ETF, Exchange Traded Fund, an investment fund traded on stock exchanges, conceptual image (Getty Images/Getty Images)
Repórter
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 11h30.
Os ETFs (Exchange Traded Funds, na sigla em inglês), ou fundos de índice, devem viver um ciclo de crescimento no Brasil a partir do próximo ano, impulsionado pela esperada redução da taxa básica de juros, a Selic. Essa foi a avaliação dos especialistas que participaram do Encontro Anual Sobre Índices e ETFs no Brasil, realizado em São Paulo, pela S&P Dow Jones Indices, em parceria com a B3.
Para Thalita Forne, superintendente da Bolsa de Valores do Brasil, o país vive um momento propício para o amadurecimento dessa indústria.
"Tive a oportunidade de estar em outros países falando sobre ETFs e não se vê de forma tão tranquila, em um ambiente amistoso, as relações entre regulador, mercado e bolsas, como a gente tem aqui no Brasil", disse. “Estamos agora num momento realmente de mudança, em que temos tudo para dar certo. Estamos esperando um ano bastante diferente para 2026, com redução de taxa de juros e estabilização".
A última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro, que manteve a taxa de juros em 15% ao ano, reforçou a perspectiva de que um ciclo de corte comece somente a partir de 2026, segundo economistas consultados na época pela EXAME. Os operadores se dividem quanto a um início do afrouxamento em janeiro ou março, mas mantêm ancoradas a possibilidade de que a taxa recue para, pelo menos, 12% até o final do ano.
Segundo Bruno Stein, diretor executivo e responsável global pelos ETFs da Galapagos Capital, o juro alto — o maior desde julho de 2006 — é um dos principais obstáculos para a expansão do produto. O especialista acredita que "quando o juro recuar, tenho certeza que o investimento nesse produto vai fluir para um lugar muito diferente do atual", afirmou.
A expectativa também é compartilhada por Rafael Daher, especialista sênior de produtos indexados da DWS.
"O maior concorrente é o CDI do país, que ajuda o investidor a 'dormir tranquilo' em vez de ir em busca de outras alternativas. No próximo ano, a Selic deve cair e isso pode ser um desencadeador para o crescimento dos ETFs".
Atualmente, o mercado brasileiro de ETFs soma entre R$ 65 bilhões e R$ 70 bilhões sob gestão, segundo dados da XP Asset. O montante ainda é uma fração pequena diante dos US$ 10,3 trilhões investidos globalmente (mais de R$ 55 trilhões seguindo a taxa de câmbio atual) nesse tipo de produto, de acordo com dados do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.
Apesar disso, os especialistas apontam que os ETFs têm uma vantagem sobre os demais produtos de investimentos por conta de sua simplicidade. Esses fundos replicam a carteira de um índice, como o Ibovespa, e permitem que o investidor acesse uma cesta inteira de ativos comprando uma única cota na Bolsa.
Existem ETFs de renda variável, renda fixa, moedas e até criptoativos, ampliando as possibilidades de diversificação.
Especialistas também apontam outras barreiras estruturais ao avanço de ETFs, como remuneração dos assessores e educação financeira, tanto do lado dos profissionais quanto dos investidores.
Francisco Amarante, superintendente da Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos (ABAI), afirmou que o modelo atual de comissionamento ainda desestimula a venda de ETFs.
"Quando você compete com o seguro de vida que te paga todo mês 5%, um consórcio que te paga 5%, ou qualquer outro produto que remunere nem que seja R$ 1,00, isso já faz diferença. O Fee fixo [taxa cobrada anualmente sobre o patrimônio do cliente] ela ajuda muito, mas não é a única solução, até porque nem todo investidor ou assessor se enquadra nesse modelo", disse.
Do lado da educação, Mariana Negri, superintendente comercial de investimentos do Itaú, destacou que o investidor brasileiro ainda está habituado à renda fixa e que o acesso a ETFs exige familiaridade com o ambiente de Bolsa.
"Educação financeira, sem dúvida nenhuma, passa por isso. O brasileiro está habituado com o CDB, com o fundo. Comparado a isso, investir em ETFs pode parecer mais complexo, com as siglas e a necessidade de abrir conta em corretora. Mas o setor está desbravando esse caminho e o número de cotistas já cresce 23% ao ano, segundo dados da B3", afirmou.
Para Thalita Forne, da B3, a nova regulação que trouxe mais transparência à remuneração dos assessores, a Norma 179 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pode ajudar a destravar esse mercado, desde que acompanhada de capacitação.
"Temos visto mais assessores distribuindo investimentos de maneira mais eficiente, principalmente após a nova regulação. A possibilidade da taxa fixa é uma ferramenta importante para a indústria de ETFs, já que a remuneração dos assessores ainda é uma barreira", disse ela.
Marcelo Billi, superintendente de sustentabilidade, inovação e educação da Anbima, chamou atenção para um desafio adicional: a forma de comunicação com o investidor.
"O investidor não quer uma aula técnica sobre como funciona o ETF. Ele quer entender se aquele produto resolve o que ele precisa. O desafio da formação hoje é ouvir e traduzir isso em uma conversa que faça sentido para o cliente. Saber o que é um ETF é importante, mas saber falar sobre ele com o investidor é ainda mais", afirmou.