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Commodities entram em nova fase com teste de recessão

O segundo semestre será definido por como consumidores, empresas e governos lidam com as ondas de choque nos fluxos de commodities

Petróleo: o próximo passo da Opep é crucial e, no setor de alimentos, há alguns sinais de arrefecimento dos preços (Regis Duvignau/Reuters)

Petróleo: o próximo passo da Opep é crucial e, no setor de alimentos, há alguns sinais de arrefecimento dos preços (Regis Duvignau/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 24 de junho de 2022 às 12h43.

As commodities estarão em foco pelo resto de 2022, após um primeiro semestre dominado pela turbulência na oferta e choques inflacionários desencadeados pelo ataque da Rússia à Ucrânia.

O segundo semestre será definido por como consumidores, empresas e governos lidam com as ondas de choque nos fluxos de commodities. Ou a economia global consegue suportar os preços altíssimos com suprimentos apertados - especialmente de energia - ou a alta de preços será curada por recessões.

No mercado de gás natural, os cortes na oferta da Rússia abrem uma nova era conturbada para a Europa. Para o petróleo, o próximo passo da Opep é crucial e, no setor de alimentos, há alguns sinais de arrefecimento dos preços. O destino do setor imobiliário da China será crucial para os metais, enquanto os movimentos de bancos centrais para esmagar a inflação representam um grande vento contrário.

“Mesmo que ainda não estejamos sentindo, estamos em uma crise de gás” disse o ministro da economia da Alemanha. O aperto russo dos fluxos para a Europa cria o risco de uma escassez global histórica - e preços ainda mais altos - com o pico de demanda no próximo inverno no hemisfério norte. A competição por gás natural liquefeito entre a Europa e a Ásia se intensificará - ainda mais se uma planta de exportação chave dos EUA permanecer fechada.

O gás caro aumentará as contas de energia, e uma crise total fecharia indústrias desde produtos químicos a fertilizantes, piorando a inflação global. O racionamento de gás em toda a Europa é uma perspectiva real. No Japão, um dos maiores importadores de GNL do mundo, o governo tenta conter o consumo e cogita medidas sem precedentes para adquirir mais combustível.

Quanto à crise alimentar, há uma percepção crescentes de que os preços de grãos e de óleo de cozinha atingiram o pico - e talvez os custos globais dos alimentos também. Mais oferta está a caminho, com colheitas de trigo de inverno começando no hemisfério norte, e trigo, milho e soja de primavera seguindo mais tarde. O foco então se volta para a produção na Austrália, Brasil e Argentina. Exceto por problemas climáticos, a produção pode aumentar à medida que os agricultores plantam mais em resposta aos preços elevados.

Os estoques globais permanecerão reduzidos, enquanto milhões de toneladas de grãos estão presos na Ucrânia, mas podem não ficar substancialmente mais apertados. Algumas cargas ucranianas estão chegando à Europa, enquanto a Rússia caminha para uma safra grande.

O óleo de palma, o óleo comestível mais consumido no mundo, atingiu seu preço mais baixo este ano, enquanto trigo, milho e soja caíram de suas altas. O custo global de alimentos já caiu de seu pico histórico em março, e mais quedas podem seguir.

A gasolina e o diesel são o foco do mercado de petróleo no momento, e a grande questão para o segundo semestre é se a demanda se sustenta em meio à disparada de preços. Subsídios que mantém o consumo - juntamente com a capacidade limitada de refino - impulsionaram altas dos produtos refinados que superaram os preços do próprio petróleo.

Enquanto o veterano Ed Morse do Citigroup vê o barril de petróleo caindo para US$ 80 no quarto trimestre com “fortes ventos contrários ao crescimento”, o Goldman Sachs está entre os que dizem que os preços precisam de mais ganhos para normalizar “estoques insustentavelmente baixos”.

O tumulto na Europa e a virada hawkish do Federal Reserve tornaram as questões na China menos decisivas do que o normal para os mercados de commodities. Mas o principal importador de energia, metais e safras ainda será um fator-chave nos próximos meses, especialmente se a economia crescer para atingir a meta do presidente Xi Jinping de 5,5%. Isso aumentaria a demanda, mas os mercados de metais, em particular, mostram porque as apostas em qualquer aumento maciço de estímulo podem ser arriscadas.

O coração do problema é o setor imobiliário chinês, que está em uma recessão de longo prazo desde que Xi alertou que habitação “não era para especulação”. Há poucos sinais de que o governo esteja perto de reverter seu aperto em um setor que foi absolutamente fundamental na recuperação dos mercados de minério de ferro e cobre após crises anteriores. Os gastos extras com infraestrutura não são suficientes para compensar a perda. Isso coloca em risco as metas de crescimento de Xi, o que significa que o minério de ferro pode ter dificuldades em voltar para as máximas deste ano.

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