Mercados

Credit Suisse diz que 2014 será um 2002 melhorado na Bovespa

Para os analistas, ano tem tudo para ser bem melhor nos detalhes que o tornam diferente de 2002, quando a bolsa brasileira viveu uma fase de grandes incertezas


	Bolsa de São Paulo: semelhanças entre 2002 e 2014 são “assustadoras”, segundo o Credit, porque aquele ano foi “horrível” para os investidores
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Bolsa de São Paulo: semelhanças entre 2002 e 2014 são “assustadoras”, segundo o Credit, porque aquele ano foi “horrível” para os investidores (Paulo Whitaker/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de fevereiro de 2014 às 17h17.

São Paulo - “Já vi esse filme” seria uma expressão adequada para descrever 2014, na opinião dos analistas do banco de investimentos Credit Suisse. Em relatório enviado a clientes, eles afirmam que o ano tem muitas marcas semelhantes à de 2002, quando a bolsa brasileira viveu uma fase de grandes incertezas. Contudo, para os analistas, o ano que acabou de começar tem tudo para ser bem melhor nos detalhes que o tornam diferente de 2002.

Além de listar as semelhanças e destacar as diferenças entre os cenários atual e de há 12 anos, os analistas do Credit também apontam os impactos dos problemas correntes sobre a bolsa, comentando sobre quais ações evitar e quais podem se beneficiar do que vem pela frente.

As semelhanças entre 2002 e 2014 são “assustadoras”, segundo o Credit, porque aquele ano foi “horrível” para os investidores. Não são poucos os pontos em comum. Em primeiro lugar, há uma eleição presidencial no fim do ano, assim como em 2002, e isso sempre é sinônimo de instabilidade no mercado. O equilíbrio fiscal do país dá sinais de deterioração e, devido aos problemas internos e ameaças externas, o real fica cada vez mais fraco em relação ao dólar.

Além disso, os níveis dos reservatórios de água estão baixos em diversos pontos do país, com chances (que não são pequenas) de haver racionamento de energia para evitar um possível apagão. E por último, mas não menos importante, a economia da Argentina está na berlinda, tal qual há 12 anos.

Apesar da tensão no ar, os analistas do Credit afirmam que, em 2014, o Brasil tem todas as condições para fazer diferente. “A economia brasileira se tornou mais resistente a choques desde 2002”, diz o relatório. “Essa menor vulnerabilidade é evidenciada pelo aumento das reservas, a substituição do dólar pelo real na denominação da dívida do setor público, menores taxas de juros e maior nível de investimento estrangeiro direto.”

Desequilíbrios fiscais e externos

Os analistas do Credit reconhecem que, em 2014, a situação fiscal do país não será das melhores. “Há grandes chances de um superávit primário modesto em 2014, e o país também pode ter sua classificação de risco rebaixada, assim como aconteceu em 2002”, aponta o relatório. Contudo, o país deve escalar do círculo vicioso observado naquela época.


Em primeiro lugar, os analistas afirmam que o perfil da dívida pública do Brasil mudou “consideravelmente, de modo que a dívida em dólar foi substituída pela em moeda local e, portanto, o enfraquecimento do real não implica em efeitos negativos diretos sobre a situação fiscal”.

O banco aponta ainda o fato de que o Banco Central melhorou o nível de reservas em moeda estrangeira, tornando o país mais flexível a choques, sem que seja preciso recorrer a aumentos drásticos na taxa básica de juros.

Sobre o câmbio, os analistas admitem que, dados os efeitos da retirada dos estímulos nos Estados Unidos, a moeda brasileira ficará em um patamar mais desvalorizado frente ao dólar. Para o fim de 2014, os analistas projetam um dólar comercial na casa dos R$ 2,60.

Oportunidade nas exportadoras

Nesse contexto, ações de empresas exportadoras, ou que tenha uma parcela significativa de suas receitas denominadas em dólar e de suas dívidas em reais podem se dar muito bem. Alguns papéis apontados pelo Credit para surfar a onda do real desvalorizado são:

Empresa Ação Recomendação
Braskem BRKM5 Compra
Minerva BEEF3 Compra
Suzano SUZB5 Compra
Iochpe-Maxion MYPK3 Compra
Brasil Foods BRFS3 Compra
Usiminas USIM5 Compra

Risco político

Em 2002, após oito anos de governo do PSDB, o PT aparecia no pleito com reais chances de vitória, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mercado temia as possíveis ações de Lula assim que assumisse a Presidência e o resultado, após a notícia da vitória, foi que a Bovespa despencou e o dólar disparou em relação ao real.

Neste ano, segundo o Credit, “o risco político é muito menor do que em 2002, quando os investidores temiam que uma vitória da oposição levasse a economia a uma brusca guinada à esquerda”. Contudo, agora, “a continuidade política parece ser a tendência mais provável” e, mesmo que a oposição chegue à eleição com chances de vitória, “é improvável que isso desencadeie uma venda generalizada de ações na bolsa brasileira”, na opinião dos analistas.

Maiores riscos

Apesar disso, o banco deixa claro que, mesmo durante o governo atual, algumas mudanças de regras aplicadas pelo governo levaram instabilidade à bolsa e afetaram vários papéis. Segundo o Credit, algumas ações podem sofrer mais por estarem expostas à regulação estatal e é preciso manter cautela em relação a elas:

Empresa Ação Recomendação
Petrobras PETR4 Venda
Banco do Brasil BBAS3 Manutenção
Telefônica VIVT4 Manutenção
TIM TIMP3 Manutenção
CCR CCRO3 Compra
Tractebel TBLE3 Manutenção
Cemig CMIG4 Manutenção
CPFL CPFE3 Compra
Cesp CESP6 Manutenção
Ecorodovias ECOR3 Compra
TAESA TAEE11 Manutenção
AES Tietê GETI4 Venda
Arteris ARTR3 Manutenção
Transmissão Paulista TRPL4 Manutenção

Racionamento de energia

Entre 2001 e 2002, uma fase de escassez de chuvas levou os reservatórios do país a níveis baixos e, para evitar uma crise energética, o governo adotou o racionamento de energia em diversas regiões do país, reduzindo compulsoriamente o consumo em 20%.

Os analistas afirmam que, naquela época, tanto quanto agora, a economia brasileira tinha uma excessiva dependência da energia hidrelétrica e, portanto, ficava refém das intempéries. Contudo, em 2014, o Credit lembra que a matriz energética do país está mais diversificada e a seca não é tão dramática. “É prematuro concluir se o racionamento será necessário, mas acreditamos que uma reedição do que aconteceu em 2002 seja improvável”, diz o relatório.

Impactos de um possível racionamento

Segundo o banco, formas mais estáveis de geração de energia, sobretudo nas termelétricas, reduzem os riscos. Os analistas, contudo, consideram quais seriam os impactos em um cenário de racionamento. Ações de empresas geradoras e distribuidoras de energia elétrica seriam as mais prejudicadas, conforme a tabela abaixo:

Empresa Ação Recomendação
Eletropaulo ELPL4 Venda
Light LIGT3 Compra
AES Tietê GETI4 Venda
Cesp CESP6 Manutenção
Tractebel TBLE3 Manutenção
Alupas ALUP11 Compra
Cemig CMIG4 Manutenção
CPFL CPFE3 Compra
Energias do Brasil ENBR3 Compra

Crise na Argentina

Assim como há 12 anos, hoje a Argentina passa por sérios problemas e preocupa os investidores. Mas, de acordo com os analistas do Credit Suisse, os riscos atualmente são menores. “Os laços da Argentina com a economia internacional (incluindo a brasileira) diminuíram substancialmente na última década, limitando os efeitos de um potencial contágio”, afirma o relatório. “Mesmo que haja uma grande desaceleração das exportações do Brasil para a Argentina, isso teria pouco impacto na economia brasileira.”

Entre as ações que podem ser prejudicadas caso as notícias vindas do país vizinho piorem, as principais são:

Empresa Ação Recomendação
Ambev ABEV3 Compra
Brasil Foods BRFS3 Compra
Contax CTAX11 Compra
Mahle Metal Leve LEVE3 Manutenção
Positivo Informática POSI3 Neutro
Randon RAPT4 Neutro
T4F SHOW3 Neutro
Acompanhe tudo sobre:Açõesanalises-de-acoesB3bolsas-de-valoresCrédit AgricoleEmpresasEmpresas francesas

Mais de Mercados

Mercado intensifica aposta em alta de 50 pontos-base na próxima reunião do Copom

Ação da Agrogalaxy desaba 25% após pedido de RJ e vale menos de um real

Ibovespa fecha em queda, apesar de rali pós-Fed no exterior; Nasdaq sobe mais de 2%

Reação ao Fomc e Copom, decisão de juros na Inglaterra e arrecadação federal: o que move o mercado