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De olho no Fed, Copom pode acelerar ritmo de cortes em 2024, analisa SulAmérica Investimentos

Natalie Victal, economista-chefe da gestora, projeta que discussão fiscal pode ficar em segundo plano em meio às quedas de juros nos EUA

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos: gestora projeta Selic terminal de 9% ao ano em 2024 (SulAmérica Investimentos/Divulgação)

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos: gestora projeta Selic terminal de 9% ao ano em 2024 (SulAmérica Investimentos/Divulgação)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 14h00.

Última atualização em 14 de dezembro de 2023 às 15h22.

Na noite de ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu cortar a taxa básica de juros, a Selic, em mais 0,5 ponto percentual (p.p.), para 11,75% ao ano – uma decisão altamente esperada, mas que veio acompanhada de um comunicado conservador na visão de Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

“Ninguém esperava uma aceleração do ritmo de cortes nesta decisão de dezembro. Mas o comunicado tem um viés hawkish [favorável a juros mais altos] dada a reação do mercado à decisão do Fed, que mostrou projeções pró-corte de juros”, destacou Victal em entrevista à EXAME Invest.

Na tarde da véspera, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve a taxa básica de juros dos Estados Unidos inalterada, mas surpreendeu o mercado ao projetar três cortes no próximo ano – acima da projeção passada, onde apenas dois cortes eram indicados. Os mercados reagiram para cima, e aqui no Brasil, o Ibovespa caminha, inclusive, para superar sua máxima histórica.

Victal reforça que o cenário base da gestora ainda prevê um ritmo de cortes na casa dos 0,5 p.p. como indicado pelo Banco Central, mas vê espaço para uma mudança de cenário considerando tanto o cenário interno quanto as novas sinalizações do Fed. Abaixo, os principais pontos da entrevista: 

Para 2024, o Copom pode acelerar o ritmo de cortes ou deve manter o tom adotado neste último comunicado?

Natalie Victal: Atribuímos uma assimetria – uma probabilidade maior – de que o BC acelere o ritmo de corte de juros. No nosso cenário base, temos uma Selic terminal de 9% no ano que vem, cortando ao ritmo de 0,5 p.p., com um último corte de 0,25 p.p. para alcançar os 9% ao ano. Mas, vemos uma assimetria para chegar mais rápido nessa Selic terminal, mas há um risco relevante de acelerar esse ritmo. 

O que poderia levar o Copom a acelerar o ritmo de cortes?

Victal: Um fator é o cenário local: a desinflação pode ocorrer de forma mais rápida ainda que o BC esteja dizendo que o ritmo está em linha com a expectativa. Além disso, vemos uma atividade econômica brasileira que está desacelerando e, principalmente, um ambiente internacional pró-debate de corte de juros, especialmente nos Estados Unidos. É nesse ambiente que o Banco Central brasileiro vai navegar em 2024.

Voltando aos EUA: quando os juros devem começar a cair?

Victal: O Fed foi muito sensível à desaceleração da atividade econômica e não parece estar tão preocupado com o patamar atual da inflação. Como projetamos que essa desaceleração deve continuar daqui para frente, antecipamos a projeção de início do ciclo de corte para junho, mas há um risco relevante de que ela comece em maio. O mercado vê uma probabilidade de corte de juros nos Estados Unidos já em março, mas achamos exagerado.

E como os cortes por lá devem impactar a trajetória de juros no Brasil? 

Victal: Alguns economistas temiam que se o diferencial de juros ficasse muito latente isso poderia gerar uma desvalorização cambial e isso gerar um impacto negativo nas expectativas de inflação. Nós sempre fomos mais céticos quanto a essa interpretação. Mas agora que o Fed sinalizou o corte, essa questão perde força, já que a taxa de referência americana deve diminuir. Gera mais conforto para o BC acelerar o ritmo de corte ou até mesmo entregar taxas mais baixas do que as esperadas hoje pelo mercado em torno de 9,2% em taxa terminal – na SulAmérica esperamos 9% ao ano em 2024. 

Internamente o cenário fiscal ainda é uma preocupação ou esse debate ficou para trás?

Victal: O grau de tolerância com o timing do ajuste fiscal é diretamente proporcional ao apetite do investidor, em especial o estrangeiro. Em ambiente internacional benigno, o debate fiscal se torna mais secundário. Claro que não pode se fazer muita besteira, se não a questão retorna ao holofote. Mas com cenário internacional mais benigno, o governo ganha o benefício da dúvida e tem mais tempo para apresentar algum resultado fiscal mais construtivo. Não podemos abandonar a âncora, mas, tudo mais constante, o fiscal não deve impedir o Banco Central de continuar com o ciclo de cortes.

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