Jogadores da Argentina: cada torcedor gastará cerca de US$ 2.000 (Divulgação / Adidas)
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2014 às 14h40.
Buenos Aires - Os esforços da Argentina para estabilizar o peso estão sendo minados pelos 100.000 torcedores que o Brasil espera que cruzem a fronteira para a ver a seleção liderada por Lionel Messi tentar obter seu terceiro título na Copa do Mundo.
Cada torcedor gastará cerca de US$ 2.000, levando as despesas totais para US$ 200 milhões, segundo Luis Secco, diretor da Perspectiv@s Económicas em Buenos Aires.
Os argentinos que estão driblando os controles cambiários para comprar dólares no mercado negro aumentarão a pressão sobre a taxa de câmbio, que despencou 8,7 por cento nos últimos 30 dias, e o consumo realizado pelos turistas com cartões de crédito ou com a compra de dólares no mercado oficial afetaria reservas de US$ 28,6 bilhões, que já rondam o valor mais baixo em oito anos.
Os três anos de controles de capital no mandato da presidente Cristina Fernández de Kirchner têm se mostrado ineficientes para salvaguardar as reservas usadas para pagar credores ou deter uma queda da moeda, o que levou Cristina a realizar, em janeiro, a maior desvalorização da taxa oficial do peso desde 2002.
Se a brecha de 42 por cento entre o valor do peso no mercado oficial e no mercado negro se ampliar devido à maior demanda por dólares, os produtores de soja, cujos cultivos são a principal fonte de receita com exportações, começarão a acumular suas colheitas esperando uma segunda desvalorização neste ano, disse Secco.
“Quanto mais tempo a Argentina durar no campeonato, maior será a demanda por dólares”, disse Secco, que planeja viajar a Belo Horizonte para ver a seleção argentina enfrentar o Irã, no dia 21 de junho.
Se a Argentina chegar à final, “algumas pessoas farão viagens caras de última hora e precisarão de dinheiro para pagar pelos ingressos, e isso poderia aumentar a pressão sobre o mercado”.
Previsão para o campeonato
Em uma nota publicada em 28 de maio, o Goldman Sachs Group Inc. disse que a Argentina, capitaneada por Messi, atacante do Barcelona FC e quatro vezes vencedor do prêmio da FIFA de jogador do ano, possui uma chance de 14 por cento de vencer no torneio, superada apenas pelo país anfitrião.
O Goldman prevê que a Argentina perderá para o Brasil por 3x1 na final, no dia 13 de julho, baseando sua previsão em modelos matemáticos de dados históricos.
A Argentina, que desvalorizou o peso 19 por cento em janeiro para frear a perda de reservas, controla a venda de dólares à taxa oficial e acrescenta um imposto de 35 por cento às compras realizadas com cartões de crédito no exterior para desencorajar os gastos em moeda estrangeira.
Mesmo assim, os argentinos gastaram US$ 916 milhões no exterior nos primeiros três meses do ano, 10 por cento a mais do que há um ano.
Os dólares nos cofres do Banco Central são cruciais para a Argentina porque o país foi excluído dos mercados internacionais de capitais desde um default recorde por US$ 95 bilhões em 2001.
O governo deve pagar US$ 907 milhões em juros no final deste mês e mais US$ 650 milhões ao Clube de Paris em julho.
Drenagem de reservas
O peso despencou 13 por cento neste ano no mercado negro, para 11,55 por dólar, e o peso oficial caiu 20 por cento, para 8,1297 por dólar.
Embora a demanda por dólares durante a Copa “não ajude”, ela será insignificante em comparação com os outros desafios enfrentados por Cristina, como a inflação alta e uma economia que, em março, se contraiu pela primeira vez desde setembro de 2012, disse Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman para a América Latina.
As reservas se estabilizarão em cerca de US$ 28 bilhões até o final de ano após caíram quase US$ 15 bilhões nos últimos 17 meses, ajudadas por aproximadamente US$ 30 bilhões em exportações de grãos, disse o presidente do Banco Central, Juan Carlos Fábrega, em um evento em Buenos Aires no dia 28 de maio.
Omar Chávez, operador de moedas do mercado negro, disse que a demanda por reais brasileiros subiu cerca de 70 por cento na última semana.
“Eu comprei apenas R$ 1.900 e vendi tudo num piscar de olhos”, disse Chávez, em uma rua no centro de Buenos Aires. “É óbvio que o preço continuará subindo”.