B3: na lista estão os três maiores frigoríficos do país - JBS, Marfrig e BRF (Rahel Patrasso/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de abril de 2020 às 08h15.
Última atualização em 1 de abril de 2020 às 08h25.
A forte queda do preço das ações na B3, a Bolsa de Valores brasileira, por conta da pandemia do novo coronavírus, estimulou um movimento de empresas para a recompra de seus próprios papéis em circulação no mercado.
No mês de março, 27 companhias registraram pedido de aquisição de suas ações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - volume cinco vezes maior que o observado em fevereiro.
Nesta lista, estão os três maiores frigoríficos do País - JBS, Marfrig e BRF -, construtoras, como Eztec, Trisul, Cyrela e Gafisa, além de bancos médios como Inter e BMG, além da própria B3. Como comparação, em todo o ano de 2019, 30 companhias abriram programas de recompra de ações.
Esse movimento é comum quando os mercados acionários perdem valor. Foi assim na crise global de 2008, durante a recessão de 2015 e logo após o Joesley Day, em maio de 2017, quando vieram à tona as gravações do empresário Joesley Batista, dono da JBS, com o presidente Michel Temer.
A operação de recompra, prevista na Lei das S.A., serve como estabilizador de preços das ações, explica Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto Advogados, um dos mais tradicionais escritórios de advocacia do País. "Esse movimento é uma aposta de que a empresa confia no seu negócio", disse. "Quem tem dinheiro em caixa pode avaliar a alocação de capital", disse.
"A queda (dos papéis) aumentou a atratividade de nossas ações", disse Marcelo Martins, vice-presidente de Finanças e Relações com os Investidores do grupo Cosan. "Nós temos consistentemente investido na recompra de ações em linha com nossa estratégia de que essa é a melhor forma de investir o nosso capital no próprio grupo. Tem sido assim nos últimos quatro anos, sem perder foco em disciplina e nível de alavancagem."
Nas últimas semanas, o escritório Mattos Filho tem recebido quase que diariamente consultas de empresas sobre essa operação, informou Vanessa Fiusa, sócia de mercados de capitais do escritório. "É um movimento bom para os acionistas porque, desde que haja recursos em caixa, é uma forma adequada para administrar o capital", disse.
Na semana passada, o vice-presidente financeiro do grupo de educação Ânima, André Tavares, afirmou em videoconferência com investidores que o ritmo de fusões e aquisições da companhia em meio à pandemia de coronavírus será avaliado ante o programa de recompra de ações. A ideia da companhia é pesar, de forma contínua, qual ação deve receber mais investimentos.
"É um momento em que precisamos ter mais clareza", afirma. De acordo com o executivo, a Ânima decidiu acelerar o programa de recompra de ações quando os papéis da companhia ficaram no patamar de R$ 18. Apesar disso, a Ânima "tem mantido diálogo" com as instituições candidatas a fusões e aquisições.
Após lançar o pacote de ajuda às companhias, na semana passada, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump também fez um alerta sobre oportunistas que querem sair no lucro em meio à pandemia.
"Recomendo que seja proibido fazer recompra de ações de sua própria empresa, para aumentar o valor delas", declarou o presidente norte-americano. Aqui no Brasil, por enquanto, não há nenhuma recomendação neste sentido.
Aquisições por meio de ações. Com mais ações em tesouraria, as empresas poderão dispor de um volume maior de papéis para serem oferecidos em caso de uma fusão ou aquisição, lembra Bertoldi, do escritório Pinheiro Neto. "Depois que a crise do coronavírus passar, parte das empresas que fizeram a recompra pode utilizar no futuro essas ações como moeda de troca numa fusão ou aquisição sem a necessidade de fazer o desembolso da transação em dinheiro."