Cobre (Monty Rakusen/Getty Images)
Após as fortes altas dos últimos meses, as commodities continuam em destaque, mas desta vez pelo motivo oposto.
A curva descendente que as commodities vêm tomando há um tempo está deixando os mercados aliviados de um lado, pela redução da inflação, mas preocupados do outro, por causa dos sinais de recessão.
A tendência do petróleo é muito clara. O petróleo tipo Brent - referência para a Petrobras (PETR3) aqui no Brasil - caiu abaixo de US$ 95 o barril na semana passada, pela primeira vez desde que a Ucrânia foi invadida pela Rússia.
Mesmo se nos últimos dias voltou para uma cotação por volta de US$ 103 por barril, a tendência da commodity parece de queda.
Uma tendência que é comum a quase todas as matérias-primas, com exceção do gás, cujos preços na Bolsa de Amsterdã permanecem bem acima de 150 euros por megawatt-hora.
Isso pois a Rússia é uma grande produtora de gás, e a maior fornecedora da Europa. E o presidente russo, Vladimir Putin, está utilizando essa matéria prima como instrumento geopolítico para pressionar os países europeus no âmbito da guerra da Ucrânia.
Gás à parte, todas as outras principais matérias-primas vêm registrando preços em queda.
O Bloomberg Commodity Index, indicador que reúne as cotações das commodites, principalmente energia e grãos, caiu 9% na semana passada.
O caso mais marcante é o do cobre, que nos primeiros dez dias de junho estava por volta de US$ 10 mil a tonelada, e poucos dias depois despencou para US$ 7,2 mil a tonelada, retornando aos níveis de outono de 2020.
O cobre, no jargão financeiro, é apelidado de "doutor cobre", pois é uma das matérias-primas mais importantes para a indústria de transformação, e por isso é considerada precursora dos ciclos econômicos.
O cobre está em todos os setores, da construção civil até produtos para a transição ecológica.
Por exemplo, os veículos elétricos usam quatro vezes a quantidade de cobre necessária para carros com motor de combustão interna.
Ou também toda a infraestrutura para recarregar as baterias, que necessita, em média, de 8 kg de cobre.
Em outras palavras, se a cotação do cobre despencar, significa que as empresas não o compram e não estocam o mineral porque acham que a economia está desacelerando.
Vice-versa se o preço aumentar, a economia está cada vez mais aquecida.
Para muitos analistas, a tendência do cobre está antecipando uma recessão.
A Bhp e a Rio Tinto , duas gigantes do setor de mineração, alertaram de forma semelhante sobre as perspectivas de negócios para o próximo ano, especialmente agora que os materiais ferrosos, item principal de seus balanços , estão caindo abaixo de US$ 100 por tonelada pela primeira vez no ano.
Em um relatório recente, o Bank of America (BOAC34) salientou como "depois de atingir preços recordes no primeiro trimestre de 2022 os preços do cobre caíram profundamente. A queda foi provocada inicialmente pelos lockdowns na China, mas em seguida apareceram preocupações sobre uma contração global da economia. Embora uma retomada da atividade econômica na China possa sustentar os preços no curto prazo, tememos que uma oferta crescente e a crise energética possam trazer novos ventos contrários para o setor em 2023".
No cenário-base, o BofA estima que os preços do cobre possam cair para US$ 6 mil a tonelada nos próximos meses.
Entretanto, no cenário em que a Europa ficasse sem gás, hipótese que a Comissão Europeia já está considerando seriamente, as cotações do cobre deveriam para $ 4,5 mil.
Se a queda das cotações das commodities parece antecipar uma recessão, também é verdade que uma redução nos preços poderia aliviar a pressão inflacionária, alimentando a esperança de que o pico já foi superado.
Entretanto, existe o risco que outros solavancos nos preços das matérias-primas, provocados pelos efeitos da crise na Ucrânia, possam levar novamente para o alto os preços das matérias primas. Criando o cenário mais sombrio previsto pelos analistas do mundo todo: o da estagflação.