das oscilações dos mercados globais, disse Michael Roche, estrategista de mercados emergentes da MF Global.
“Houve um aumento dramático na volatilidade do bônus da Petrobras”, disse Roche em entrevista por telefone de Nova York em 28 de setembro. A Pemex “é uma produtora de crescimento mais lento, de custos mais marginais e, portanto, há menos volatilidade em suas métricas financeiras e nos preços de seus papéis”, disse.
A assessoria de imprensa da Petrobras orientou a reportagem a buscar comentários sobre o desempenho dos títulos em relação aos da Pemex com seu gerente financeiro, Gustavo Tardin, que se recusou a comentar o assunto.
A Pemex não respondeu a pedidos por comentários feitos por e-mail e por telefone pela Bloomberg.
Custos em alta
O custo médio de produção da Petrobras, quinta maior petrolífera mundial por valor de mercado, foi de US$ 10,03 por barril no ano passado, o dobro do custo da Pemex, a maior petrolífera da América Latina em produção.
Os custos vão aumentar quanto a estatal brasileira começar a tirar petróleo de campos da região do pré-sal e a investir cerca de US$ 1,5 bilhão por semana na compra de equipamentos, navios e na modernização de refinarias. Os campos do pré-sal ficam cerca de 9 quilômetros abaixo do mar, sob uma camada sob o leito marinho. Atualmente cerca de 85 por cento da produção de petróleo brasileira vem da Bacia de Campos, que fica mais perto do continente e em águas mais razas.
Os campos do pré-sal, a maior descoberta no Ocidente desde o campo mexicano de Cantarell em 1976, darão lucro se o barril de petróleo ficar acima de US$ 35 a US$ 40, disse em 3 de maio o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli.
Desvalorização do real
A Petrobras espera que a queda do real nos últimos meses reduza seu lucro, já que o serviço da dívida denominada em dólares aumenta em moeda local, disse o diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, em entrevista no dia 21 de setembro no Rio de Janeiro. O real desabou 15 por cento no mês passado. A desvalorização também eleva o custo das importações de gasolina pela estatal.
A empresa não enfrenta necessidades imediatas de financiamento, disse Barbassa. Segundo ele, a Petrobras tem US$ 30 bilhões em caixa e múltiplas fontes de financiamento além dos mercados de títulos, como bancos e agências de crédito a exportação, que emprestaram à estatal aproximadamente US$ 5 bilhões neste ano.
“Os fundamentos de longo prazo são muito positivos para os detentores da nossa dívida”, Tardin disse a repórteres em São Paulo em 29 de setembro. “Nós encontramos o óleo, que é a parte mais difícil do negócio.”