Brasilia - DF - Distrito Federal - Banco do Brasil Foto: Leandro Fonseca data: 27/08/2024 (Leandro Fonseca/Exame)
Redação Exame
Publicado em 29 de setembro de 2025 às 10h42.
O Banco do Brasil (BBAS3) enfrenta um dos anos mais conturbados de sua história devido a problemas de inadimplência no agronegócio — sua principal linha de negócio. Agora, a instituição financeira tenta recuperar o favoritismo dos investidores, abalado após a divulgação dos resultados do segundo trimestre deste ano, que trouxe um tombo de ordem de 60% nos lucros.
No último Dia do Investidor, realizado na semana passada, a instituição financeira reconheceu 2025 como seu ano mais desafiador, mas aposta em recuperação já no próximo ano, sustentada por diversificação (seguros, consórcios, asset, pagamentos, UBS-BB, internacional) e redução de payout (percentual do lucro distribuído aos acionistas) para fortalecer capital. Até o fechamento da última sexta, ações do BB acumulavam queda nominal de 4,16% no ano e 14,7% nos últimos 12 meses.
Embora a venda de ativos não faça parte da estratégia de curto prazo da instituição, o vice-presidente financeiro do BB, Geovanne Tobias, não descartou um eventual IPO do BB Consórcios. Segundo o executivo, a decisão caberia aos acionistas, e há bancos de investimento sondando a viabilidade de uma oferta. Tobias destacou que o foco do BB é retomar rentabilidade a partir no próximo ano, reforçando o capital por meio de lucros e eficiência, mas admitiu que poderia monetizar uma fatia de suas participações sem perder o controle do negócio.
Na avaliação da Genial Investimentos, um eventual IPO do braço de consórcios poderia reforçar o capital do banco, ajudando a mitigar pressões.
De acordo com o Goldman Sachs, a unidade de negócios representou 2% das receitas e 4% do lucro líquido consolidado do ano passado.
O Banco do Brasil diz que o ano de 2025 funcionou como um verdadeiro “stress test” para a carteira rural.
A instituição projeta manter o retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) em torno de 11 a 13%, conforme guidance, apoiado em originação mais seletiva e no uso de uma matriz de resiliência baseada em inteligência artificial (IA) para reduzir riscos.
A CEO Tarciana Medeiros ressaltou ajustes táticos nos modelos de crédito, com foco em renegociação e reestruturação em vez de execuções, além do lançamento do BB App 5.0, novas estratégias de CRM e ganhos de eficiência.
O BB explica que o aumento da inadimplência (NPL) do agro decorreu da rápida expansão da carteira (de R$ 150 bilhões para mais de R$ 450 bilhões em três anos), somada à queda das commodities, custos elevados, choques climáticos e aperto monetário tardio em 2024. A resposta incluiu reforço de garantias, processos revisados e matriz que classifica clientes em quadrantes para priorizar originação e recuperação. A transformação digital e cultural foi acelerada para 2026, com 94% das transações já digitais.
A XP avalia que a taxa de inadimpência do agronegócio deve continuar sob pressão, com uma melhora atrasada e mais gradual, e uma normalização provavelmente em níveis piores do que nos últimos anos.
Nesse contexto, o novo vice-presidente do agronegócio do BB destacou a medida provisória (MP 1.314), que libera R$ 12 bilhões para amortização e liquidação de dívidas de produtores rurais afetados por eventos climáticos entre 2020 e 2025. Os agricultores que aderirem ao programa do governo poderão receber crédito presumido para fins tributários.
Segundo a XP Investimentos, o apoio governamental por meio da MP pode beneficiar o BB, potencialmente reduzindo a inadimplência no agronegócio e ajudando os indicadores de capital. No entanto, a corretora considera improvável que seja suficiente para levar a uma forte recuperação no curto prazo.
O banco reiterou sua meta de crescimento no segmento de PF, especialmente por meio de empréstimo consignado privado, enquanto a MP 1314 oferece alívio regulatório e ferramentas para ajudar a restaurar a capacidade de pagamento dos produtores. Além do crédito, a diversificação de receitas em todo o conglomerado tem sustentado a resiliência diante do estresse na carteira agro.
A gestão do Banco do Brasil ainda reiterou o papel estratégico junto ao setor público, com forte presença em folha de pagamento, fundos e benefícios, além de R$ 370 bilhões em ativos no atacado.
Na avaliação do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), a projeção de lucro líquido do Banco do Brasil entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões para 2025 depende de uma forte aceleração no 4º trimestre, algo que gera ceticismo entre investidores.
Apesar do valuation atrativo 0,7 vez o P/VPA (Preço sobre Valor Patrimonial) e melhorias esperadas para 2026, a visibilidade permanece limitada, e o BTG mantém recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 23.
O JPMorgan, Goldman Sachs e Genial também reiteram recomendação neutra para ações do BB, com preço-alvo de R$ 24, R$ 22 e R$ 20, respectivamente.
Enquanto a maioria dos bancos recomenda cautela, o Citi elevou a recomendação para as ações do Banco do Brasil. Na avaliação do analista Gustavo Schroden, o BB pode até não conseguir reverter as provisões de clientes que aderirem ao programa, já que o perfil de risco deles não se altera — e as novas regras contábeis para provisões em bancos não mudaram.
"No entanto, o banco melhora sua base de capital de acordo com empréstimos rurais que forem negociados dentro do escopo do programa", escreveu em relatório.
O Citi também refez estimativas para 2026 e prevê lucro líquido do Banco do Brasil para o ano que vem de R$ 29,3 bilhões, 9% acima do consenso de mercado. Já o retorno sobre o patrimônio (ROE), a estimativa é de 14% - no segundo trimestre de 2025, o ROE foi de 8,4%, o menor desde 2016.
Assim, o Citi passou a recomendação de BBAS3 de "neutra" para "compra". O preço-alvo também foi elevado, de R$ 22 para R$ 29.