Frete: baque mais preocupante pode ainda estar por vir (Getty Images/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 21 de abril de 2025 às 16h33.
Última atualização em 21 de abril de 2025 às 18h08.
A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China já pode ser sentida no comércio marítimo de contêineres.
Segundo relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), as importações americanas via contêineres já caíram 20% desde os picos de janeiro, ainda que estejam 30% superiores na comparação com o mesmo período do ano passado, com as empresas antecipando compras antes da vigência das tarifas.
Mas o baque mais preocupante pode ainda estar por vir. Dados de reservas indicam que os embarques de contêineres das próximas semanas sofrerão queda de 30% a 60% nas rotas a partir da China e de 10% a 20% em outras partes da Ásia.
Com isso, grandes operadores logísticos adotaram uma postura de espera, paralisando operações até que a poeira da disputa tarifária baixe.
A incerteza já começa a congestionar a cadeia: a movimentação de contêineres vazios está travada na China, o que deve gerar gargalos logísticos nos portos da região nas próximas semanas.
Segundo o BTG, as transportadoras menores e mais dependentes da rota transpacífico — como algumas asiáticas e latino-americanas — devem ser as mais afetadas, o que pode acelerar o processo de consolidação no setor.
Na esteira da retração de volumes, os preços de frete voltaram a cair. O índice SCFI (Shanghai Containerized Freight Index) recuou 1,7% na semana e já acumula queda de 44% em 2025. O índice Drewry para contêineres de 40 pés caiu 3,2%, com destaque negativo para as rotas Xangai–Nova York (-6,8%) e Xangai–Los Angeles (-4,7%).
Com o cenário ainda indefinido, contratos firmados recentemente correm o risco de não serem honrados, alertam analistas do banco.
Abril marca tradicionalmente a renovação dos acordos de frete, mas cláusulas de volume mínimo podem se tornar inviáveis para muitos importadores, especialmente na rota Ásia-EUA. O BTG alerta que uma renegociação generalizada pode acontecer.
Mesmo diante das tarifas, realocar fábricas para os Estados Unidos não é a solução mais provável, segundo pesquisa da CNBC citada pelo BTG.
Cerca de 61% das empresas ouvidas disseram que produzir nos EUA dobraria seus custos, preferindo buscar regimes com tarifas mais baixas em outros países.
Além disso, 81% apontaram que a automação será essencial para qualquer mudança de base produtiva — o que pode frustrar os objetivos de reindustrialização do governo americano.
Diante desse cenário, a Organização Mundial do Comércio projeta queda de até 1,5% no comércio global de bens em 2025 — algo raro: seria apenas a sexta retração registrada nos últimos 60 anos.