Warren Buffett: um dos maiores investidores de todos os tempos tem uma longa relação com a Coca-cola (Rick Wilking/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 5 de julho de 2020 às 07h14.
Última atualização em 5 de julho de 2020 às 11h12.
Embora a busca por ganhos rápidos tenha levado muitas pessoas a comprarem suas primeiras ações, é no tempo e na rentabilidade consistente que se apoiam os grandes investidores, como Peter Lynch, Philip Fisher ou Warren Buffett. Assim como já é sabido por lendas do mercado, especialistas consultados por Exame foram unânimes em dizer que a melhor forma para maximizar a chance de conseguir bons retornos no longo prazo é conhecendo bem a empresa em que investe.
Uma das figuras mais ilustres do mercado financeiro brasileiro, Luiz Barsi segura até hoje ações do Banco do Brasil que comprou no início da década de 70. Foi assim que ele se tornou uma das maiores pessoas físicas da bolsa: comprando ações, fazendo aportes regulares e reinvestindo os dividendos em mais ações.
No atual cenário de taxa de juros na mínima histórica, Bruno Lima, analista de renda variável da Exame Research, avalia que o método de Barsi “faz mais sentido do que nunca”. “Qualquer ação que paga 4% já é melhor do que investir em CDI”, disse. Mas, segundo Lima, o mais importante na hora de escolher uma ação com foco no longo prazo é a capacidade de geração de caixa da empresa.
“Não existe uma fórmula única. Pode ser que exista uma boa oportunidade de crescimento e a empresa reinvista todo o capital que ela gera, para que, no futuro, a geração de caixa seja ainda maior”, comentou Daniel Martins, presidente da gestora GeoCapital.
Isso ocorreu com a Amazon, que só foi dar lucro em 2002, 7 anos depois de ser fundada e 5 anos após abrir capital na Nasdaq. Quem comprasse as ações da Amazon no dia de sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) teria obtido rentabilidade de cerca de 150.000% em 25 anos. No mesmo período, o índice americano S&P 500 avançou 480%. Mas, encontrar a próxima Amazon pode ser mais difícil do que parece.
Análise profunda
“É crucial entender o que a empresa faz, de onde vem a receita e os custos, quem são os executivos e os últimos resultados. É preciso estudar bastante antes de tomar a decisão”, afirmou Matheus Soares, analista da Rico.
Grande parte das informações públicas sobre as companhias de capital aberto podem ser encontradas nos respectivos sites de relações com investidores (RI), onde, via de regra, também é possível cadastrar o e-mail para ser notificados sobre fatos relevantes, resultados ou comunicados ao mercado.
Bruno Lima ainda ressalta a importância de conhecer o segmento de atuação da companhia. “Tem que olhar o ambiente concorrencial até mesmo se o setor ainda vai continuar existindo”, disse. Para ele, a exposição a fatores que estão fora do controle da empresa, como a variação cambial ou preços de commodities, podem pesar negativamente.
Mas pode ser que, mesmo a empresa sendo boa e estando em um setor promissor, as expectativas otimistas sobre ela já estejam embutidas no preço. Uma forma de analisar se a ação está cara é por meio do indicador preço/lucro. No entanto, companhias em expansão tendem a ter esse indicador inflado em relação a companhias já consolidadas.
A ação preferencial do Banco Inter, por exemplo, é negociada a 188x o lucro, enquanto a do Itaú é cotada a 11x, segundo o site Fundamentus. “Tem que ver para quando que está sendo negociado o múltiplo. O Banco Inter pode dobrar o lucro e a base de clientes de um ano para outro. Por ser pequeno, há várias oportunidades. Já o Itaú, por ser muito grande, já estar em todas as capitais do país, não consegue dobrar de uma hora para outra”, disse Soares.
Pós-compra
A tarefa do investidor, porém, não acaba quando compra a ação. Pelo contrário. “Monitorar como a companhia anda ao longo do tempo é fundamental. Por mais promissora que ela seja, a vida da empresa muda. Comprar ação para longo prazo e esquecer é uma falha. Também faz sentido analisar se a empresa não ficou cara, para reduzir a posição ou zerar.”, afirmou Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo.
Saber a hora de vender, contudo, é tão importante quanto reconhecer as melhores oportunidades da bolsa. Caso aquele mesmo investidor que comprou a ação da Amazon no IPO decidisse vendê-la em 2001, no olho da bolha da internet, ele teria obtido rentabilidade de 204% com a operação. Embora o retorno ainda fosse relativamente alto, ele teria perdido a oportunidade de lucrar três vezes mais se segurasse a ação por apenas mais um ano e cerca de quinhentas vezes mais se mantivesse o ativo até hoje.
O oposto também ocorre. Uma das ações mais populares da bolsa brasileira, a da Oi chegou a custar mais de 360 reais em maio de 2009 (já considerando os grupamentos). Desde seu ápice, o papel já se desvalorizou 99,67%, enquanto o Ibovespa subiu 92,28% Por outro lado, quem tivesse comprado o papel em 2005 e vendido em 2009 teria obtido retorno de mais de 300%. Agora, para o ativo voltar ao preço de uma década atrás, precisaria de uma alta de cerca de 30.000%.
“Investir em ações é para a vida inteira, mas nem sempre dá para ficar com a mesma ação por toda a vida. Assim como a vida das pessoas, a vida das empresas muda ao longo do tempo”, disse Madruga.