Repórter
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 06h57.
Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 07h55.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve sua prisão domiciliar determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de segunda-feira, 4. Para além das implicações políticas, a prisão domiciliar de Bolsonaro pode ter efeitos sobre o mercado de câmbio e o comportamento do Real frente ao dólar nesta terça-feira, 5.
O EWZ, fundo que replica o MSCI Brazil e serve como um proxy do Ibovespa em dólar, registrou uma queda de 0,97%, após ter subido 1,05% no início do dia, evidenciando a cautela do mercado.
André Perfeito, economista, acredita que a prisão de Bolsonaro poderá refletir em uma valorização do dólar — mas não a longo prazo. "Devemos ver o dólar avançar contra o real na perspectiva que a prisão domiciliar de Bolsonaro irá forçar Washington a aumentar a pressão sobre Brasília", afirmou. "Contudo, sugiro cautela: o efeito final das medidas de Trump, como venho insistindo, é depreciar o Dólar, não apreciar. Sim, teremos efeitos da prisão domiciliar de Bolsonaro, mas não necessariamente o que vai parecer ruim é de fato ruim", diz.
Ainda segundo o economista, uma leitura "mais rasteira" poderia ver num real mais forte "um bom sinal". "Isso poderia aliviar pressões inflacionárias e apontar para juros mais baixos por aqui. Se de um lado isso é verdadeiro, nem de longe revela toda a verdade", afirmou. "Um real mais forte é antes de mais nada um ataque duplo ao setor exportador brasileiro que para além das tarifas já impostas terá que lidar com um câmbio menos competitivo."
Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, compartilha a mesma opinião, mas acrescenta que a prisão de Bolsonaro, isoladamente, não deve gerar grandes mudanças no mercado financeiro. "De forma prática, [a prisão] muda muito pouco. Dado que ambos os lados estão brincando de ver quem estica mais a corda, Bolsonaro descumpriu a ordem que ele tinha, e o Moraes mostra que está com poder e vai lá e aperta mais a corda dele", afirmou Marcatti.
A situação, segundo ele, pode mudar caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decida retaliar com o "tarifaço". As taxas impostas ao Brasil até o momento são de 50%, com a exceção de produtos como aeronaves.
Bolsonaro foi preso após descumprir, pela segunda vez, as medidas cautelares impostas por Moraes, segundo a decisão do ministro.
As restrições determinadas incluíam a proibição de utilizar redes sociais, seja diretamente ou por meio de terceiros. No entanto, o ex-presidente utilizou as redes sociais de seus aliados, incluindo seus filhos parlamentares, para divulgar mensagens que, segundo Moraes, incitavam ataques ao Supremo Tribunal Federal e apoiavam intervenções estrangeiras no Judiciário brasileiro.
Para o ministro, Bolsonaro tentou contornar de maneira intencional as restrições, utilizando aliados para propagar seus discursos, caracterizando uma tentativa de manter práticas criminosas. "A Justiça não permitirá que um réu a faça de tola, achando que ficará impune por ter poder político e econômico", enfatizou Moraes em sua decisão, destacando que as medidas cautelares devem ser cumpridas rigorosamente.
Além disso, a decisão de prisão foi acompanhada de uma busca e apreensão na residência de Bolsonaro, com a Polícia Federal apreendendo seu celular. As medidas de restrição, que já haviam sido estabelecidas anteriormente, como o uso de tornozeleira eletrônica e proibição de contato com autoridades estrangeiras, foram reforçadas diante do descumprimento das ordens judiciais.