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Cortes moderados de Tombini não conseguem convencer Wells Fargo

Companhia afirma que esse plano de ação afeta a credibilidade do Banco Central

O corte da Selic em agosto fez do BC brasileiro o único do Grupo dos 20 além da Turquia, e o primeiro da América Latina, a reduzir os juros como reação à crise europeia (Valter Campanato/ABr)

O corte da Selic em agosto fez do BC brasileiro o único do Grupo dos 20 além da Turquia, e o primeiro da América Latina, a reduzir os juros como reação à crise europeia (Valter Campanato/ABr)

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Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2011 às 05h52.

Brasília - O Banco Central confirmou as apostas de operadores do mercado de renda fixa de que fará cortes “moderados” do juro básico depois de reduzir a Selic em meio ponto percentual ontem, pela segunda reunião consecutiva. A pergunta agora é se as pressões inflacionárias forçarão o BC a encerrar o ciclo de cortes após mais uma redução.

O Comitê de Política Monetária, liderado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, decidiu reduzir a taxa Selic de 12 por cento para 11,5 por cento, dizendo que a piora no cenário mundial exige uma reação feita “tempestivamente”. A decisão unânime veio de acordo com o previsto por 61 dos 68 analistas pesquisados pela Bloomberg e em linha com os preços no mercado de juros futuros.

A estratégia do BC de baixar a Selic preventivamente tem levado investidores a correrem para títulos atrelados à inflação como forma de proteção contra a maior alta dos preços ao consumidor em seis anos. Esse plano de ação também afeta a credibilidade do BC, disse o Wells Fargo & Co. O corte da Selic em agosto fez do BC brasileiro o único do Grupo dos 20 além da Turquia, e o primeiro da América Latina, a reduzir os juros como reação à crise europeia.

“É bem agressivo, não vejo nada de moderado em cortes de meio ponto percentual”, disse Aryam Vazquez, economista para mercados emergentes do Wells Fargo, em entrevista por telefone de Nova York. “Os argumentos para a redução dos juros não se sustentam.”

Ajuda externa

As expectativas de inflação até 2013, refletidas na diferença entre as taxas de títulos prefixados e aqueles atrelados à inflação, subiu para 6,13 pontos percentuais, contra 5,86 pontos em 31 de agosto. Esse foi o dia em que o Copom surpreendeu investidores ao cortar o juro depois de cinco aumentos consecutivos. As expectativas de inflação no México e no Chile caíram no mesmo período.

O BC está contando que o desaquecimento da economia mundial vai compensar o aumento da demanda doméstica, que foi alimentada pelos juros menores, pelo desemprego em mínimas históricas e pela disparada no crédito. No comunicado de duas frases divulgado ontem, a instituição disse que ajustes “moderados” na Selic não vão comprometer a meta de levar a inflação para o centro da meta em 2012. Os preços ao consumidor subiram 7,31 por cento nos 12 meses até setembro.

Economistas estão divididos quanto à duração do ciclo de redução dos juros. O Barclays Plc. e o Espírito Santo Investment Bank previam ontem que o Copom fará mais um corte de meio ponto percentual na reunião de 29 e 30 de novembro. Vazquez, do Wells Fargo, acreditava que a Selic pode cair mais 1,5 ponto percentual. Operadores do mercado de renda fixa apostam em redução de 1,25 ponto percentual até abril, segundo estimativas da Bloomberg, baseadas em taxas de contratos de juros futuros.


Pressão política

O Barclays disse ontem em nota a clientes que não espera uma reação dos juros futuros à decisão do Copom, já que o comunicado do BC não deu nenhuma indicação de que o ritmo de cortes será acelerado. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2013 caiu ontem 3 pontos-base, para 10,44 por cento.

Sete economistas previam um corte ainda maior da Selic, de até um ponto percentual, na reunião de ontem, depois que a presidente Dilma Rousseff, elogiou a reversão na política monetária em agosto. Falando a empresários no mês passado, a presidente disse que o País não pode perder a oportunidade criada pela crise internacional para reduzir sua taxa de juros, hoje a maior do G-20.

Depois do corte em agosto, que surpreendeu todos dos 62 analistas consultados pela Bloomberg, economistas passaram a prever que o País vai deixar de cumprir a meta de inflação anual pela primeira vez desde 2003, segundo a pesquisa Focus divulgada pelo BC em 14 de outubro. A projeção é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo suba 5,61 por cento em 2012, acima dos 5,2 por cento no final de agosto.

Sinais de desaceleração

A economia doméstica mostra sinais de desaceleração. O Índice de Atividade Econômica, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto do País, teve retração de 0,53 por cento em agosto em relação ao mês anterior, a maior queda mensal desde a crise financeira global de 2008. Economistas esperam que a economia cresça 3,42 por cento este ano e 3,6 por cento em 2012, abaixo dos 7,5 por cento de 2010, segundo a pesquisa Focus mais recente.

“O cenário doméstico corrobora o corte de juros”, disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra SA, em entrevista por telefone de São Paulo. O Safra cortou sua previsão para crescimento econômico em 2012 de 3,7 por cento para 3,3 por cento depois que as vendas do varejo tiveram em agosto a maior queda desde março de 2009. A produção industrial teve em agosto a terceira retração em cinco meses.

Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do BC, disse que a perspectiva benigna para a inflação vista pelo Copom é difícil de se materializar.

“O Banco Cental está correndo um risco forte”, disse Vieira da Cunha, hoje sócio da Tandem Global Partners LLC, um fundo de hedge de Nova York. “No primeiro trimestre do próximo ano, vão reavaliar a política monetária.”

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