Invest

Como a retirada de tarifas do Brasil pode ajudar os EUA a cortar juros

Economistas reconhecem que medida pode reduzir alguma pressão inflacionária nos EUA — mas não a ponto de influenciar uma decisão do Fed

Inflação longe da meta: Fed reduz juros em cenário 'longe do ideal' (Wong Yu Liang/Getty Images)

Inflação longe da meta: Fed reduz juros em cenário 'longe do ideal' (Wong Yu Liang/Getty Images)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Editor de Invest

Publicado em 21 de novembro de 2025 às 10h56.

A decisão dos Estados Unidos em retirar tarifas de 40% sobre centenas de produtos importados do Brasil teve diferentes motivos. Na justificativa formal do governo americano, o presidente Donald Trump atribuiu a iniciativa à evolução das tratativas com as autoridades brasileiras, em especial o próprio presidente Lula, com quem aceitou negociar, apesar de uma certa resistência no início. Trump também diz ter tomado a decisão após receber recomendações de "vários assessores". Fato é que as tarifas já estavam começando a pesar no bolso do americano, e inflação elevada é tudo o que Federal Reserve não precisa agora, para poder dar continuidade ao ciclo de queda de juros iniciado em setembro.

"As tarifas são um limitador para o corte de juros pelo Banco Central americano", afirma Marcela Kawauti, sócia e economista-chefe da Lifetime Investimentos. Ainda que o Fed considere que o efeito das taxas de importação na inflação americana seja temporário, não é algo que possa ser simplesmente ignorado quando se busca espaço para cortar juros, complementa a economista. Até porque, desde o começo do ano, como mesmo observou o Fed na ata da reunião de outubro, a inflação se distanciou um pouco mais da meta de 2% — hoje o índice ronda ao redor dos 3%.

O peso de exportações brasileiras na inflação dos Estados Unidos

Gustavo Cruz, da RB Investimentos, acredita que a retirada das tarifas sobre as importações brasileiras pode sim abrir espaço para o Fed reduzir os juros. Afinal, para os itens que estavam sendo tarifados, a maioria alimentos, são é fácil encontrar outros mercados fornecedores com tanta rapidez.

"Nesses itens, o Brasil ou tem o domínio ou é responsável por um percentual bem elevado do fornecimento para os americanos. Existia uma reclamação dos varejistas dos Estados Unidos, pedindo para que reduzissem tarifas, do contrário a inflação ficaria muito alta", explica o estrategista.

Para Cruz, o Fed já vinha fazendo cortes em uma situação que está longe do ideal para baixar juros. "Ao menos diminui essa pressão de alimento, que é um item volátil e sobe rapidamente de preço quando há algum tipo de choque, assim como energia. Deixa a situação para 2026 um pouco mais controlável".

Redução de tarifas do Brasil é pouco para justificar corte

Já Marcela Rocha, economista chefe para America Latina da Principal Asset Management, afirma que a política monetária dos Estados Unidos hoje depende muito mais dos números de atividade econômica, principalmente o mercado de trabalho, e da inflação como um todo. Nesse caso, os itens brasileiros que tiveram as tarifas retiradas ainda são pouco representativos na composição do índice e será necessário aguardar o comportamento de preços do atacado para entender o real impacto da redução das tarifas.

"Não mudamos nossas projeções para a inflação nos Estados Unidos. Se não há mudança, na nossa avaliação, os anúncios do Trump, por hora, não têm impacto no cenário de política monetária", afirma Rocha.

No curto prazo, aliás, o Fed vai ter o desafio de avaliar as condições econômicas dos Estados Unidos com precisão, dado que o shutdown criou uma defasagem de indicadores, fazendo com que o BC americano trabalhe com um panorama incompleto. "Com isso, o cenário de taxa de juros nos Estados Unidos continua incerto e a chance de um novo corte não ocorrer na reunião de dezembro aumentou".

José Maria Silva, coordenador de alocação e inteligência da Avenue, reconhece que a retirada das tarifas brasileiras alivia parte da pressão sobre preços, principalmente de commodities, mas não por completo. Segundo ele,

"Dentro do cômputo geral, levando em conta o total de importações americanas, diria que é pouco. Não são as exportações brasileiras que estão mantendo a inflação dos Estados Unidos relativamente alta", afirma. "Não vai ser a redução das tarifas de importação do Brasil que vai fazer o Fed cortar juros".

Acompanhe tudo sobre:Fed – Federal Reserve SystemJuros

Mais de Invest

Ibovespa hoje: acompanhe o movimento da bolsa e dólar nesta sexta-feira, 21

Bancos abrem hoje? Veja se sua agência vai funcionar nesta sexta pós-feriado

Está na empresa há menos de um ano? Veja se tem direito ao 13º salário

13º salário: veja quanto e quando você vai receber