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Como montadoras chinesas estão vencendo EUA e Europa

Montadoras dos EUA e Europa sofrem com rapidez e tecnologia avançada da China, enquanto tentam impor barreiras políticas para frear o avanço

BYD: empresa tem crescido na China (VCG / Colaborador/Getty Images)

BYD: empresa tem crescido na China (VCG / Colaborador/Getty Images)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 3 de julho de 2025 às 11h31.

As montadoras chinesas, como BYD e Chery, estão deixando para trás gigantes globais como General Motors, Volkswagen e Tesla, graças a um diferencial exclusivo: a rapidez no desenvolvimento de novos modelos, que garante preços mais baixos e produtos constantemente atualizados. 

Segundo o professor Allen Han, da Universidade Tongji, que trabalhou na Ford e em fabricantes chineses, esse avanço nasceu de uma conclusão simples. “As empresas chinesas perceberam que os processos tradicionais de verificação buscavam uma ‘qualidade excessiva’, que desperdiçava tempo e dinheiro”, afirmou em reportagem exclusiva da Reuters.

O ritmo acelerado impressiona

Fábrica da BYD na China: Funcionários atuam na linha de produção da empresa em Huai’an, província de Jiangsu. (Photo by Zhao Qirui/VCG via Getty Images)

Enquanto marcas globais redesenham veículos a cada cinco ou dez anos, a BYD e concorrentes chinesas passaram a lançar modelos novos em ciclos de 18 meses. “Ser capaz de acompanhar essa velocidade é o maior desafio contínuo”, afirmou Matt Noone, diretor de design da Buick (GM).

Além da agilidade, as montadoras saem na frente pela quantidade gigante funcionários. A BYD emprega, atualmente, cerca de 900 mil pessoas - praticamente o total da Toyota e Volkswagen juntas. 

Além disso, a empresa também é capaz de produzir 75% das próprias peças utilizadas nos veículos, modelos como o sedan Seal, enquanto a VW, por exemplo, detém apenas 35% no modelo ID.3. Esse controle permite que, segundo a reportagem, ajustes sejam feitos de última hora, o que é considerado um tabu em fábricas tradicionais. 

“Na nossa cultura, mudar peças perto do lançamento é um grande ‘não’”, contou um engenheiro da Toyota.

Pressão global e barreiras comerciais desafiam expansão

O avanço chinês está pressionando os concorrentes que até poucos anos dominavam o mercado. Entre 2020 e 2024, as cinco maiores estrangeiras na China — Volkswagen, Toyota, Honda, GM e Nissan — viram suas vendas cair de 9,4 milhões para 6,4 milhões de veículos, enquanto as cinco líderes chinesas dobraram de volume. Atualmente, a Chery já exporta quase metade de sua produção e planeja a construção de fábricas na Europa.

Paralelamente ao avanço, os Estados Unidos e a Europa passaram a acusar o país asiático de subsidiar ilegalmente seus fabricantes e começaram a aplicar taxas altas sobre veículos elétricos importados. “Será muito difícil para a BYD cumprir sua meta de vender metade dos carros fora da China sem acesso ao mercado americano”, avaliou Tu Le, da consultoria Sino Auto Insights.

O presidente da Xpeng, Brian Gu, reconheceu que a disputa é quase injusta. “Os sobreviventes serão imensamente poderosos, mas é um processo muito cruel e competitivo”, confessou à reportagem.

Apesar dos obstáculos, executivos como Ralf Brandstaetter, chefe da VW na China, admitem que as montadoras tradicionais precisam se adaptar ao novo modelo. 

“Queremos ser tão rápidos e competitivos quanto uma startup chinesa”, afirmou. 

Concorrência acirrada

Enquanto isso, a Tesla vem enfrentando quedas nas vendas e críticas ao envelhecimento de seus modelos, situação que reforça ainda mais a ameaça chinesa.

Em junho, a Xiaomi lançou seu segundo carro elétrico - primeiro modelo SUV da marca que compete diretamente com o Model Y, da empresa de Elon Musk. Especialistas relataram que o veículo chinês, além de mais barato, consegue superar o americano em tecnologia e inovação.

Xiaomi: evento de lançamento do SUV YU7, que compete com o Model Y, da Tesla. (Photo by ADEK BERRY/AFP via Getty Images)

“Especificações e desempenho muito melhores”, relatou um analista da Jefferies. 

A médio prazo, a reportagem afirmou que a combinação de velocidade de desenvolvimento, preços agressivos e investimento pesado em exportações pode consolidar as marcas chinesas como protagonistas globais — desde que consigam superar barreiras políticas impostas ao redor do mundo.

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