Inflação ao consumidor nos Estados Unidos vem avançando nos últimos meses (Kevin Lamarque/Reuters)
Editor de Invest
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 11h12.
O índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) mostrou que o pesadelo do Federal Reserve ainda não terminou, com os preços subindo mais que o previsto em agosto. A inflação americana avançou 2,9% no mês passado e o núcleo variou 0,3%. Os agentes de mercado, contudo, não acreditam que essa surpresa pouco positiva muda a perspectiva de que o Fed vai começar a reduzir juros a partir da próxima reunião do seu Comitê de Mercado Aberto, marcada para quarta-feira que vem, 17 de setembro.
"Embora a inflação siga acima da meta do Federal Reserve, os números de hoje não devem alterar o plano de voo da autoridade monetária", afirmou Rafael Perez, economista da Suno Research. Segundo ele, o foco da autoridade monetária deve estar agora no enfraquecimento do mercado de trabalho dos Estados Unidos.
Na semana passada, os dados oficiais mostraram abertura pífia de vagas de trabalho no país, e uma revisão para baixo de números anteriores, enquanto a taxa de desemprego subiu.
"Diante da fraqueza mais evidente no mercado de trabalho, as decisões do Fed tendem a pender para o mandato ligado ao emprego e se antecipar a uma possível desaceleração maior do que o esperado da economia", escreveu Perez.
Se assim for, o Fed estará assumindo o risco de reduzir os juros cedo demais e estimular a economia antes da inflação estar controlada.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, acredita que a inflação de agosto, agora um pouco mais distante da meta, vai incomodar uma parcela do colegiado do Fed. "Em abril estava em 2,3% e depois disso não parou de subir", relembra.
Ele nota que os preços de importação estão impactando a economia americana de forma mais relevante, o que pode ser visto sobretudo nos preços de frutas, carne bovina, veículos e vestuário - itens que os EUA costumam trazer de fora.
"Tem um efeito sim, cada vez mais visível das tarifas americanas e isso vai continuar. Os varejistas tentaram segurar repasses, mas já disseram que não tem jeito. A tendência é de piora", diz Cruz. Para ele, o avanço dos preços tende a limitar o espaço de corte de juros do Fed a um nível de 3,5% ou até 3%, como uma parte do mercado teoriza.
"Agora me parece que chegar em 4% ou pouco abaixo disso é bem ousado. Não vemos uma piora tão relevante, o mercado de trabalho piora, mas é por falta de mão de obra de imigrantes", afirma Cruz. É a oferta de mão de obra que tem caído, a demanda não tem sido tão afetada assim, complementa.
"O Fed não deve relaxar sua postura, mas sim monitorar de perto os dados e comunicar suas intenções claramente", acrescentou o economista, Alfredo Ignacio Trindade Netto sócio-fundador da Ecco Planet Consulting.
A ferramenta Fed Watch, do CME Group, mostra que o mercado segue acreditando no início de um ciclo de flexibilização na próxima reunião do Fed. A maioria, 88,7% das apostas, aponta para um corte de 25 pontos-base. Os outros 11,3% creem uma queda mais acentuada, de 50 pontos.