Empresas que praticam preços internacionais terão efeito neutro (EXAME)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2010 às 18h41.
SÃO PAULO - Os receios com a recuperação dos Estados Unidos, a crise fiscal da Europa e o aperto monetário na China fizeram a Bovespa terminar 2010 com desempenho distante das previsões de analistas, mas a expectativa é que a melhora do cenário externo no ano que vem se traduza em um período mais positivo para o mercado acionário doméstico.
Muitos analistas previam ao longo do ano que o Ibovespa --principal índice de ações da bolsa paulista-- conseguisse novos recordes históricos, encerrando 2010 entre 74 mil e 75 mil pontos.
Contudo, o Ibovespa terminou 2010 com 69.304 pontos, ou alta de 1 por cento no ano. Na última sessão do ano a valorização foi de 0,51 por cento e em dezembro o índice avançou 2,4 por cento.
As projeções para o mercado acionário brasileiro não se confirmaram também devido ao fraco desempenho das ações da Petrobras , que sofreram em meio ao longo processo de capitalização da estatal. As ações preferenciais da empresa amargaram queda de 23 por cento em 2010.
"É preciso levar em conta o ótimo 2009 que o Brasil teve depois de um difícil 2008", apontou o chefe de ações para América Latina na Baring Asset Management, em Londres, Roberto Lampl.
No ano passado, o Ibovespa registrou valorização ao redor de 83 por cento, após perder cerca de 41 por cento nos 12 meses de 2008, no estouro da crise financeira global.
Em 2010, o índice teve sua máxima durante os negócios no começo de novembro, aos 73.103 pontos, sem romper o recorde histórico de 73.920 tocado no fim de maio de 2008. A mínima intradia deste ano ficou em 57.633 pontos, em maio, diante de visões ruins sobre os EUA e por temores sobre a zona do euro.
"Vamos para frente, o mundo inteiro caindo em dívidas e a gente com espaço para crescer aqui", afirmou o analista sênior da BB Investimentos Hamilton Moreira.
"Com certeza nós esperávamos que a Petrobras tivesse uma performance melhor. Ela travou bem o índice, tem a ver com a capitalização. Com a eleição presidencial definida, os fundamentos da empresa continuam. E com os EUA voltando a crescer, as petrolíferas serão favorecidas", acrescentou.
Para 2011, a previsão é que o Ibovespa termine o ano na faixa dos 80 mil pontos, segundo a mediana das estimativas de 23 analistas, estrategistas e gestores de fundo consultados pela Reuters no início de dezembro. Isso representaria alta em torno de 15 por cento sobre o atual patamar.
Altas e destaque
Apesar do desempenho do Ibovespa não ter deixado o mercado satisfeito, alguns papéis se sobressaíram positivamente em 2010, notadamente aqueles de empresas ligadas à economia interna e menos dependentes do exterior.
O índice de ações brasileiras do setor imobiliário <.IMOB> acumulou ganho de 10,5 por cento em 2010, enquanto o que acompanha empresas voltadas ao consumo <.ICON> subiu 25,6 por cento.
"Foi um ano em que aqueles que estavam fora de petróleo e siderurgia se beneficiaram", resumiu o gestor de renda variável da Mercatto Investimentos, Roni Lacerda.
O estrategista para investidores de varejo da Ágora Corretora, Francisco Cataldo, citou como destaques a varejista de roupas Lojas Renner e a fabricante de bebidas AmBev . Para 2011, ele mantém a aposta em companhias expostas ao mercado doméstico. "Vão ser as nossas preferidas", afirmou.
Dentro do Ibovespa, a maior alta do ano ficou com a ação ordinária Souza Cruz , que subiu ao redor de 65 por cento, seguida pelos papéis preferenciais da AmBev , que no mesmo intervalo avançaram cerca de 50 por cento. As ações ordinárias da Lojas Renner , por sua vez, tiveram ganho perto de 48 por cento.
(Reportagem adicional de Luciana Lopez; Edição de Cesar Bianconi)