Rio Bravo: Evandro Buccini, sócio e diretor de crédito da gestora (Rio Bravo/Divulgação)
Repórter de finanças
Publicado em 20 de outubro de 2025 às 06h00.
Uma indústria antiga, mas que agora ganha um aliado: os consórcios estão entrando no pacote dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). A Rio Bravo está se tornando especialista nisso. Prestes a completar um ano de criação, o FIDC Rio Bravo Inlira Stefanini Consórcio realizou sua quarta rodada de captação, em R$ 80 milhões.
O feito fez a gestora ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão de ativos sob gestão em créditos totais.
De um lado, existem consórcios de tudo quanto é tipo: imóvel, carro, viagem e até cirurgia plástica. Do outro, os fundos que compram recebíveis. Os FIDCs, no caso, compram cotas canceladas de consórcios para terem o direito de receber o valor no futuro.
Quem desiste de um consórcio, muitas vezes por não conseguir mais honrar as mensalidades, fica impedido de ser contemplado pelos sorteios, mas tem direito a receber de volta o que investiu até então. Só que esse reembolso pode demorar até 10 anos.
“O que a gente faz é comprar essa cota com desconto, antecipando esse recurso para o cotista e ficando com o direito de receber esse valor lá no final, corrigido pelo índice do ativo”, explica Evandro Buccini, sócio e diretor de crédito da Rio Bravo.
O mercado de consórcios, em 2024, ultrapassou R$ 378 bilhões em cotas vendidas, o maior volume já registrado; o número de participantes ativos chegou a mais de 11,2 milhões; e o total de contemplações chegou a 1,70 milhão, segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC).
Os FIDCs de consórcio ainda não são tão populares no Brasil. O veículo da Rio Bravo trabalha com uma divisão de cotas de subordinação. As cotas sênior assumem menos risco (em contrapartida, têm menor retorno). As cotas mezanino ficam num nível intermediário, assumindo um risco e retorno moderados, e as cotas júnior são as mais arriscadas, pois absorvem as perdas dos fundos — mas têm um retorno maior.
A cota sênior teve uma nota de emissão de CDI + 3%.
O fundo, no entanto, não é aberto ao público de varejo nem investidor qualificado (aqueles com mais de R$ 1 milhão em investimentos) — é focado em investidores institucionais.
O carro-chefe da Rio Bravo ainda são Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs), mas os FIDCs chegaram e prometem ficar. A gestora foi a primeira a ganhar a concorrência da Desenvolve SP, agência de fomento do estado de São Paulo, para estruturar um FIDC Agro, com aporte inicial de R$ 50 milhões.
“Estamos em processo de investimento do FIDC Agro, que vai investir em logística do agronegócio aqui no estado de São Paulo. Ele deve ‘nascer’ no final do ano, com R$ 70 milhões. Hoje, está na casa dos R$ 45 milhões”, aponta Buccini.
Ele ainda conta que o maior investimento feito foi em uma produtora de ovos orgânicos em Avaré. “Ela usou o dinheiro para fazer um silo na fazenda para armazenar grãos da ração das galinhas.”
Já o FIDC Consórcio investe em bens duráveis, carro, imóvel e máquinas rurais.
“Consórcio virou um novo jeito de poupar para comprar um bem comum, mas não é um ativo que conversa muito com o mercado. A ideia do FIDC é trazer um pouco desse mundo para o mercado financeiro tradicional”, comenta.
Buccini acredita que o avanço na regulação, com a CVM 175, unida à tecnologia, irão impulsionar ainda mais o mercado de FIDCs. Em dezembro de 2024, o patrimônio líquido da classe ultrapassou o de fundos de ações, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Em setembro, os FIDCs somavam R$ 718,87 bilhões em PL, ficando na segunda posição em volume de captações, com R$ 63 bilhões.
No começo de 2025, a Rio Bravo fez uma parceria com a gestora chamada JPP Capital, que irá se tornar uma aquisição em breve. Juntas, somando as duas carteiras, ultrapassam R$ 1,7 bilhões em crédito. Mas, mesmo sem a aquisição, a ideia da Rio Bravo é crescer 30% em crédito neste ano.