IPO é comemorado pelos sócios Xuxa Meneghel, Paulo Morais, Ygor Moura, Tito Pinto e José Carlos Semenzato junto ao presidente da B3 Gilson Finkelsztain (@cauediniz/B3/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 13h49.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2021 às 19h38.
É raro encontrar alguém ao mesmo tempo vaidoso e discreto. Ao cuiabano Ygor Moura as duas características se aplicam perfeitamente. E elas ajudam entender como este dermatologista montou a maior a maior rede de depilação do mundo, a Espaçolaser, que estreou hoje (1/2) na B3 com alta de 17,21% e encerrou seu primeiro pregão negociada a 20,98 reais. A companhia precificou sua oferta inicial a 17,90 reais por ação e levantou 2,64 bilhões de reais (o código dela é ESPA3).
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Avesso aos holofotes, Moura, dono de 32,65% da Espaçolaser, resolveu apostar na medicina estética no final dos anos 1990. Ou melhor, na “estética na medicina”, como prefere, por não se tratar de uma especialidade como psiquiatria e pediatria. Filho de um radiologista respeitado, decidiu-se pela medicina para repetir os passos do pai. Mas seu lado comunicativo falou mais alto. Ele ia aguentar se manter nos bastidores dos hospitais, aos quais os radiologistas estão condenados, com quase nenhum contato com os pacientes?
Acabou batendo o martelo na dermatologia logo após participar de um congresso da área no Rio de Janeiro. “Como muita gente na época, achava que boa parte dos procedimentos estéticos não passavam de charlatanismo”, ele me disse há alguns anos. “Ali descobri que havia seriedade nesse meio e resultados concretos. E percebi que era um segmento que seguramente ia crescer. Os brasileiros são muito vaidosos”. (Em tempo: em respeito ao chamado período de silêncio que antecedem IPOs, ninguém da Espaçolaser colaborou com esta reportagem).
Radicado em São Paulo desde 2000, Moura se especializou em dermatologia na cidade. Montou um consultório em Moema e passou a oferecer procedimentos como peeling, preenchimento e aplicação da toxina botulínica, o famoso botox. Por 180 mil reais, comprou de outro dermatologista uma máquina para depilação a laser, tecnologia disponibilizada comercialmente a partir de 1995. Do total, 100 mil reais foram pagos com um empréstimo que um avô lhe concedeu. O restante dividiu em quarenta parcelas semanais, quitadas sempre às terças.
Fascinado pela aquisição, Moura viu nela uma chance de revolucionar o mercado de estética no país. Daí para montar a Espaçolaser, em 2002, em conjunto com Paulo Morais, advogado de formação, e o empresário Tito Veiga, foi um pulo. “Diferentemente de todos os outros procedimentos estéticos, a depilação a laser oferece resultados incontestáveis”, afirmou Moura, há alguns anos (ele recorreu aos serviços da empresa que fundou para retirar os pelos do peito e definir os limites da barba).
Hoje a Espaçolaser tem mais de 500 unidades no Brasil, muitas delas em shoppings, e o faturamento, no ano passado, até setembro, foi de 952 milhões de reais. Para tirar a primeira filial do papel, no entanto, não foi fácil. É a do MorumbiShopping, em São Paulo. Que levou três meses até dar o aval para a instalação de um estabelecimento dedicado à depilação em suas dependências. Na visão do centro de compras, um negócio como a Espaçolaser não combinava com as demais lojas.
Reza a lenda que, certo dia, uma frequentadora entrou na primeira filial (a matriz era o consultório em Moema) com um carrinho de bebê. E decidida a deixá-lo ali enquanto batia perna no shopping. Quando viu que não era possível, protestou: “Ué, mas não é espaço de lazer?”.
Não fosse o sucesso, momentâneo, daqueles sites de compras coletivas, como Peixe Urbano e Groupon, a Espaçolaser não seria o que é. Por meio deles, que oferecem promoções tentadoras, a rede se multiplicou em poucos anos.
Em 2015, a companhia ganhou novo fôlego com a chegada, no quadro societário, de José Carlos Semenzato, fundador da rede de cursos profissionalizantes Microlins, sócio de vários negócios e um dos investidores do Shark Tank Brasil. Foi quem trouxe a sócia mais ilustre, Xuxa Meneghel. Que só teria topado entrar no barco depois de testar uma daquelas máquinas a laser. A depilação teria sido testada e aprovada pela Rainha dos Baixinhos, pela filha, Sasha Meneghel, e por Mônica Muniz, a empresária da apresentadora.
Em 2017, o fundo de investimentos L Catterton, que controla a rede americana de spas médicos Ideal Image e os supermercados St Marche, entre outros negócios, abocanhou uma fatia cerca de 40% da Espaçolaser. Foi o que permitiu à companhia chegar ao tamanho atual e a bater na porta da bolsa. Decidida a fazer ainda mais fortuna com a vaidade dos outros.