Luis Cezário, economista da Asset 1: gestora espera uma Selic de 11,5% ao final de 2023 (Asset 1)
Repórter de Invest
Publicado em 21 de setembro de 2023 às 06h07.
Última atualização em 21 de setembro de 2023 às 16h26.
Em mais uma decisão unânime e sem surpresas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou a taxa básica de juros brasileira, a Selic, em 0,5 ponto percentual, para 12,75% ao ano. Junto com a decisão, o Copom sinalizou uma nova redução, de mesma magnitude, para a próxima reunião, em novembro.
Uma mudança no rumo pode vir apenas na última reunião do ano, em dezembro, quando o Copom terá munição para aumentar o ritmo dos cortes. A avaliação é de Luis Cezário, economista-chefe da gestora Asset 1, que projeta uma Selic de 11,5% ao final de 2023, com uma redução de 0,5 p.p. em novembro e outra de 0,75 p.p. no mês seguinte. Entre as razões, estão uma desaceleração da economia e uma melhora da inflação – condições colocadas pelo Copom como essenciais para acelerar os cortes.
“Nosso monitoramento indica que a atividade econômica vai piorar no terceiro trimestre. Além disso, as coletas de inflação mostram um cenário benigno, especialmente nos núcleos. [Um corte de 0,75 p.p.] não é uma projeção óbvia, mas até dezembro podemos ter as condições para acelerar o ritmo de cortes”, afirmou Cezário em entrevista à EXAME Invest.
O comunicado trouxe duas novidades. A primeira delas é que o aspecto fiscal voltou ao radar do Banco Central. “O risco vale para os dois lados: se o governo convencer o mercado de que vai alcançar o déficit, o ritmo de cortes de juros pode acelerar. E se a perspectiva fiscal piorar, o cenário se inverte”, disse.
O segundo ponto é a preocupação do BC com o ambiente externo, que envolve alta de juros nos Estados Unidos e desaceleração da economia chinesa. Na última quarta-feira, o Fed manteve a taxa de juros dos EUA inalterada, mas sinalizou taxas altas por mais tempo. Segundo Cezário, é um fator que pode influenciar na trajetória da taxa. Veja abaixo os principais pontos da entrevista:
A decisão do Copom era amplamente esperada pelo mercado e também por vocês da Asset 1. Quais fatores permitiram esse movimento?
Luis Cezário: É possível apontar três fatores. Um deles é o fato da atividade econômica ter vindo mais forte no segundo trimestre, mostrando uma economia com menos ociosidade. Para acelerar os juros, seria necessário um PIB mais fraco. Outro ponto é que as expectativas de inflação pararam de cair nos horizontes mais longos, estacionaram em 3,5%. E o terceiro é que as projeções do modelo do cenário de referência subiram. Sendo assim, não tem porque fazer algo diferente do que já havia sido sinalizado.
Quais as perspectivas para as próximas reuniões, o Comitê pode acelerar o ritmo de cortes?
Daqui para frente, é preciso observar se há uma melhora do quadro inflacionário. Os últimos dados de inflação corrente vieram bons, mas imagino que o Banco Central queira uma confirmação maior do processo de desinflação. Se houver um cenário de inflação mais baixa e a atividade dando sinais de desaceleração, o debate de cortes maiores deve surgir no final do ano, na reunião de dezembro.
A projeção da Asset 1 é de um corte de 0,75 p.p. em dezembro?
Sim. Nosso monitoramento indica que a atividade econômica vai piorar no terceiro trimestre. Além disso, as coletas de inflação mostram um cenário benigno, especialmente nos núcleos. [Um corte de 0,75 p.p.] não é uma projeção óbvia, mas até dezembro podemos ter as condições para acelerar o ritmo de cortes.
O comunicado trouxe de volta o aspecto fiscal. Como esse ponto pode influenciar os próximos movimentos do Copom?
O risco vale para os dois lados: se o governo convencer o mercado de que vai alcançar o déficit zero em 2024, o ritmo de cortes de juros pode acelerar além do que projetamos. E se a perspectiva fiscal piorar, o cenário se inverte. Acredito que o Copom será pragmático, focando nos efeitos que as mudanças de percepção da política fiscal vão ter sobre as variáveis de interesse do Comitê, como as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Não acho que vá fazer preço imediatamente, mas pode influenciar o BC no futuro.
Houve menção também ao exterior, onde o processo de desinflação está mais incerto. Como isso pode respingar no Brasil?
É algo com potencial de tornar o cenário mais complexo para o Copom. O Fed sinalizou que os juros vão ficar altos por mais tempo, o que gerou um movimento de aversão a risco – o mercado ainda não precificou completamente uma nova alta de juros nos EUA. Se ela se concretizar, podemos ter um movimento adicional de depreciação da taxa de câmbio, um maior prêmio de risco. São coisas que podem jogar contra [a tendência de queda de juros].
E a desaceleração da China, grande parceiro comercial do Brasil?
A China está com medidas para estabilizar o crescimento da economia, mas as commodities – com exceção do petróleo – estão com uma base mais negativa. Pode indicar uma piora nos termos de troca do Brasil, que poderia bater na taxa de câmbio. E isso, por sua vez, dificultaria a melhora da inflação e uma aceleração do ritmo de cortes. É algo que pode reforçar a estratégia mais cautelosa que o Copom está seguindo no momento.
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