Walter Maciel, CEO da AZ Quest: "Nos próximos quatro anos, o Brasil deverá alcançar uma produção de petróleo equivalente à da metade da produção da Arábia Saudita"" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 20 de janeiro de 2024 às 07h45.
Última atualização em 20 de janeiro de 2024 às 12h38.
O mercado está subestimando o preço do real. Esta é a percepção de Walter Maciel, CEO da AZ Quest, gestora independente com R$ 24 bilhões investidos. Otimista com o rumo da economia local, Maciel avalia que há uma tendência de valorização da moeda local pelo fortalecimento das exportações brasileiras.
"Minha preocupação com o real para daqui a cinco anos é perdermos competitividade. Por exportar tanto, o real pode começar a se valorizar demais, talvez ir para [uma relação de] 1 para 1 [frente ao dólar] daqui a cinco anos", afirmou Maciel em entrevista recente à Exame Invest.
Essa valorização do real, segundo Maciel, geraria um "problema bom". "Aí o Brasil precisaria começar a comprar dólar para desvalorizar o real, aumentar suas reservas e criar um fundo soberano. Acredito que estamos em um caminho espetacular."
Para este ano, Maciel espera ver o dólar cair para perto de R$ 4,30 até o fim do ano. A projeção é bem mais otimista que a do restante do mercado. O consenso, de acordo com o boletim Focus, é de R$ 4,95 para 2024 e de R$ 5,00 ou acima para os próximos anos.
A perspectiva mais otimista de Maciel não é de agora. Ainda no fim de 2022, o CEO da AZ Quest chegou a afirmar em entrevista à Exame Invest que o dólar tinha "muito mais cara de R$ 4 do que de R$ 6". A projeção se mostrou correta, com o dólar fechando 2023 na casa dos R$ 4.
Alguns fatores devem contribuir com a valorização do real daqui para frente, segundo Maciel. As principais forças nessa equação, disse, deverão ser as exportações de grãos e petróleo.
"Nos próximos quatro anos, o Brasil deverá alcançar uma produção de petróleo equivalente à da metade da produção da Arábia Saudita. É uma combinação muito forte. O petróleo e o agronegócio deverão levar o Brasil a ter saldos crescentes externos muito grandes", afirmou Maciel.
Essa melhora do saldo comercial, afirmou, foi o que transformou a Noruega, a China e os Emirados Árabes. "Todo mundo que teve saldo comercial muito forte fortaleceu seu setor exportador e esse dinheiro passa a se espalhar por outros setores. O Brasil em cinco anos será irreconhecível."
Maciel, no entanto, ressaltou que toda essa perspectiva favorável pode se esfarelar, dependendo da condução fiscal, que ainda considera um ponto de fragilidade da economia brasileira. "O Brasil entrou na pandemia com uma relação dívida/PIB 30 pontos percentuais (p.p.) acima da média dos emergentes. Essa relação caiu para 20 p.p., mas ainda é muito."
Assista à entrevista com Walter Maciel, CEO da AZ Quest, na íntegra.