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Conheça a estratégia da Trígono para 'garimpar' pequenas joias na bolsa

Fechado para captação por dois anos, um dos carros-chefe da casa, o fundo Trígono Flagship Small Caps será aberto para novos investidores. Veja entrevista com os gestores

Werner Roger, Frederico Mesnik e Marcelo Peixoto (da esquerda para a direita): gestores da Trígono, focada em small caps (Trígono/Divulgação)

Werner Roger, Frederico Mesnik e Marcelo Peixoto (da esquerda para a direita): gestores da Trígono, focada em small caps (Trígono/Divulgação)

BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 2 de setembro de 2022 às 15h11.

Última atualização em 2 de setembro de 2022 às 17h43.

Para o investidor que acredita que solidez é sinônimo apenas de grandes empresas na bolsa, a gestora Trígono tem um contraponto a fazer. Fundada há cinco anos por um time com bem mais tempo de estrada (são 40 anos de mercado, no caso do sócio-fundador Werner Roger), a Trígono é conhecida por sua estratégia de alocação em small caps.

Mas, aqui, small cap não é sinônimo de pequena empresa ou negócio novo, de alto crescimento. Muitos dos casos de sucesso, que impulsionaram os rendimentos dos fundos administrados pela Trígono, são de empresas de longuíssima atuação, líderes em seus mercados, mas fora do holofote do Ibovespa.

A Ferbasa, Companhia de Ferros Ligas da Bahia (FESA4), por exemplo, foi fundada na década de 1960 e tem ações na bolsa desde 2006. Impulsionados pelo rali recente do minério, os papeis da empresa registram alta de 14% no ano. Em uma janela maior, de 5 anos, a valorização foi de quase 300%.

A estratégia da Trígono é, de certa forma, o "garimpo" de joias maduras, sempre mirando o longo prazo. Em entrevista à EXAME Invest, os sócios da gestora explicam que o plano à prova de eleições e de turbulência no cenário econômico é apostar em small caps de três setores: commodities, agronegócio e logística.

O call, em si, não é grande novidade. Embora os preços de produtos como minério de ferro e petróleo tenham perdido o fôlego, em razão de uma série de fatores, sendo o principal deles a incerteza sobre a solidez do crescimento da economia da China, gestores têm visto nas commodities um porto seguro para tempos de juros mais elevados. A diferença aqui é que, ao invés de buscar as blue chips, a Trígono vai para o grupo das small caps.

"Quando todo mercado indicava a compra de Raízen (RAIZ4), nossa aposta era a São Martinho (SMTO3)", exemplificou Werner Roger, sócio-fundador da Trígono e gestor com passagens pelo Citibank e Western Asset.

De fato, o IPO da dona dos postos Shell movimentou o mercado e levantou quase R$ 7 bilhões, na maior operação de abertura de capital de 2021. No entanto, desde a estreia na bolsa, em agosto do ano passado, as ações da Raízen já caíram 34%. Já a São Martinho, empresa listada desde 2007, teve uma queda mais modesta, na ordem de 4%.

Dólar x commodities

Questionado sobre como uma possível queda do dólar influenciaria o posicionamento da carteira, Werner responde de forma direta: "não muda". Embora o câmbio seja ponto de interesse para os gestores com exposição a empresas que negociam seus produtos no mercado externo, para o sócio da Trígono, uma eventual valorização do real não é motivo de grande preocupação.

"Se o dólar cair, é porque a economia estará indo bem, e a recessão nos Estados Unidos terá sido endereçada melhor do que o esperado", ponderou o sócio da Trígono.

Hoje, a Trígono é dona de nove fundos, sendo seis de ações, dois de previdência (multimercado) e um de crédito privado. O "carro-chefe" da casa é o Trígono Flagship 60, com patrimônio de mais de meio bilhão de reais. Com o mesmo portfólio, o Trígono Flagship Small Caps, fundo que se diferencia do "irmão maior" pelo prazo de resgate mais curto (30 dias) será reaberto para captação, após dois anos fechado.

"Estabelecemos um limite de alocação, que foi preenchido muito rapidamente, quando o fundo abriu. Depois veio a pandemia, e agora conseguimos retomar as captações", explicou Frederico Mesnik, sócio da gestora.

Veja abaixo os fundos da Trígono e o rendimento dos ativos no ano:

FundoPatrimônio (em R$ milhões)Rendimento em 2022 (até 01/09)Taxa de administração
Trígono Flagship 60 Small Caps FIC FIAR$ 575,516,62%2%
Trígono Delphos Income FIC FIAR$ 352,3810,82%2%
Trígono 70 Previdência FIC FIMR$ 265,1313,51%2%
Trígono Icatu 100 FIA PrevidenciárioR$ 259,1310,12%2%
Trígono Verbier FIC FIAR$ 252,916,27%2%
Trígono Flagship Small Caps FIC FIAR$ 166,386,59%2%
Trígono Horizon Microcap FIC FIAR$ 33,67-2,15%2%
Trígono Power & Yield 30 FIC FIAR$ 28,670,64%2%
Trígono Pulsar Blend FIC FIM CP*R$ 13,012,20%*1%
*fundo aberto em julho/2022

Juros altos

A qualquer sinal de aperto nos juros, as bolsas têm reagido com sequências de perdas. Não só porque as taxas elevadas incentivam o fluxo da renda fixa, mas porque há um custo perverso para as empresas. O crédito fica mais caro, assim como as captações no mercado financeiro. Empresas menores, com liquidez limitada, podem sentir mais esse impacto de juros mais altos.

Para mitigar esse risco, Roger explica que um dos critérios fundamentais é a governança. Avaliar não só a solidez, mas a confiabilidade na gestão dos negócios é prerrogativa para trazer as ações dessa empresa para os portfólios dos fundos.

"Governança não é uma exclusividade das blue chips. Temos vários casos de small caps que mostram que são capazes de apresentar uma gestão eficiente e capaz de lidar bem com o cenário macroeconômico adverso", lembrou o gestor da Trígono.

O momento não é só delicado para a bolsa, mas para o setor de crédito privado, exposto diretamente a eventuais problemas de crédito das empresas. Lançado em julho, o fundo de crédito da Trígono tem uma composição de 20% de ativos estrangeiros e 80% de títulos de dívidas de empresas no Brasil.

Para a fatia maior, a estratégia é buscar a camada chamada high grade do mercado (títulos de dívidas de empresas maiores, com notas elevadas de crédito), com foco em setores que são menos expostos à alta dos juros.

"Na América Latina, temos oportunidades excelentes em países como Chile, Peru e Colômbia. Aqui, buscamos fugir um pouco de segmentos como o varejo, que devem ter as receitas mais afetadas durante o ciclo", disse Marcelo Peixoto, responsável pelo fundo Trígono Pulsar Blend, o produto de crédito da casa.

Ainda "jovem", o fundo acumulou rentabilidade de 2,2% desde julho, em linha com o CDI acumulado no período. Para a janela anual, a meta dos gestores é de um rendimento de 2,5% + o CDI.

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