Movida receberá investimentos bilionários da Simpar para a renovação de frota de veículos (Movida/Divulgação)
Bianca Alvarenga
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 18h03.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 18h06.
Calcular o preço de uma empresa na bolsa envolve, em boa parte, saber quais ativos ela detém e qual seu potencial de crescimento. Mas no caso da Simpar (SIMH3), holding que reúne companhias como JSL (JSLG3), Movida (MOVI3) e Vamos (VAMO3), a conta não tem sido tão simples assim.
Avaliada em menos de 9 bilhões de reais, a holding vale cerca de 45% da somatória do valor de mercado das empresas de capital aberto pertencentes ao grupo — isso sem contar as empresas que não são listadas, e cujo valor é um pouco mais difícil de estimar. Juntas, JSL, Movida e Vamos valem cerca de 20 bilhões de reais.
É natural que, na fórmula do mercado, holdings sejam avaliadas com um "desconto" em relação aos seus ativos. O problema é que, para a Simpar, a penalidade tem sido maior, principalmente considerando o desempenho das empresas. Em balanço referente ao quarto trimestre de 2021 divulgado ontem, 23, a empresa reportou um lucro líquido 70% maior do que no mesmo período do ano anterior. No fechado do ano, o salto foi de 150%, para 1,3 bilhão de reais.
"Não somos aquele tipo de controlador que fica apenas sentado e esperando receber os dividendos das empresas do grupo. É parte do nosso trabalho acompanhar de perto para garantir a execução do planejamento estratégico e para dar suporte aos executivos das controladas. Essa é uma formula de grande criação de valor", defendeu Denys Ferrez, diretor financeiro da Simpar, em entrevista exclusiva à EXAME Invest.
Embora as ações tenham se recuperado nos últimos meses, ainda há um grande "gap" a ser preenchido. De acordo com Ferrez, os investimentos de até 12 bilhões de reais programados para este ano e as sementes plantadas ao longo de 2021 devem ajudar nesta tarefa.
"Eu diria que dos 8 bilhões investidos no ano passado, o impacto até dezembro foi de cerca de 30%. Vamos usufruir do restante em 2022", pontuou o CFO.
Veja abaixo o desempenho das empresas do grupo Simpar na bolsa:
A maior parte parte dos investimentos bilionários programados para 2022 será destinada à ampliação da frota das empresas do grupo. No caso da Movida, o dinheiro deve ajudar a multiplicar o número de veículos em duas ou três vezes. Na Vamos, o volume de caminhões e máquinas será multiplicado por seis.
A estratégia é simples: ao mesmo tempo em que os investimentos ampliam a frota e a capacidade de receita das empresas, a compra de veículos ajuda a fortalecer o balanço de ativos. No segmento de locação, os ativos têm uma função dupla.
Os carros, máquinas e caminhões geram receita com a locação enquanto fazem parte da estrutura e, após algum tempo, são vendidos e transformados em liquidez para a aquisição de novos veículos e equipamentos. No caso da Movida, por exemplo, trata-se quase de uma relação 50/50: em 2021, a venda de ativos representou 49% da receita líquida total.
Obviamente, nem tudo são flores nesse caminho. A escassez de insumos na cadeia de montadoras causou uma explosão no preço dos veículos novos e seminovos. No segmento de caminhões e máquinas, a realidade não foi muito diferente. Essa pressão de custo pode impactar o resultado da Simpar ao longo deste ano, mas não é tratada como preocupante pelos executivos da empresa.
"Ao mesmo tempo em que fizemos investimentos recordes, conseguimos reduzir o nível de alavancagem da empresa. Além disso, o prazo médio da nossa dívida líquida, que era de 3 a 4 anos, agora está em 8 anos. A captação de bonds no exterior e a reesturutração de débitos no mercado local nos colocaram nessa posição robusta", explicou Ferrez.
Para este ano, o diretor financeiro da empresa diz que o financiamento do crescimento virá mais do mercado de crédito, dado que a janela para operações na bolsa não está tão favorável. Realizar o IPO de outros negócios da empresa, que ainda não são listados, ou organizar novas captações para as companhias abertas são uma estratégia complementar, na visão da Simpar.
Além do investimento que pode ser visto na vitrine — ou seja, aquele feito nas empresas listadas na bolsa —, Ferrez conta que há um foco grande no desenvolvimento do negócio de concessionárias, que não é listado na bolsa.
O plano começou a ser desenhado já em 2021: no ano passado, a Simpar adquiriu 20 lojas da UAB Motors, grupo que ocupava a terceira posição na lista de maiores concessionários do mundo, e mais 14 concessionárias da Sagamar, do grupo Saga, uma das maiores redes da região Nordeste.
As aquisições foram responsáveis por um aumento de 140% na receita do segmento de concessionárias, como mostra o balanço da Simpar. O número de lojas chegou a 47, e é provável que a empresa continue galgando posições na lista de maiores grupos de concessionárias adquirindo novas concorrentes. O plano, diz o CFO da Simpar, é ser o maior vendedor de veículos do país.
Por fim, a empresa deve concentrar esforços na ampliação do seu braço de concessões de infraestrutura. A CS Infra foi incorporada à Simpar no final de 2021, e por isso não houve contribuição financeira para o resultado do grupo. No ano passado, a empresa arrematou as concessões de dois terminais portuários na Bahia e de uma rodovia no Piauí
"O governo está preparando um pacote de infraestrutura e, caso tenha volume maior de concessões, sabemos que faltarão prestadores de serviço. Por isso, vamos também continuar investindo na construção paulatina de um portfólio de concessões que seja rentável no longo prazo", finalizou Ferrez, da Simpar.