(Tuane Fernandes/Bloomberg/Getty Images)
Repórter
Publicado em 3 de agosto de 2023 às 09h26.
Última atualização em 3 de agosto de 2023 às 14h09.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.) para 13,25% aumentou as expectativas por quedas de juros ainda mais intensas. Um eventual corte de 0,75 ponto percentual, até então fora de cogitação, entrou nos cenários traçados por economistas — ainda que com um menor grau de probabilidade.
A decisão da noite de quarta-feira, 2, marcou o início do ciclo de corte de juros no Brasil. Até antes da decisão, o mercado seguia divido entre um corte de 0,25 p.p. e um de 0,50 p.p., que era tido como menos provável. Divido também foi reunião do Copom. Dos 9 membros votantes, 4 votaram por um corte mais brando, enquanto os outros 5 sustentaram o ajuste mais agressivo. O corte de 0,5 p.p. teve o apoio de Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino, indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e do presidente do Banco Central. Roberto Campos Neto.
O comunicado do BC foi de que a magnitude do corte deverá ser repetida nas próximas reuniões. A decisão e a indicação que os próximos cortes de juros serão na mesma magnitude deverão levar a taxa de juros Selic para 11,75% no fim do ano, abaixo do projetado pelo consenso do Focus, de 12% para o fim de 2023. Há grande expectativa, portanto, de que o consenso do Focus seja revisado para 11,75% já na próxima divulgação, passando a incorporar o corte acima do esperado desta semana.
Mas a possibilidade de cortes ainda mais intensos até o fim do ano já começam ganhar força. Apesar dos rumores de que a decisão por um corte mais agressivo teria influência política do governo, na avaliação de Vitor Martello, economista da gestora Parcitas, a decisão foi puramente técnica.
"Os diretores que votaram por um corte de 0,25 p.p. deram peso maior ao nível de atividade mais resiliente, enquanto os outros deram um peso maior à inflação corrente. Pelo critério da inflação corrente, haveria espaço para cortes ainda maiores, de 0,75 ponto percentual", disse Martello. "Acho mais prudente manter o ritmo de 0,50 p.p. por reunião, mas o mercado deverá começar a forçar o BC a fazer 0,75 p.p. de corte."
De acordo com o comunicado do Copom, houve unanimidade entre os membros (mesmo entre os que votaram por um corte mais brando) de manter o ritmo de 0,5 p.p. nas próximas reuniões. A avaliação é de que esse seria "o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário". O trecho, segundo Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, simboliza uma tentativa de o BC conter o ímpeto do mercado por cortes mais agressivos nas próximas reuniões.
"Tentaram esvaziar o debate do corte de 0,75 p.p. e manter o ritmo mais gradual de queda de juros, sem grandes surpresas. A menos que os dados venham muito fora do esperado, deveremos ter alguma monotonia nas próximas decisões. Acredito que o mercado ficará dividido entre cortes de 0,5 p.p. e 0,75 p.p., mas acredito que as probabilidades serão concentradas nos cortes de 0,50 p.p.", disse em nota.
João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro, também avalia que o mais provável é o Banco Central manter o ritmo de queda de juros em 0,50 ponto percentual, mas não descarta a possibilidade de uma intensificação no ciclo de cortes.
Em sua avaliação, o Copom poderia acelerar o passo, caso o ambiente econômico se mostre propício. "Isto é, se houver uma continuidade do menor risco doméstico, com o avanço das pautas econômicas na volta do recesso parlamentar, novas indicações de elevação do rating soberano, apreciação do câmbio, ou novos recuos das expectativas de inflação e das medidas de inflação mais sensíveis ao ciclo econômico."