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Citi busca ações no exterior e vê Ibovespa em 53 mil pontos

Banco está desanimado com a bolsa brasileira e recomenda ficar fora do mercado de ações local


	Citibank: Moraes explica que a alta das taxas de juros no Brasil acaba afetando os preços das ações, uma vez que o custo é considerado no cálculo a valor presente dos papéis
 (Spencer Platt/Getty Images)

Citibank: Moraes explica que a alta das taxas de juros no Brasil acaba afetando os preços das ações, uma vez que o custo é considerado no cálculo a valor presente dos papéis (Spencer Platt/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2014 às 10h04.

São Paulo - Bem desanimado com a bolsa brasileira. Essa é a visão de Ennio Moraes, diretor-executivo de investimentos do Citibank no Brasil. O banco, que está recomendando ficar fora do mercado de ações local, até chegou a comprar alguns papéis quando o Ibovespa chegou perto dos 46 mil pontos, mas sem grande entusiasmo. “No cenário atual, 53 mil pontos em 12 meses seria um nível justo”, afirma. Levando em conta o nível atual do Ibovespa, de 47.100 pontos, essa projeção significaria uma alta de 12,5%.

Moraes explica que a alta das taxas de juros no Brasil acaba afetando os preços das ações, uma vez que o custo é considerado no cálculo a valor presente dos papéis. Isso porque as ações teriam de custar menos hoje para subir mais e para compensar o rendimento maior da renda fixa no mesmo período. E a situação deve perdurar ainda por um bom tempo, alerta o especialista.

As preocupações seguem com a área fiscal e a inflação. Há ainda o risco de um rebaixamento da nota de crédito brasileira pelas agências internacionais, o que pioraria os fundamentos do país. E isso tudo levou a uma piora geral nos ativos brasileiros.

EUA melhora

Ao mesmo tempo, a visão sobre a economia dos EUA é positiva, com o país retomando o crescimento de forma consistente. O Citi acredita que há boas oportunidades em ações americanas, e está oferecendo aos clientes opções de investimento no exterior a partir de fundos no Brasil. “Temos um fundo que aplica em ativos do Índice Standard & Poor’s em reais e outro de ativos diversificados, incluindo emergentes, que usam a plataforma global do Citi no exterior”, explica.

O problema desses fundos é que a aplicação mínima é de R$ 1 milhão, pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que limita o acesso de muitos investidores. Por isso, o banco planeja agora criar um fundo com 20% de aplicações em ações no exterior, o chamado 80/20, destinado a clientes qualificados, com mais de R$ 300 mil para investir.


Europa e emergentes no foco

As opções que Moraes vê hoje estão nos Estados Unidos, na Europa e em alguns emergentes menos afetados pelo ajuste que a retirada dos incentivos ao mercado nos EUA provocará na liquidez internacional. Entre os emergentes estão Taiwan e Coreia do Sul. Na Europa, o destaque é o Reino Unido, que está retomando o crescimento e deve ser o primeiro país da região a subir os juros, o que vai valorizar a libra e os ativos ligados a ela. O Citi escolheu o banco Barclays como aposta na região.

Arbitragens com desenvolvidos

Além disso, o banco procura ações que permitam fazer arbitragens com essas regiões, como de empresas europeias com negócios no Reino Unido ou nos EUA e que estão subavaliadas pela situação macroeconômica de seus países. “É uma forma de comprar ações mais baratas que na bolsa americana para aproveitar a recuperação do país”, explica.

Diversificação também em moedas

A estratégia permite uma diversificação importante para o investidor brasileiro, não só em ações, mas em moedas de países desenvolvidos também, observa Moraes.

Já os mercados emergentes estão em situação mais delicada, por conta de seus déficits externos de contas correntes e seus desajustes fiscais. “O ano deve ser de turbulência para esses países em situação mais complicada”, diz. O Federal Reserve, banco central americano, observa Moraes, não parece muito preocupado com o impacto de seu ajuste nos demais países. E logo deve começar a discussão sobre a subida dos juros, prevista para começar em meados de 2015. “Estamos assistindo a uma retomada diferente da economia”, observa o executivo, lembrando que, nos últimos anos, o crescimento era puxado pelos emergentes, situação que mudou e, agora, os países em desenvolvimento vão sofrer um pouco, alerta. “Mas não é o fim do mundo, e os países que estão fazendo suas reformas devem avançar mais”, diz.


Infelizmente, o Brasil está entre os emergentes mais atrasados em termos de reformas, segundo levantamento feito pelo Citi. Isso fez o México se distanciar do Brasil.

Ajuste estrutural

O processo todo, diz Moraes, é um ajuste estrutural do mundo, que passa de uma situação de termos de troca favoráveis para os emergentes, com commodities em alta e nações desenvolvidas com problemas, para uma relação mais baseada na produtividade e nos fundamentos de cada economia. “Quem surfou na onda da liquidez, emergentes ou desenvolvidos, vai ter de se ajustar”, diz. Moraes observa que o setor privado americano teve de fazer um ajuste que reduziu em 30% seu endividamento após a crise de 2008. Já o Brasil está atrasado nesse processo de ajuste, por isso vai sofrer um pouco mais.

Oito ou oitenta

Moraes observa também que, se no ano passado os preços dos ativos subiram, sem refletir os fundamentos piores, neste ano também a queda pode estar sendo exagerada. “A situação não é tão ruim assim”, diz. Por isso, o banco aproveitou a queda mais forte da bolsa para comprar um pouco mais de ações. “Mas, para aumentar a carteira de maneira consistente, é preciso que o país faça as reformas”, diz.

Ver para crer

Sobre a proposta de ajuste fiscal do governo, de corte de R$ 44 bilhões em despesas e superávit primário de 1,9% do PIB, Moraes acha que ela é boa, mas o problema é a confiança. “O governo fez promessas no passado que não foram cumpridas, como o superávit primário de 2013, que foi de R$ 75 bilhões, mas, se retirarmos as receitas extraordinárias, cai para R$ 10 bi”, afirma.


Dúvida nos juros reais

Mesmo os juros de quase 7% ao ano mais inflação pagos pelos papéis de longo prazo do Tesouro (NTN-B), ou prefixados (LTN) perto dos 13% ao ano, podem não ser tão seguros assim. “Eles chegaram a bater 7,5% ao ano, mas, enquanto não houver visibilidade sobre os próximos passos do governo, não queremos arriscar alongar muito os prazos”, afirma. Por isso, o banco recomenda aos investidores ficarem em renda fixa mais curta, de dois ou três anos. “O mercado todo acredita em um ajuste fiscal e de juros após as eleições deste ano que pode levar a Selic a 12%”, diz.

Inflação contratada

Há ainda a preocupação com a chamada inflação contratada, aquela que tem previsão de acontecer, caso do custo da energia por conta da falta de chuvas, ou do ajuste da gasolina e do diesel e dos pedágios e das tarifas de ônibus que foram adiados no ano passado. “Temos uma inflação contratada na faixa de 1,5% a 2%, sem contar com o risco de racionamento de energia, que terá impacto em toda a economia”, afirma.

Há ainda o risco de racionamento de energia pela falta de chuvas. Em 2001, segundo estudo do Citibank, o choque do racionamento nos preços acabou sendo de 2 pontos percentuais, uma vez que a falta de energia reduz a produção e aumenta os preços.

Hora das pechinchas

Moraes diz que o momento é de incerteza, mas é possível aproveitar as quedas para comprar papéis mais baratos. “Existem exageros, como quando o Ibovespa bateu os 46 mil pontos”, observa. O mesmo ocorre com os papéis de renda fixa. “Mas sempre ficando no curto prazo”, recomenda. A opção de investimento mais longa são os ativos internacionais, que reduzem o risco concentrado em Brasil.


Exportadoras e boas de caixa

Nas ações brasileiras, as oportunidades ficam em papéis de forte geração de caixa, como a CCR ou Ecorodovias, alimentos e bebidas, como Ambev e Brasil Foods, e exportadores, como a Vale e Alpargatas, que vão ser beneficiados pela desvalorização do real e a alta do dólar.

O que observar

Sobre que sinais do mercado o investidor deve olhar, Moraes sugere ficar atento à recuperação global, mas especialmente ao comércio internacional. “O comércio não está crescendo, o que quer dizer que os países desenvolvidos estão importando menos, e em algum momento esse comércio vai voltar a crescer”, diz.

Outro fator é a eleição presidencial, que este ano volta a ser importante. “Teremos mudanças das forças políticas, com distribuição de cargos e nomeações para garantir os acordos, além da falta de credibilidade fiscal”, diz.

Jogo está em 2015

O cenário de 2015 também é importante, pois deve trazer um choque de juros e de corte de despesas. “A piada no mercado é, se você acha 2014 ruim, aproveite, porque em 2015 poderá ter saudades.” O futuro dos investimentos, portanto, vai depender muito do que o novo governo vai fazer. Se as medidas forem corretas, o juro futuro pode cair e os preços das ações estarão baratos. Caso contrário, continuarão caros. “Dependendo do cenário, temos uma relação entre o preço da ação e seu lucro de 5 ou 13 vezes, é muita coisa”, explica.


Para quem não quer correr o risco de ficar fora do mercado acionário e perder uma eventual recuperação, a sugestão de Moraes é o mercado de opções. Nele, o investidor pode comprar um papel por um preço definido hoje, caso o valor esteja mais alto, ou desistir da operação se a cotação estiver mais baixa.

China ajuda emergentes, mas com riscos

Sobre a China, o Citibank acredita que o país vai conseguir manter o crescimento da economia em mais de 7% ao ano, o que dará um alívio para os emergentes. “Mas há problemas no sistema financeiro, especialmente com os trustes (fundos que compram papéis emitidos por empresas e vendem cotas para investidores pessoas físicas, sem a supervisão das autoridades bancárias), e pode ser que o governo deixe algum deles quebrar para servir de exemplo, provocando mais nervosismo no mercado”, diz. Existem ainda problemas como a alta alavancagem das empresas chinesas do setor imobiliário, que terão de reduzir seu endividamento, e a rolagem de dívidas de províncias e governos regionais.

Europa ainda sob pressão

Já na Europa, a situação ainda é delicada. Houve uma liberação do ajuste fiscal que permitiu às economias voltarem a crescer um pouco no ano passado. Mas o endividamento público ainda não está caindo, o que deve manter a pressão sobre os governos e limitar o crescimento, com risco de uma recaída da recessão. “O BCE está tentando de todas as formas desvalorizar o euro, por isso, vemos uma política de juros baixos na Europa por um bom tempo ainda, com taxas perto de zero ou até negativas, inflação muito baixa e retomada econômica lenta e longa”.

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