Bill Ackman: fundo do investidor gerou um retorno líquido de 692% em 10 anos (Bloomberg News/Jin Lee)
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2015 às 07h04.
São Paulo – O cabelo precocemente cinza de William A. Ackman, conhecido como Bill Ackman, só não é mais característico do que sua fama de investidor polêmico e brigão.
Em sua última troca de farpas sobrou até para o megainvestidor Warren Buffett. Um dos braços direitos de Buffett na Berkshire Hathaway, Charlie Munger, criticou Ackman por seu investimento na empresa farmacêutica Valeant.
"A Valeant é uma empresa que ignora todas as considerações morais em sua forma de fazer negócios”, disse Munger em uma entrevista.
Em um contra-ataque, Ackman declarou ter um problema com o investimento que a empresa de Buffett faz na Coca-Cola. Pelo Twitter, o polêmico investidor afirmou que Coca-Cola provavelmente fez mais do que qualquer outra empresa no mundo para criar obesidade e diabetes de forma geral.
“Qual é o modelo de negócios da Coca-Cola? É substituir a água que as crianças e os adultos consomem com água açucarada. Ao contrário do que acontece com as empresas de tabaco, não tem um aviso na lata de Coca dizendo, ‘substituir a água na sua dieta por Coca-Cola pode causar danos à saúde’. Então, quando o Charlie diz que a Valeant é uma empresa profundamente imoral, eu responderia isso.”, declarou.
O poderoso e pequeno Pershing Square
Ackman é presidente do Pershing Square Holdings, fundo que ele montou em 2004. Em 10 anos, o Pershing gerou um retorno líquido de 692%, enquanto o retorno de um dos principais índices norte-americano, o S&P 500, foi de 132%.
No ano passado, o fundo se tornou o número 1 no ranking anual do Bloomberg Markets entre os fundos hedge. Hoje, Ackman gerencia um total de 20 bilhões de dólares em investimentos.
Apesar de todo o dinheiro e atenção da mídia, o Pershing Square tem apenas 65 funcionários. A maioria se conhece, e conhece Ackman, há muitos anos. Eles estão sempre juntos e prontos para defender o chefe, o que rotineiramente é preciso fazer.
Competitivo
Toda a polêmica envolvendo Ackman é comumente explicada por seu espírito competitivo. Umas das histórias que mostra o seu comportamento já foi contada tantas vezes que virou quase uma lenda urbana.
Há cerca de três anos Ackman decidiu juntar-se um grupo de meia dúzia de ciclistas dedicados, incluindo o também investidor bilionário Daniel Loeb, da Third Point Partners, para um passeio de bicicleta em Hamptons, um grupo de vilas de luxo de Nova York.
Loeb é um cara atlético que já fez triatlons e até correu uma maratona, enquanto Ackman, confessa, embora sempre tenha praticado tênis, havia passado o verão inteiro sem andar de bicicleta.
Era para ser apenas um passeio, sem competição. Ackman seguiu pedalando tranquilamente por um bom trecho, mas, de repente, disparou do grupo de ciclistas. Seu espírito hipercompetitivo o pegou e agora os outros ciclistas o seguiam, lutando para alcançá-lo. De um momento pra outro, depois de 51 quilômetros de pedalada, Ackman foi ultrapassado por todos, estava completamente desidratado e sem energia.
Enquanto todo mundo pedalava de volta para Hampton, um dos ciclistas guiava Ackman, que mal conseguia pedalar e soltava gritos de dor.
Ackman não aceitou o limite de seu corpo, não definiu um ritmo, simplesmente usou todas as forças de seu corpo porque sua mente queria que ele fosse o melhor, o mais rápido, o número 1.
As polêmicas no mercado
O caso mais polêmico no qual Ackman se envolveu é o da Herbalife. Em dezembro de 2012, ele fez uma apresentação de 330 slides para 500 investidores e mais 1,3 mil pessoas que o assistiam online sobre como ele acreditava que a Herbalife era um sistema de pirâmide.
"Você tem milhões de pessoas de baixa renda em todo o mundo que investem na Herbalife as suas esperanças de se tornarem milionários e eles foram enganados", disse Ackman. “Nós estamos expondo uma fraude”, acrescentou.
Logo após sua palestra, as ações da Herbalife iniciaram uma verdadeira queda livre. Em duas semanas os papéis caíram de 42,50 dólares para um valor abaixo dos 26 dólares. Em janeiro de 2013, dois investidores decidiram entrar no jogo, mas apostando contra Ackman.
Daniel Loeb (o investidor que pedalou com Ackman) achou que a baixa nas ações havia criado uma oportunidade e, em 09 de janeiro, anunciou a compra de 8,9 milhões de ações da Herbalife, adquirindo 8,24% das ações da companhia e se tornando o segundo maior acionista.
Após a notícia, as ações da Herbalife subiram 10%. Em 16 de janeiro foi a vez do também polêmico megainvestidor e dono de um patrimônio de 20,2 bilhões de dólares, Carl Icahn informar que tinha adquirido ações da Herbalife.
Em 24 de janeiro, Icahn deu uma entrevista para o canal de TV Bloomberg. “Não é segredo que eu não gosto de Ackman...”, disse. “Você não entra numa sala lotada e começa a falar mal de uma empresa. Se você quer apostar contra a empresa você simplesmente vai e aposta contra ela”, disse.
No dia seguinte Ackman estava no canal CNBC se defendendo quando Icahn ligou para o canal. De repente os dois estavam batendo boca ao vivo. Na época, Icahn e Ackman já acumulavam desavenças. Em 2004, Ackman processou Icahn devido a um acordo que haviam feito. Sete anos depois o caso foi resolvido a favor de Ackman e Icahn teve que desembolsar 9 milhões de dólares.
Atualmente, as ações da Herbalife são negociadas na casa dos 56 dólares.Elas nunca mais voltaram para o valor de 26 dólares. Para que Ackman tenha lucro é preciso que elas caiam para baixo dos 35 dólares.
Ackman continua firme em sua posição, dizendo que trata-se de um investimento a longo prazo. "Eu estarei feliz quando essas ações [da Herbalife] chegarem a zero", diz, sempre com um sorriso no rosto.
O caso Valeant
O investimento de Ackman na farmacêutica Valeant é criticado por muitos porque a empresa costuma comprar farmacêuticas e subir os preços dos remédios produzidos. A justificativa é sempre que o lucro maior é investido em pesquisas. Mas, recentemente, as acusações contra a Valeant se tornaram mais graves.
Agora, a empresa é acusada de fraudar seus balanços e está sendo investigada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pelo Congresso norte-americano. As ações da empresa chegaram a cair mais de 40% com as acusações. Mas, em vez de se preocupar, Ackman aproveitou a baixa para adquirir mais dois milhões das ações da Valeant.
Atualmente, a Pershing Square é dono de cerca de 6% da empresa farmacêutica que já é uma das queridinhas de Ackman.
O envolvimento de Ackman com a Valeant começou em abril de 2014 de uma forma, no mínimo, estranha e que foi questionada por muitos investidores
Na época, Ackman anunciou para Wall Street a aquisição do equivalente a 10% das ações da farmacêutica Allergan (conhecida como a fabricante do Botox). Junto a isso, Ackman também anunciou que a Valeant estava fazendo uma proposta de aquisição da Allergan pelo valor de 46 bilhões de dólares e ele a estava apoiando.
Imediatamente as ações da Allergan começaram a subir. Naquele mesmo dia os papéis da companhia dispararam 16%, enquanto investidores experientes ainda se perguntavam se o que Ackman tinha feito estava dentro da lei.
Em novembro, a Allergan conseguiu escapar das garras de Ackman e da Valeant em uma fusão com a concorrente Actavis Plc. O acordo foi avaliado em 66 bilhões de dólares.
Mesmo assim, Ackman lucrou 3,7 bilhões de dólares com as ações que tinha da Allergan.
O investimento de Ackman na Valeant, ao que tudo indica, ainda vai longe. O motivo está no princípio que Ackman carrega como "mantra": nunca duvidar dele mesmo.