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Consumo nos emergentes cai e ameaça ações caras do setor

Índice que mede valor dos papéis do setor em todo o mundo está 57% abaixo do mesmo indicador considerando apenas os emergentes

BM&FBovespa: a Hering, por exemplo, tem múltiplo de 5,2 vezes sua receita (Germano Lüders/EXAME.com)

BM&FBovespa: a Hering, por exemplo, tem múltiplo de 5,2 vezes sua receita (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2011 às 14h07.

Londres - As ações do setor de consumo de mercados emergentes estão sendo negociadas a múltiplos recordes em relação à média mundial, mesmo com a desaceleração na demanda do Brasil à Rússia.

O índice MSCI Emerging Markets Consumer Staples tem valor equivalente a 19 vezes a estimativa de lucro de seus componentes, ou 57 por cento a mais do que o índice MSCI All- Country World. Essa é a maior diferença desde janeiro de 2006. A última vez que esse prêmio passou de 50 por cento, em agosto de 2010, o índice de consumo de emergentes recuou e ficou 16 pontos percentuais abaixo do índice mundial de ações em seis meses.

No último trimestre, investidores compraram ações de varejistas e produtores de alimentos dos mercados emergentes porque os lucros dessas empresas estão protegidos contra a crise da dívida na Europa e a queda nas contratações nos Estados Unidos. Agora, os consumidores dos maiores países em desenvolvimento estão reduzindo suas compras devido às altas dos juros. O crescimento das vendas no varejo no Brasil e na China diminuiu no segundo trimestre, enquanto o ritmo de compra de carros da Índia despencou para o menor nível em dois anos e a renda na Rússia caiu pelo quinto mês consecutivo em maio.

“Os investidores ganham mais evitando os setores de consumo”, disse Emil Wolter, chefe de estratégia de renda variável para Ásia no Royal Bank of Scotland Group Plc de Cingapura. “Há muitas nuvens cobrindo, em especial, o setor de consumo, que está com um prêmio significativo em relação ao resto do mercado.”

O índice MSCI para ações dos setores de alimentos, bebidas e produtos domésticos de mercados emergentes acumula ganho de 6,1 por cento desde o final de março. O índice MSCI Emerging Markets Consumer Discretionary, que segue bens de consumo, incluindo os setores imobiliário, varejo de vestuário e fabricantes de veículos, subiu 7,9 por cento no mesmo período.

Hering

O índice MSCI All-Country, que segue ações de mercados emergentes e desenvolvidos, recuou 0,8 por cento em meio a desaceleração da geração de empregos nos EUA para o ritmo mais lento em oito meses e ao aumento de especulações sobre uma moratória da Grécia.

A brasileira Cia. Hering, fabricante de roupas e acessórios, tem múltiplo equivalente a 5,2 vezes a receita, a maior já registrada em relação ao múltiplo do Ibovespa, depois que a ação subiu 18 por cento na BM&FBovespa.


A Lovable Lingerie Ltd., de Mumbai, acumulou alta de 71 por cento no último trimestre. O múltiplo da ação é 50 vezes o lucro, o dobro da média dos demais produtores de acessórios e bens de luxo do mundo.

A OAO Magnit, maior varejista do setor de alimentos da Rússia, avançou 2,7 por cento em Londres e é negociada a 25 vezes a estimativa de lucro, um prêmio recorde em relação ao índice Micex. A Want Want China Holdings Ltd., maior produtor de bolos de arroz e leite com sabor da China, saltou 24 por cento na bolsa de Hong Kong, sendo negociada a 36 vezes o lucro. O múltiplo da ação está três vezes maior do que o do índice MSCI China.

Lucros menores

Os lucros de companhias do setor de consumo básico dos países em desenvolvimento cresceram em um ritmo anual de 19 por cento nos últimos cinco anos. No mesmo período, os produtores de bens de consumo expandiram seus resultados em 22 por cento. São dois dos três maiores crescimentos entre as 20 indústrias dos países desenvolvidos e emergentes, segundo dados compilados pela Bloomberg e pela MSCI.

A expansão neste ano vem sendo menor. O lucro médio do índice que segue empresas do setor de consumo básico avançou 11 por cento no primeiro trimestre, abaixo dos 37 por cento observados no último trimestre de 2010, segundo dados compilados pela Bloomberg. O índice que acompanha companhias do setor de bens de consumo teve queda de 6,3 por cento no lucro, em comparação ao ganho de 17 por cento no quarto trimestre de 2010, segundo os dados.

Classe média

“Pode haver ações de empresas a serem evitadas porque os múltiplos estão altos, e como setor, também não estão baratas”, disse Martial Godet, chefe de investimentos em mercados emergentes no BNP Paribas Investment Partners, que possui US$ 70 bilhões em aplicações. “Mas elas estão dando resultados e algumas surpresas positivas.”

Dados que mostram desaceleração da expansão do consumo em alguns países emergentes não interferiram na tendência de longo prazo de aumento da demanda para bens de consumo, disse Philippe Langham, da RBC Global Asset Management. As nações desenvolvidas vão abrigar 93 por cento da classe média mundial até 2030, acima dos 56 por cento de 2000, e metade dos 800 milhões de novos consumidores de renda média podem vir da Índia e da China, segundo o Citigroup Inc.

“Nós vemos que ainda há um longo caminho para a convergência dos salários dos emergentes para os de países desenvolvidos”, disse Langham, que gerencia US$ 872 milhões no fundo de mercados emergentes da RBC em Londres. “E uma proporção cada vez maior da renda das nações emergentes vem sendo gastas com bens de consumo.”

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