Ebrahim Raisi, presidente do Irã (AFP/AFP Photo)
Repórter
Publicado em 15 de abril de 2024 às 12h07.
Última atualização em 15 de abril de 2024 às 18h06.
O petróleo encerrou a última semana no maior patamar desde outubro, com preocupações sobre a magnitude da retaliação do Irã ao ataque israelense a uma de suas embaixadas, na Síria. O temido ataque iraniano, o primeiro em que Israel foi alvo direto, foi realizado no fim de semana. Foram mais de 200 drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro, segundo as forças iranianas.
Tina Fordham, fundadora da consultoria Fordham Global Forsight, considerou o ataque o maior aumento de risco geopolítico no Oriente Médio em 30 anos. "O ataque do Irã não teve precedentes, ultrapassando os ataques com mísseis de Saddam Hussein contra Israel em 1991. Também é significativo que o Irã tenha disparado diretamente a partir do seu próprio território, em vez de depender dos seus representantes, como tem sido a norma durante a longa 'guerra sombra' entre Irã e Israel, ainda que o Hezbollah libanês e os rebeldes Houthi no Iêmen também tenham participado", afirma Fordham em nota.
Apesar da gravidade do conflito, o petróleo iniciou esta segunda-feira, 15, em queda, 3% abaixo do pico da semana passada. Alguns fatores contribuem para que no curtíssimo prazo a percepção seja de que o risco está relativamente menor sobre o mercado de petróleo. O principal foi o fracasso do ataque. De acordo com Israel, 99% dos mísseis iranianos foram interceptados, a maioria ainda antes de entrar em território israelense, e não houve mortes. Melhor: o Irã afirmou que a retaliação está "concluída". O maior risco, portanto, seria Israel revidar.
Na véspera, o Conselho de Segurança da ONU e o G7 se reuniram para debater o ataque iraniano. O propósito seria evitar a propagação do conflito na região. O próprio presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, teria informado Israel que não participará de uma eventual resposta, de acordo com fontes da Reuters. Mas a especialista em geopolítica Fordham acredita que Israel não deixará passar em branco. O pior cenário, afirma, seriam ataques preventivos contra unidades nucleares do Irã. "Avaliaria este cenário como tendo uma probabilidade diferente de zero."
É certo que uma eventual escalada do conflito entre Israel e Irã teria impactos diretos sobre o mercado de petróleo, mesmo que sua magnitude ainda esteja apenas no campo da especulação. O Irã é o quinto maior produtor de petróleo do mundo e o terceiro maior de gás natural. Com o país em guerra, a produção tende a diminuir, afetando a oferta e, consequentemente, os preços.
O petróleo mais caro pode gerar grandes implicações sobre a economia global. O efeito mais óbvio seria a alta da inflação, o que poderia representar um risco ainda maior diante do atual cenário. O mundo, desde o ano passado, aguarda ansiosamente pelo início dos cortes de juros nos Estados Unidos. Só que esses tais cortes poderiam questionados diante de um eventual repique inflacionário, mesmo antes de ter voltado para sonhada meta de 2%.
Apesar dos riscos no horizonte, a sensação no mercado é de algum alívio neste início de semana. Além da queda do petróleo, as bolsas de valores sobem. Por outro lado, o câmbio ainda reflete a busca por segurança, com o dólar se valorizando no mundo todo. Também sobem nesta manhã os rendimentos dos títulos públicos dos Estados Unidos, indicando a percepção de que os juros permanecerão altos por mais tempo. No mercado, a maior parte dos investidores já esperam que os cortes dos juros americanos, antes esperados para março, não venham antes de setembro.