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Crescem posições vendidas em dólar com déficit em conta corrente

Existe um receio crescente de que o real, o rand sul- africano e o dólar australiano - as moedas de melhor desempenho nos últimos dois anos - desvalorizem-se em 2011

Número de contratos futuros negociados na BM&FBovespa que apostam na alta da moeda brasileira caiu 77% desde outubro, para 51.161 (Arquivo/Stock.XCHNG)

Número de contratos futuros negociados na BM&FBovespa que apostam na alta da moeda brasileira caiu 77% desde outubro, para 51.161 (Arquivo/Stock.XCHNG)

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Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2010 às 06h21.

São Paulo - O recorde no déficit em transações correntes está levando investidores estrangeiros a reduzirem apostas na valorização do real no ritmo mais rápido em sete meses.

O número de contratos futuros negociados na BM&FBovespa SA que apostam na alta da moeda brasileira caiu 77 por cento desde outubro, para 51.161. É a maior queda para um período de dois meses desde maio. O dólar passou de R$ 1,90 em maio pela primeira vez em oito meses.

Existe um receio crescente de que o real, o rand sul- africano e o dólar australiano - as moedas de melhor desempenho nos últimos dois anos - estejam fadados à forte desvalorização em 2011 porque o aumento das importações desses países vai levar a maiores déficits em transações correntes. No Brasil, o déficit provavelmente subiu para US$ 4,6 bilhões em novembro, o que elevaria o saldo negativo acumulado no ano para US$ 49 bilhões, de acordo com a estimativa mediana de 23 economistas sondados pela Bloomberg. O governo divulga o relatório às 10h30.

“O aumento no déficit em transações correntes vai pesar sobre a moeda no médio prazo”, disse Nick Chamie, diretor mundial para mercados emergentes do RBC Capital Markets em Toronto, em entrevista por telefone. “Eu não aconselharia as pessoas a elevarem significativamente suas posições em carteira ou a aumentarem a exposição nos níveis atuais.”

O dólar vai subir de R$ 1,71 ontem para R$ 1,72 até o fim de 2011, segundo a estimativa mediana de 17 analistas ouvidos pela Bloomberg. Em outubro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras em aplicações de estrangeiros em renda fixa para 6 por cento depois que o dólar caiu para R$ 1,65, o menor nível em mais de dois anos. Mantega disse em 9 de dezembro que o governo está pronto para tomar novas medidas para evitar a valorização do real.

Diferencial de taxas

Investidores despejaram dinheiro em títulos de renda fixa brasileiros este ano depois que os juros próximos de zero nos Estados Unidos e Europa alimentaram a busca por ativos de maior rentabilidade. As Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 rendem 912 pontos-base, ou 9,12 pontos percentuais, a mais do que os títulos de prazo semelhante do governo americano.

As aplicações de estrangeiros em bônus brasileiros subiram para US$ 14,8 bilhões nos 12 meses até outubro, contra US$ 8,3 bilhões no mesmo período do ano passado. Os investimentos estrangeiros em ações do País aumentaram de US$ 31,7 bilhões para US$ 33,7 bilhões no mesmo período.

A dependência cada vez maior do Brasil de fluxos especulativos de curto prazo para ações e renda fixa para financiar seu rombo nas transações correntes pode levar o governo a tomar novas medidas para conter a entrada desse tipo de capital, de acordo com Enestor dos Santos, economista-chefe do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA, segundo maior banco da Espanha.

“Quanto mais você depende de financiamento internacional, mais você fica exposto a flutuações no humor do mercado internacional”, disse Santos numa entrevista por telefone de Madri. “Então você tem mais volatilidade.”

O déficit nas transações correntes brasileiras acumulado em 12 meses equivale a 2,4 por cento do Produto Interno Bruto, a segunda taxa mais elevada entre sete maiores países latino- americanos, ficando somente atrás da Colômbia. Na África do Sul, o déficit equivale a 4,3 por cento do PIB e na Austrália, a 2,4 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O déficit brasileiro vai crescer para 3,2 por cento do PIB até 2011, segundo pesquisa da Bloomberg.

O governo deve aumentar a intervenção para enfraquecer o real e proteger os exportadores com a expansão do déficit para 3 por cento do PIB no ano que vem, disse Santos.

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