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Crise faz grandes bancos voltarem a ser queridinhos do mercado

Setor está bem capitalizado e com reservas suficientes para cobrir pioras no risco de crédito dos tomadores, segundo analistas e gestores

Procura por crédito e busca de clientes por investimento menos arriscadas impulsionam negócios (Itaú/Divulgação)

Procura por crédito e busca de clientes por investimento menos arriscadas impulsionam negócios (Itaú/Divulgação)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 10 de abril de 2020 às 07h13.

Última atualização em 10 de abril de 2020 às 07h13.

Com a turbulência nos mercados globais, os maiores bancos da América Latina voltaram às graças de analistas depois da queda de suas ações.

O Goldman Sachs recomenda a compra de papéis do Itaú Unibanco e Banco Bradesco, enquanto o Bank of America adicionou o Itaú ao portfólio recomendado na região. Na semana passada, o UBS também elevou a recomendação das ações do Itaú para compra.

“Agora é a hora de comprar bancos”, disse Tim Love, diretor de ações de mercados emergentes da GAM Investments, de Londres, com cerca de US$ 1 bilhão sob gestão. Os grandes bancos brasileiros “são conhecidos por serem capazes de manter margens e dar lucro em qualquer ambiente”, acrescentou.

As maiores instituições financeiras do país, que incluem também o Banco do Brasil, devem enfrentar a crise melhor do que outras empresas, pois estão bem capitalizadas e com reservas suficientes para cobrir pioras no risco de crédito dos tomadores, segundo analistas e gestores. Bancos brasileiros também contam com anos de experiência em todos os tipos de crises, vantagem que as fintechs não têm.

“É difícil alguém ficar capitalizando as fintechs para competir com os bancos na situação atual”, disse João Braga, corresponsável por renda variável da XP Asset Management. “Os bancos vão ganhar um fôlego.”

Alvos fáceis

Os maiores bancos, repletos de produtos caros e serviços mal avaliados, eram alvos fáceis para as fintechs da região. Empresas como Nubank, Stone e Banco Inter conquistaram terreno nos últimos anos. Com isso, as ações de grandes bancos estiveram entre as de pior desempenho em 2019.

“Esse call [da ameaça] de fintech acabou ou foi postergado por muito tempo”, disse Braga.

Os valuations dos bancos, que despencaram desde fevereiro, também alimentam o otimismo. Instituições como Banco do Brasil são negociadas abaixo do valor patrimonial, enquanto os múltiplos caíram para os menores níveis desde 2016, quando o país enfrentava a pior recessão de sua história. Os bancos vêm tendo desempenho inferior ao Ibovespa desde o início do ano: o índice MSCI Brazil Financials acumula queda de 51% desde 1º de janeiro.

“O desempenho recente das ações já reflete uma recessão profunda”, disseram analistas do Goldman Sachs liderados por Tito Labarta em relatório na segunda-feira, acrescentando que a queda dos lucros do Itaú e Bradesco já está precificada nas ações.

Estimativas cortadas

O Goldman Sachs reduziu em 12% as projeções de lucro líquido para bancos brasileiros em 2020 diante da estimativa de retração de 3,4% do PIB neste ano. Os bancos podem compensar parcialmente o menor ritmo de crescimento do crédito em geral e aumento da inadimplência com mais empréstimos corporativos, já que empresas precisaram aumentar a liquidez.

Grandes empresas estão buscando crédito desde o início da pandemia e clientes de menor porte querem alternativas de investimento menos arriscadas, o que também impulsionou os negócios, disse o presidente o Itaú, Candido Bracher, em teleconferência.

“Estamos vendo um aumento dos depósitos bancários, pois as pessoas buscam reduzir o nível de risco das carteiras”, disse Bracher.

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