Frete: baque mais preocupante pode ainda estar por vir (Getty Images)
Editora do EXAME IN
Publicado em 21 de abril de 2025 às 16h33.
Última atualização em 22 de abril de 2025 às 12h13.
A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China já pode ser sentida no comércio marítimo de contêineres.
Segundo relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), as importações americanas via contêineres já caíram 20% desde os picos de janeiro, ainda que estejam 30% superiores na comparação com o mesmo período do ano passado, com as empresas antecipando compras antes da vigência das tarifas.
Mas o baque mais preocupante pode ainda estar por vir. Dados de reservas indicam que os embarques de contêineres das próximas semanas sofrerão queda de 30% a 60% nas rotas a partir da China e de 10% a 20% em outras partes da Ásia.
Com isso, grandes operadores logísticos adotaram uma postura de espera, paralisando operações até que a poeira da disputa tarifária baixe.
A incerteza já começa a congestionar a cadeia: a movimentação de contêineres vazios está travada na China, o que deve gerar gargalos logísticos nos portos da região nas próximas semanas.
Segundo o BTG, as transportadoras menores e mais dependentes da rota transpacífico — como algumas asiáticas e latino-americanas — devem ser as mais afetadas, o que pode acelerar o processo de consolidação no setor.
Na esteira da retração de volumes, os preços de frete voltaram a cair. O índice SCFI (Shanghai Containerized Freight Index) recuou 1,7% na semana e já acumula queda de 44% em 2025. O índice Drewry para contêineres de 40 pés caiu 3,2%, com destaque negativo para as rotas Xangai–Nova York (-6,8%) e Xangai–Los Angeles (-4,7%).
Com o cenário ainda indefinido, contratos firmados recentemente correm o risco de não serem honrados, alertam analistas do banco.
Abril marca tradicionalmente a renovação dos acordos de frete, mas cláusulas de volume mínimo podem se tornar inviáveis para muitos importadores, especialmente na rota Ásia-EUA. O BTG alerta que uma renegociação generalizada pode acontecer.
Mesmo diante das tarifas, realocar fábricas para os Estados Unidos não é a solução mais provável, segundo pesquisa da CNBC citada pelo BTG.
Cerca de 61% das empresas ouvidas disseram que produzir nos EUA dobraria seus custos, preferindo buscar regimes com tarifas mais baixas em outros países.
Além disso, 81% apontaram que a automação será essencial para qualquer mudança de base produtiva — o que pode frustrar os objetivos de reindustrialização do governo americano.
Diante desse cenário, a Organização Mundial do Comércio projeta queda de até 1,5% no comércio global de bens em 2025 — algo raro: seria apenas a sexta retração registrada nos últimos 60 anos.